A penumbra tomava conta do local como se fosse uma onda avassaladora se movendo rapidamente na direção de uma vila de ribeirinhos. Diante da necessidade de melhorar suas capacidades ainda mais agora que havia desperto o grande potencial do sharingan em seu terceiro estágio e tendo conhecimento disso por meio das palavras transcritas no pergaminho que encontrou muito bem escondido na casa de Kayoshi, Saito se viu nos arredores do vilarejo abraçado por diversas arvores, o suficiente para perder a conta nos primeiros segundos de contagem. Ali acreditou ser o local ideal para realizar seu treinamentos, mas tinha ciência de que tentar fazê-lo sozinho era perca de tempo. Convidou Tsurugi.

No entanto, como rotineiramente fazia, chegou muito mais cedo e dedicou-se inteiramente ao aquecimento. Retirou primeiro a parte superior de sua roupa social, a começar pelo blazer preto que utilizava. Tateou com a destra a gravata em seu pescoço e tirou-a como pedia o manual. Dobrou as mangas de sua camisa branca até a metade do antebraço e lançou-se contra o galho de uma arvore não muito mais alta que dois metros. Saito segurou com ambas as mãos no braço daquela arvore que se distanciava do caule. Suas mãos estavam em uma pegada supinada e colocando toda sua força começou a realizar uma série de barra fixa até que seus músculos falhassem completamente. Velocidade na concêntrica, mais lento na excêntrica.

Ao menos quinze repetições perfeitas antes de falhar e realizar outras três parcialmente. Seu peso não era avantajado o suficiente para sobrepujar a força máxima de seus braços, mas não era o que pode-se chamar de leve pluma. Sem forças para continuar e ofegante, deixou-se tornar ao solo e com as mãos em seus joelhos levemente flexionados, demonstrou o cansaço. A atadura em torno de sua testa, responsável por cobrir sua tatuagem em formato de cruz, já estava levemente molhada por conta do suor que escorria do topo de sua cabeça.

Saito contou mentalmente cerca de trinta ou quarenta e cinco segundos antes de lançar-se outra vez mais contra o galho acima de sua cabeça. Agarrou-se ao mesmo como anteriormente, efetuando sua pegada supinada. Sua concentração estava inteiramente na conexão que precisava estabelecer entre sua mente e o grupo muscular alvo, no caso, primeiramente suas dorsais e em segundo lugar seus bíceps. Uma outra série se deu inicio e dessa vez estava ainda mais empenhado em dar tudo de si naqueles movimentos que se repetiram outras quinze vezes antes de exaurir completamente. Desta vez, Saito não conseguiu realizar mais de uma repetição pela metade, como tinha a intenção de fazer para deixar o musculo completamente micro lesionado.

Ambos os seus dois bíceps latejavam e o que conhecia como pump se mostrava. Suas costas estavam vermelhas mediante tamanho esforço. Ficava em evidencia facilmente qualquer parte do corpo de Saito que se dispusesse a um pouco mais de esforço, tendo em vista sua cor um tanto quanto mais pálida que o normal. Talvez aquilo fosse uma característica de seu clã, que ainda não conseguia chamar assim. Os Uchiha, para o jovem rapaz, eram uma família a parte a sua e havia certa indiferença em saber de sua linhagem sanguínea, quase como se resistisse aquele fato da maneira que conseguia relutar.

Antes de se perder em um de seus devaneios, viu se achegar Tsurugi, quem já esperava. Aparentemente não havia recebido seu convite e chegara ali por acaso. Saito subiu outra vez mais ao tronco a fim de realizar sua terceira e última série de aquecimento. Seu oponente já havia chegado e não existia motivo plausível para continuar com um treino físico mais especifico, quando poderia se concentrar em melhor suas capacidades como um todo envolvido numa batalha frenética com seu companheiro de equipe. Enquanto realizava suas repetições completamente imerso em concentração para realizar com devida cadência e maestria os seus movimentos, viu se achegar o grande colosso e se ostentar com o feito de conseguir realizar o mesmo com apenas uma mão.

— Sabe o que dizem sobre os exibicionistas? — Saito desceu da arvore e aproximou o dedo indicador e polegar na direção de Tsurugi, remetendo a algo pequeno. Em seu rosto um sorriso.

Já estava pronto para começar com seu treinamento de verdade. A proposta era a mesma de antes: exceder suas capacidades e elevar deste modo o seu poder. Inconscientemente aquela se tornou a maior meta de Saito. Conseguir poder suficiente para não precisar perder mais ninguém ou mesmo ser enganado como foi por tantos anos. Já estava beirando sua maioridade e foi só neste ponto em que soube, por ações de terceiros em meio a turbulentos acontecimentos, que corria em suas veias uma das mais poderosas linhagens sanguíneas. Agora, naquele ponto em especifico, estava destinado a grandeza desde que se dedicasse com igual proporção a melhoria de suas capacitações.

— Acho que já passamos da parte das apresentações. Podemos começar?

Enquanto falava e adotava uma postura de batalha frente a seu companheiro, seus olhos tornavam-se vermelhos e contavam agora com três tomoes que de inicio giravam em torno da pupila, mas que logo se estabilizaram nas proximidades da íris com a mesma distância uns dos outros. Saito tomou a dianteira no instante em que viu seu adversário pronto e abusou de sua máxima velocidade para mover-se na direção do mesmo em uma linha reta. Ao que o sujeito a sua frente realizasse o mínimo movimento, buscaria antever sua proposta com a pré-visualização de seu sharingan e então desvencilhar-se-ia da investida com uma evasiva para a direita, contra-atacando na altura do tronco com o chute mais forte que se fizesse possível ao tokujo aplicar, utilizando de sua canhota.

No instante em que viu seu chute passar em vão, não se viu com outra opção que não afastar-se em evasiva covarde do mesmo modo que seu adversário. Para isso, como se complementasse o movimento do chute, inclinou o tronco para trás e esticou os braços apoiando ambas as mãos no chão. Dando continuidade ao movimento, aproveitando da velocidade que já tinha estabelecido, suspendeu suas pernas e uso as palmas como base para se impulsionar com toda sua força para trás, onde distanciou-se de Tsurugi e desse modo desvencilhou-se de qualquer investida a curta distância do mesmo.

Após pairar no ar por milésimos de segundo, repousou sobre um tronco de uma das arvores ao seu redor. Estava se colocando pelo menos cinco metros de altura e a uma distância na qual tivesse tempo suficiente de resposta para qualquer investida de Tsurugi contra sua pessoa. Seus olhos analisavam todo e qualquer movimento do poço de músculos a sua frente, de maneira que tentasse entender e identificar um padrão em seus ataques para assim tornar ainda mais fácil uma antecipação.

— Como você consegue ser tão rápido se tem tantos músculos? Isso vai contra qualquer lei que utilizem para reger o mundo — Brincou Saito.

O simples enrijecer de músculos de Tsurugi era mais do que suficiente para que Saito entrasse num modo de evasão completa. Sabendo que seria o alvo direto, não havia motivos para manter sua posição. Ao que seu adversário estivesse próximo no tempo limite para reação, saltaria dois metros acima, estando agora a inteiros sete metros do solo, firme em um outro galho. Para realizar tal movimento colocou toda sua força e velocidade nas pernas de maneira que o suor que escorria em seu rosto evidenciava o seu esforço em evadir de cada um dos golpes devastadores de seu companheiro.

Por mais rápido que fosse Tsurugi em relação aos movimentos de Saito, o chunin ainda tinha a desvantagem de não poder visualizar os movimentos do Uchiha com antecedência, como este por sua vez, podia fazer. Do alto do galho dois metros acima da localização anterior, o jovem de madeixas negras despendeu de sua capacidade física uma vez mais para avançar na direção de outra arvore, dessa vez a sua frente, estando na mesma altura com relação ao solo, mas seis metros de distância com relação ao seu oponente. Desta vez, Saito abusaria das folhas das arvores ao seu redor para ocultar sua presença, silenciando seus movimentos ao máximo enquanto se esgueirava por detrás do grande tronco.

— Que tal um pique-e-esconde?

Enquanto oculto, abusaria de suas capacidades utilizando ilusões pré-dispostas em seu arsenal. Expandiria seu chakra pelo campo de maneira a infundir o mesmo nas capacidades cerebrais de Tsurugi e criar a ilusão deste sendo atacado por uma imagem falsa de Saito que sairia do lado direito em um ponto cego. Aquilo era apenas uma distração. O verdadeiro Uchiha esperaria o momento máximo de distração de seu adversário e surgiria por uma altura mais baixa. Buscaria com ambas as suas mãos agarrar os calcanhares do monstro cheio de músculos para com um movimento investindo toda sua força e abusando da falta de resistência de uma superfície, lançar o mesmo contra o solo.

Apenas realizaria tal feito e tornaria a se embrenhar por entre as folhas das arvores, mantendo-se no alto para evitar um ataque direto, mas tendo toda a sua atenção voltada para o seu oponente mesmo que evitasse ser visto de todas as formas possíveis. Não tinha intenção de utilizar outra técnica ilusória propriamente dita, mas queria saber do que seu sharingan era capaz. Em um combate corpo-a-corpo indireto, havia lhe sido útil em demasia, restava saber se suas altas capacidades se estendiam ao uso de sua vertente mais poderosa, o genjutsu.

Enquanto assistia por sobre seus ombros e detrás de uma arvore os movimentos e a busca de Tsurugi, Saito ofegava. Estava chegando ao seu limite e não era nenhum tipo de tolo para negar. Seus olhos tornaram ao tom negro de outrora e porquanto deixou de fazer uso da técnica ocular que vinha masterizando pouco a pouco. Saito ergueu sua destra a fim de mostrar sua localização ao adversário. Estava disposto a dar fim ao treinamento com a certeza de que havia dado o melhor de si.

— Ahoy! Tsurugi-san, eu já cheguei ao meu limite — Disse enquanto inspirava fortemente e expirava com pesar.

Estava claramente cansado, sua camisa branca pingava suor e deixava clara pelas manchas molhadas que aquele treino havia dado frutos positivos a dupla. Saito deu uma última vez um salto com toda sua velocidade e força na direção do solo, pousando após o feito com toda sua reserva de energia completamente escassa. Olhou com uma clara expressão de cansaço para seu companheiro e caminhou na direção do mesmo, recolhendo o restante de suas vestes do solo, carregando-as sobre seu antebraço direito de maneira organizada.

— Agradeço pela prática, meu amigo. Infelizmente um de nós tem que trabalhar! — Brincou, enquanto distanciava-se dali a passos curtos e vagarosos, erguendo a destra para o céu em despedida.