Era do conhecimento de Saito que Tsurugi possuía capacidades físicas muito superiores. Já o tinha visto em ação antes e não seria tolo de enfrenta-lo em um combate direto se sua vida dependesse de vence-lo. Todavia, para fins de treinamento, não existia oponente melhor do que aquele. O jovem de cabelos brancos certamente faria com que o Policial despendesse de toda a sua força e velocidade para equilibrar minimamente o combate, da mesma forma que era da ciência dos dois ali que existiam duas balanças, e porquanto duas medidas.

Em contrapartida a superioridade física de Tsurugi, Saito possuía um arsenal abarrotado de técnicas ilusórias das quais nem todos os shinobi conseguiriam evadir. O foco, em todo caso, era no embate e não havia tempo para creditar um ou outro por suas capacitações. Saito viu seu ataque ser completamente evitado e antes que pudesse complementa-lo foi lançado para cima. No alto, teve tempo apenas de visualizar o oponente o acompanhar e naquele intervalo teve de pensar num meio de defender-se. Tateou sua gravata com os olhos firmes em seu adversário, de maneira que pela movimentação do mesmo e fazendo uso de seu intelecto, acreditou vir um ataque direto ao seu rosto na próxima investida inimiga.

No instante em que julgasse como tempo limite para desviar, Saito inclinaria o tronco para trás utilizando o próprio eixo de seu corpo para tal a fim de deixar que o punho de seu oponente passasse direto sem acertar seu rosto. Antes que Tsurugi pudesse recuar o braço outra vez, Saito buscaria utilizar da gravata em suas mãos para enrolar o pulso de seu adversário e girando o corpo para compensar a falta de força, tentaria lança-lo como uma pedra em um estilingue contra o solo.

Enquanto Tsurugi se pronunciava, Saito ruía ao solo em um pouso esplendido flexionando seus joelhos para amortecer o impacto e causando muito menos estrago que o de cabelos brancos - na realidade, não propôs mais que uma brisa levantando centímetros de poeira e afastando algumas folhas - logo levantou-se e sorriu.

— Ora — Saito colocou a destra na cintura — Não fale como se eu não estivesse evitando transformar o seu pequeno cérebro em geleia também! — O garoto sorriu. Mesmo que estivessem se provocando, o clima era amigável e tudo virava motivo de risada.

Com o adotar de uma postura por parte de Tsurugi, Saito resolveu fazer o mesmo e precaver-se de futuros ataques. Afastou sua perna esquerda pouco mais atrás e flexionou os joelhos para que pudesse se mover com velocidade máxima no momento certo. Segurou uma extremidade da gravata com a destra e deu uma única volta - fez o mesmo com a canhota esticando o tecido e preparando-se para usa-lo novamente como arma.

O avanço que vislumbrou era magistral e o deixou orgulhoso, mas não desatento. Analisou como pode a postura adotada por Tsurugi e ponderou acerca do que poderia fazer. Tinha duas estratégias previas em sua mente. Abaixou-se completamente realizando um espacate enquanto tocava com a barriga no solo. Na sequência, ao fim do ataque em cadeia de Tsurugi, Saito buscou efetuar um salto mortal sobre o adversário de maneira que num momento exato estivesse com as cabeças uma sobre a outra, mas paralelos. Saito esticou seus punhos para que a gravata presa nos mesmos ficasse embaraçada no pescoço da montanha de músculos ambulante e assim o estrangulasse. Em contrapartida, ficaria preso junto com as costas rente as de seu oponente. Com a gravata presa ao pescoço de Tsurugi, Saito flexionaria os cotovelos para frente vetando completamente o fluxo de sangue e consequentemente de oxigênio para o cérebro. Se não se desvencilhasse da gravata certamente desmaiaria.

Não há maneira de imaginar a extensão do poder de alguém sem antes testa-lo ao seu limite. Mesmo com a falta de ir e a iminente perca dos sentidos, Tsurugi parecia revitalizar a si mesmo, embebido no calor da batalha enquanto encontrava a motivação que tanto procurava. Aos olhos de Saito que desde sempre torcia pelo amigo, aquilo era a melhor parte de seu dia. Mas o tokujo não perdia por esperar. O som de sua gravata se rasgando o deixou triste e por um instante distraído, tempo suficiente para Tsurugi agarrar as pontas soltar. Seguindo a logica da coisa, ficar preso a um oponente tão destrutivo quanto o seu, era perigoso em demasia. Com isso em mente, tratou de desfazer a volta de ambas as mãos e soltou o tecido a tempo suficiente de tocar com os pés no chão outra vez e vislumbrar de relance a cabeçada reversa que o acertaria se não tivesse tanta capacidade intelectual e de reação.

Aquilo estava saindo de seu controle rápido demais, o que julgou como algo bom na realidade. Todavia, iria fazer uso de seu arsenal para forçar seu companheiro como este vinha o forçando. Saito pulou para trás, mantendo cerca de três metros de seu adversário, aproveitando enquanto o mesmo estava de costas. O ilusionista então recolheu do solo uma tala fina deixada em meio aos restos do boneco que Tsurugi destruiu e começou a balança-la semelhante a uma espada empunhada em sua canhota.

Fazendo uso da técnica Konoha-Ryū Yanagi, Saito buscava distrair seu alvo. Assim que o tivesse feito, largaria a tala e avançaria com toda sua velocidade se lançando contra o mesmo na intenção de chocar seu ombro direito com a coxa direita de Tsurugi enquanto abraçaria suas pernas com ambas as mãos bem na parte de trás da articulação dos joelhos. Double leg. Com a velocidade, o impacto e a constrição das pernas, Saito esperava derrubar o oponente.

Foi como um gatilho. Não teve total controle das ações que seu corpo tomou alheio aos comandos do cérebro, ou talvez, completamente ciente da necessidade iminente. No ar, agarrado às pernas de Tsurugi, os olhos negros de Saito tornaram a cor avermelhada com um tomoe girando em torno da pupila, próximo a borda da íris. Sharingan. Ainda não sabia o que estava acontecendo, mas por algum motivo, podia enxergar o chakra de seu companheiro em seu interior e acompanhar seus movimentos velozes com ainda mais facilidade. Com esse poder fez-se possível soltar as pernas do oponente antes que fosse lançado contra o solo.

— Tsurugi-san! — Bradou enquanto estava no ar, crente de que iria cair com todo seu peso contra o aliado.

Entretanto, seu raciocínio foi rápido o suficiente para esticar os braços na direção do tórax de Tsurugi, de maneira que pousasse suavemente flexionando os cotovelos e não de maneira abrupta ferindo sem intenção o companheiro. Ao seu ver, já bastava de perder as pessoas que com tanta dificuldade cultivou a sua volta. Agora intencionalmente, utilizou de toda sua força para se impulsionar contra o peito do seu amigo e se lançar para longe. Estava agora cerca de cinco metros de Tsurugi o encarando com um olhar que evidenciava o sentimento de culpa por inconscientemente ter acessado aquele poder ainda desconhecido. Seus olhos brilhavam no mais puro carmesim.

Em sua mente passava um filme como se milésimos de segundo fossem suficientes para experimentar um misto de sentimentos que começavam a borbulhar no espirito de Saito como se escaldassem o seu ser por inteiro, consumindo até a última fagulha de seu intento. Os olhos significavam algo que nem ao menos conseguia compreender, mas a culpa vinha remoendo coisas que não tinham nada a ver com o momento. Ou talvez tivessem. Ponderou instantaneamente que acabou se descuidando e utilizando contra seu amigo e companheiro de time uma arma que ainda não controlava totalmente ou minimamente entendia. Talvez por conta de seu domínio sobre o controle de energia espiritual utilizada para realizar técnicas o ajudasse a suportar o fardo daqueles olhos, mas ainda não poderia assumir que os moderava com livre e espontâneo desejo. Remetia-se sem o devido controle de seus pensamentos para o ocorrido com Kayoshi. Se já tivesse conseguido entender a fundo do que se tratava aquele afluído e como abusar de suas vantagens, talvez fosse capaz de encontrar e tornar a sua devida segurança o homem que o educou desde que seus pais o deixaram para partir rumo ao além no pós vida.

Uma coisa acabava ligando-se a outra. O pensamento passar rapidamente por seus pais o levou numa viagem momentânea até o passado. Reviveu os momentos felizes que teve ao lado da família que outrora o apoiava e sempre o impulsionava para a realização dos mais incríveis feitos, os quais sozinho provavelmente nem teria a chance de tentar fazer. Não se permitiu a ilusão de esquecer-se do fato de que ambos os dois, tanto sua mãe quanto seu pai, estavam mortos. Outra viagem rápida o guiou novamente ao exato momento em que ocorrera o enterro da família. Era possível até mesmo sentir a chuva caindo sobre seus cabelos e escorrendo pelas bochechas de seu rosto junto da quantidade exorbitante de lagrimas que falhava em conter. Sentia a escuridão lhe abraçando gradualmente e percebeu que em determinado ponto sua vida foi de mal a pior e que desde então não vinha acontecendo nada que lhe remetesse a simples menção de que iria melhorar. Ao menos foi o que sentiu por um instante. Sem que houvesse uma outra mudança de cenário, sentiu o toque em seus ombros e ao virar-se deu de cara com a figura de Kayoshi, confortando-o com um sorriso no rosto que lhe passava a simples mensagem de que ele estaria ali, independente o que houvesse. Na visão, o sol tornou a brilhar e as nuvens de chuva foram se dissipando junto da escuridão. Ao dar a volta com o olhar, observou atrás de Kayoshi o responsável pelo trio monstro, Ren, e seus dois outros membros, Toji e Tsurugi.

Naquele instante o seu rápido devaneio se perdeu e encheu se alegria. Tanta alegria que os olhos antes possuidores de apenas um tomoe se modificaram outra vez. O único tomoe começou a girar outra vez e a medida que foi parando e se estabilizando podia-se perceber um segundo tomoe em ambos os olhos. Para completar, ouviu a voz de Tsurugi e estendeu um sorriso que logo deu lugar a uma gargalhada. O preguiçoso sabia como faze-lo sorrir.

— Você quem tem uma cara de viciado aqui! Acha que eu não sei que isso aí é tudo esteroide? — Brincou Saito — Vamos continuar! Ou será que você já está cansado? — Saito adotou momentaneamente uma postura de batalha que se assemelhava a do estilo louva-deus.

Abruptamente o tokujo avançou com toda a sua velocidade e fazendo uso de sua técnica ocular para conseguir antecipar os movimentos de seu oponente e assim obter êxito em seu movimento. Ao se aproximar o suficiente efetuaria com a destra um movimento de punho cerrado que se assemelharia ao bater de uma marreta, mas apenas como finta, o objetivo era agarrar um dos braços de Tsurugi e puxa-lo na direção da cotovelada que seria desferida com a canhota em um movimento em sequência.

— Sabe Tsurugi, eu agradeço por ser meu amigo — Disse Saito na primeira oportunidade que teve — No fim das contas, funciona bem para mim como uma espécie de combustível. Também como apoio e base. O nosso time é importante pra mim, tanto quanto a própria folha.

Os olhos possibilitavam não apenas acompanhar os movimentos de Tsurugi como também evadir dos mesmos antes que fossem efetivados e acometesse contra o tokujo um movimento devastador como aqueles contra ele disferidos. A velocidade era descomunal até mesmo parara o sharingan e o máximo que conseguia no momento era dedicar-se a desviar. Primeiro evitou o chute rasteiro levantando a perna alvejada, realocando a mesma agora mais atrás, tão atrás que tornou-se mais baixo, como se estivesse abrindo um espacate. Deste modo o segundo golpe seria evitado ao mesmo passo que o primeiro.

Saito uniu ambos os antebraços a frente do rosto de maneira cruzada, como se formasse um xis com os mesmos. Seu objetivo era diminuir o impacto causado pelo golpe final e deste modo não sofrer nenhum dano adjacente. Aproveitando de sua postura mais baixa, jogou-se com as costas no solo e girou o quadril de maneira intensa e abrupta, abrindo bem as pernas. Para quem via de longe, mais parecia um par de hélices girando. A intenção era aproveitar-se do movimento circular para efetuar uma sequência de quatro chutes giratórios revezando entre as pernas. Seu alvo era a região onde se localizam as costelas.

Era uma constância gradual que mantinha a chama no interior de Saito ardendo com tanta teimosia como se nada mais além de poder importasse. Apenas o poder poderia guiar seus passos para onde de fato queria chegar. O ápice de suas metas pessoais sem sombra de dúvidas era o posto de líder da aldeia, onde os mais poderosos se sentam e de onde podem e devem proteger a todos os aldeões. Para Saito não bastava ser forte suficiente para subjugar os seus inimigos, mas sim ser forte o suficiente para subjugar a todo e qualquer um que decidisse se voltar contra a Folha.

Para o seu azar, seu companheiro já havia dado todo o seu animo durante aquele curto embate. Não tinha porque fazer jogo duro, estava exausto e muito provavelmente mais do que o grande rochedo que se jogou contra o solo.

— Tudo bem, vamos ver o que consigo fazer — Já sabia que não possuía força para carregar seu peso e também o de Tsurugi, mas faria o último esforço a fim de voltar para casa sem nenhuma reserva.

Segurou de um lado e do outro nas axilas de seu companheiro e fez força como pôde, mas mostrou-se incapaz de carregar tal fardo. Sorriu como uma criança e sentou-se no chão deixando que seus olhos tornassem ao tom escuro. Estava feliz pelo fim de tarde que teve.