I




　Algumas situações mostram a necessidade de uma atenção extra para serem resolvidas. Aquela, acima de tudo, havia sido tomada como causa pessoal. A Folha contava com uma porção de shinobi com destaque nas mais variadas áreas e vertentes, diversas graduações para que pudessem ser avaliados de forma mais precisa e também cargos dentro da sociedade que os atribuíam funções especificas. Existia um cargo em especial que sempre atraiu a atenção do jovem rapaz de cabelos enegrecidos. A Força Policial da Folha era responsável direta pela proteção e estabilização dos ares pela aldeia, sendo a primeira linha de defesa e uma espécie de ponte entre a liderança e o povo. Mas de suas funções, a que despertava o interesse de Saito era a investigativa.

　　O garoto possuía sim ferramentas para lhe auxiliar em um combate direto, mas seu ponto mais positivo era a capacidade de evita-lo usando de informações precisas e analises minuciosas adquiridas durante sua vida. Entretanto, o mais próximo que chegava de se tornar um aspirante era o laço de amizade que tinha com um dos sargentos da corporação. Kayoshi serviu de mentor para Saito na época de academia quando ainda era professor e tinha ligação direta com a formação de Saito na mesma. A trajetória do rapaz na Policia da Folha começou ali.

II




　Numa manhã rotineira onde os fastidiosos - embora tão amados - trabalhos provenientes dos anciões haviam sido temporariamente se acabado, Saitou destinou-se até a residência de seu velho mentor. Quase como um ritual, em dias nos quais ambos se viam livres das obrigações que lhes era impostas, comumente se viam para dividir um chá e colocar como consequência os assuntos em dia. O sol iluminava incessantemente toda a paisagem da Folha, lutando bravamente com as muitas arvores que o impediam de tocar o solo em determinados pontos. Saito trajava nada mais que calças de uso padrão com sandálias de mesma competência, acompanhadas de uma única camisa de malha, quase que transparente. Estava a vontade.

　　O clima apenas tornou-se outro no instante em que avistou, no fim da rua onde Kayoshi residia, muita comoção e murmúrio. Aparentemente havia acontecido algo nas localidades, o que não o alarmou num primeiro instante. Todavia, o caso remetia ao seu amigo e só deu-se conta disso quando atentou-se ao fato de um fluxo intenso de policiais entrando e saindo da residência do mesmo. Sem pestanejar ou perder o mínimo de tempo, avançou em alta velocidade na direção do lugar, tendo de frear num deslize ao que o fez.

　　— Kayoshi-sensei! — Bradou ao esgueirar-se por entre aspirantes que falharem em lhe parar na entrada.

III




　O ambiente bem organizado e limpo deixou espaço para destruição. A visão que tinha era de que um furacão havia se acometido contra o interior da casa de Kayoshi. Como se já não bastasse, pelo chão marcas de sangue e logo aquilo se tornou uma clara cena de crime com luta, mas que fim teria tido? Um dos membros da policia passou a destra pelo pescoço do rapaz enquanto se distraia em sua analise e o afastou da casa restringindo seus movimentos. Entre gritos inexprimíveis o garoto foi apartado e viu suas vistas se escurecerem gradualmente enquanto perdia seus sentidos, não sem antes notar a chegada de dois shinobi encapuzados. Eram os ninjas da ANBU.

　　Enquanto desmaiado teve a impressão de sonhar com uma lembrança de quando era mais novo e seu mentor chegara para lhe falar acerca de como havia insistido com seus superiores para que Saito pudesse ter uma chance de graduar-se. Ao que recobrou a consciência e despertou, viu-se em um beco deitado no chão sendo velado por um dos policiais da corporação que tanto admirava. O sujeito tinha cabelos acinzentados e uma expressão apática. Sentava-se sobre um saco feito de pano cheio do que julgou ser trigo e detinha em sua mão uma maçã já mordiscada diversas vezes. Sua atenção estava inteiramente nela.

IV




　Saito manteve-se em sua plena quietude por um instante, tentando encontrar o momento ideal para realizar um movimento súbito e rápido o suficiente para desvencilhar-se de qualquer que fosse o meio que utilizaria o policial a fim de para-lo uma vez mais. Por sua mente apenas o pensamento de preocupação acerca do que poderia ter acontecido do Kayoshi e nada mais lhe importava, se mantinha alheio a todas as outras coisas. Todavia, antes mesmo que conseguisse enxergar a brecha perfeita, movendo não mais que um musculo de maneira minima, perdeu completamente de vista o sujeito. Não havia entendido nada.

　　— Só uma demonstração da velocidade de um Comandante da Força Policial da Folha. Não tente fugir e poupe energia — O sujeito estava sentado em outro saco, alguns metros atrás de Saito, que só sabia disso por ter uma ideia vaga de onde vinha a voz do sujeito.

　　— O que raios aconteceu com Kayoshi!? Por quê não me deixou averiguar toda a situação!? — Em meio a brados raivosos o garoto se levantou e virou-se para o tal Comandante.

　　— Vamos fazer isso direito, Saito — Por algum motivo ainda desconhecido, o homem sabia seu nome — Me chamo Kuro. Sou Comandante da Policia e responsável por Kayoshi. Somos amigos de longa data.

V




　O aparente desleixo para com a situação ainda confusa no que conferia ao caso por parte do sujeito chamado Kuro fez cada fibra do corpo de Saito se enrijecer em fúria. Não bastasse tal fator, o homem de cabelos acinzentados amante de maçãs teve a falácia de dizer que havia entre ele e Kayoshi uma amizade e, acima disso, uma responsabilidade profissional.

　　— Você chama Kayoshi-sensei de amigo, diz se responsabilizar por ele e espera que eu entenda o que exatamente? — O garoto ainda não havia encontrado em seu âmago a paz que era exigida por Kuro naquele momento.

　　— Eu disse pra fazermos isso direto! — Pela primeira vez naquele encontro houve um elevar grosseiro de voz por parte do Comandante — Você quer respostas e merece elas. Mas antes nós iremos conversar como duas pessoas adultas!

　　Não havia maneira de negar que naquele momento o tão confiante e imponente Saito sentiu-se apavorado. Não demonstrou muito mais que uma expressão confusa em resposta ao brado do sujeito, mas certamente recobrou sua razão e definiu aquele como sendo o momento de buscar em seu intento a calmaria que outrora Kayoshi tentou com tanto afinco lhe implantar.

　　— Certo. Façamos do seu jeito — Saito se aproximou vagarosamente do homem e sentou-se paralelo ao mesmo sobre um saco de pano abastardo de grãos — O que aconteceu?

VI




　O orgulho próprio que Kuro estampou em sua face era para o rapaz uma ofensa. O sujeito realizou um simples movimento com o ombro e lançou por metros a maçã que vinha se dispondo a comer enquanto conversavam, ou pelo menos tentavam. Saito mantinha seu olhar fixo e carregado de amargura fantasiada de ódio e ainda aguardava ansioso pela resposta mais direta possível com relação aos acontecimentos sucedidos.

　　— Uau! — Disse Kuro enquanto passava a língua entre os dentes laterais e a parte interna de sua bochecha, retirando de lá os resquícios da fruta — Você não tem paciência mesmo, não é? Já pensou que talvez essa mania de ir direto ao ponto é o que pode estar atrasando você.

　　Aos ouvidos do tokujo aquilo não carregava o menor sentido, pelo contrário, Saito julgou como sendo a maneira mais baixa e vexatória de prolongar um dialogo que poderia ser resumido de maneira simples. Por mais que considerasse em sua mente uma boa parcela de xingamentos para derramar sobre o ego de Kuro, o jovem rapaz manteve-se em silêncio permitindo que o homem terminasse o monologo.

　　— Na verdade, a situação é realmente delicada e pede muita precisão. Antes de te deixar a par do que você quiser saber, eu quero que me diga o que você absorveu da cena que viu na casa de Kayoshi antes que eu te tirasse de lá.

VII




　Uma sobrancelha se arqueou e ficou mais alta com relação a outra, deixando transparecer a confusão que brotou em sua mente. Não fazia sentido levantar aquele questionamento, ao menos aos olhos do tokujo, mas viu ser necessário tornar público já que havia sido imposta uma troca.

　　— Não pude ver muita coisa, mas o suficiente pra me preocupar com Kayoshi-sensei — Enquanto falava, buscava em sua mente imagens claras do que viu — Primeiro eu acreditei se tratar de uma tentativa de roubo por conta de todas as coisas estarem reviradas, mas não ver o sensei me fez mudar de ideia. Tenho certeza que ele estaria presente ao menos para realizar uma contagem e apontar os itens roubados.

　　Os olhos de Kuro brilhavam enquanto ouvia as palavras de Saito. Em tão pouco tempo o rapaz conseguiu analisar e descartar ao menos uma de suas hipóteses. Era um gênio?

　　— Depois assumi que havia acontecido ao menos uma luta ali, mediante a quantidade de sangue pelo lugar, provavelmente alguém saiu ferido — O garoto fez uma pausa como se relutasse em completar a análise — O que me leva a um último ponto. Se ouve uma luta e alguém ferido, deveriam ser chamados os medinins e não os caçadores da ANBU. Provavelmente tudo que a policia tem é o cenário. Kayoshi-sensei desapareceu e a pessoa ou grupo que o atacou também.

VIII




　Kuro se levantou tão rápido que poderia facilmente ser declarado como o Relâmpago da Folha. Para completar, sua face estendia de ponta a ponta um sorriso de aprovação assustador, seus olhos estavam arregalados como se estivesse diante da coisa mais estupenda já revelada pelo mundo e não obstante, batia palmas lentas e temerosas na direção do garoto.

　　— Três de meus melhores sargentos levaram mais de dois minutos para analisar dessa forma a casa de Kayoshi. O restante nem ao menos percebeu tudo isso - Só naquele momento Saito percebeu o interesse de Kuro em suas habilidades. Não havia uma preocupação tão grande assim com seu sensei — Você a partir de agora vai ser um aspirante e vai trabalhar no meu contingente. Pegue suas coisas quando puder e una-se ao quartel general.

　　Saito estava tão preocupado com Kayoshi que nem ao menos se deu ao luxo de ficar feliz por sua conquista tão almejada estar sendo alcançada. Apesar de sua fúria dissimulada, acenou com a cabeça e prontificou-se para o trabalho. Estava mais do que enraizada em sua mente a ideia de que usaria aquela profissão para encontrar Kayoshi e entender o que vinha acontecendo. Não tinha a menor intenção de fracassar e nem perderia tempo.