Pouco tempo após almoçar no Quartel General, retirou-se na direção do local secreto dentro da densa floresta nos arredores da aldeia onde havia marcado de encontrar Tsurugi para que pudessem praticar mais suas respectivas técnicas. Sendo os dois os únicos membros que não se desvencilharam de suas atividades na aldeia para seguirem o destacamento que foi até o País dos Rios para averiguar a situação acerca do satélite natural que outrora ruiu do alto dos céus, não existia outra companhia sequer que fizesse jus ao treinamento que ambos procuravam.

— Certo, é bom não perdermos tempo hoje, estou no meu intervalo de almoço — Disse Saito assim que Tsurugi chegou, fazendo acesso a sua herança sanguínea.

Os olhos adotaram o tom avermelhado do poder que cada vez mais vinha sendo requisitado pelo Uchiha, ainda se acostumando com o mesmo. Diante de seu oponente, procurou avançar na direção do mesmo inclinando o tronco para frente de maneira a utilizar toda a velocidade que possuía para se aproximar e ao que o fizesse fingiria um soco na direção de seu rosto apenas como finta e então abaixaria o tronco completamente na direção do solo enquanto levantaria para trás sua destra, como se efetuasse uma ferroado semelhante a um escorpião. Seu alvo era a garganta de Tsurugi e abusaria de sua capacidade ocular parar encontrar a brecha perfeita nas defesas do adversário.

Seus olhos eram uma benção ao seu ver, mesmo que no fundo da história pendessem muito mais para uma maldição. Assim que teve seu golpe evitado, tornou ambos os pés para o solo e elevou o tronco outra vez. Sua expressão era séria até então, devido pensamentos oriundos do trabalho que o estavam consumindo, um dos motivos para se estar treinando e buscando liberar sua mente dos grilhões da Força Policial. Com o sharingan tornou-se cada vez mais fácil assimilar padrões de movimento e antecipar as ações de seus adversários mediante uma pré imagem em seu cérebro.

Com tamanho artificio, os socos incompletos de Tsurugi não lhe surtiriam mais efeito que uma brisa mais forte. Ainda assim, precisava contra-atacar e enquanto era alvejado pelas pressões de ar que não lhe faziam nem mesmo espremer os olhos, Saito dava passos para trás a fim de manter a distância segura, precavendo-se caso um dos socos fosse realmente o acertar. Na primeira abertura que encontrasse, o Uchiha utilizaria seus olhos para antever onde o soco seria desferido e deste modo, como ficaria o braço esticado de Tsurugi para agir ao mesmo tempo, jogando seu tronco para o lado direito na diagonal apenas para ficar num ângulo bom para realizar um soco forte com a destra debaixo para cima visando acertar a articulação do cotovelo de seu adversário. Uppercut.

Talvez a estratégia mais importante que Saito adotava era aquela. Sempre que desferia um golpe buscava se atendar ao efeito e resultado do mesmo para não se prender a momentos de falsa grandeza. No instante em que viu seu soco ser completamente defendido com o endurecer da musculatura do braço de Tsurugi, Saito sabia que precisava agir. O rapaz não tinha a menor chance de restringir os movimentos de seu adversário utilizando sua própria força mediante o fato inegável de ser mais fraco. Todavia, seu sharingan estava ativo e preparado para lançar imediatamente uma de suas técnicas tão características.

Com os tais olhos em uso, não tardou para perceber o ataque de Tsurugi. Inclinou o tronco para trás apenas o suficiente para todos os três golpes passassem em vão, mesmo que rente ao seu rosto e ombro. No intervalo que seria usado para dar procedência a investida inimiga utilizando sua perna, pelo que julgou o Uchiha, mediante o movimento de quadril de seu oponente, Saito encarou-o nos olhos e infligiu sobre o mesmo uma técnica ilusória de controle mental afim de apenas paralisar o alvo momentaneamente por tempo suficiente para que se abaixasse no solo e efetuando um giro com a perna esticada, semelhante a uma rasteira normal, derrubasse o oponente. Ao fim saltaria para o galho de uma das arvore ao redor, ficando a três metros do solo e a cinco de distância de Tsurugi.

Simplesmente sorriu de canto. Iriam elevar aquele treino para outro nível. Com a mudança repentina no fluxo da energia espiritual de seu adversário, ficou claro que este estava aumentando suas capacidades, mesmo que Saito não soubesse exatamente como. Se era esse o caso, o Uchiha tinha suas formas de aumentar também sua capacidade física. Da marca oculta atrás de seu pescoço se alastraram por todo o lado direito do seu corpo as manchas características da maldição que carregava. Aquilo sempre causava uma parcela de danos a sua saúde, mas um preço baixo a se pagar para manter o confronto em pé de igualdade.

Da parte esquerda da costa de Saito surgiu uma asa grande que rasgou parte do terno do garoto. Aquilo se assemelhava a uma garra e logo moveu-se para a frente do rapaz, servindo como escudo para a investida que viria por parte daquele em fúria. Assim que o choque acontecesse, saltaria para mais acima abusando de toda sua velocidade para se distanciar ainda mais. Com o impulso em força máxima e o bater de uma asa, rapidamente estava em um galho acima do anterior, agora a oito metros do chão e a cinco da superfície anterior.

— Você me daria um instante para dizer que você parece uma locomotiva quando começa a bufar assim?

Do tronco mais alto e com os olhos atentos aos movimentos do oponente, Saito era quase que incapaz de ser acometido com qualquer elemento surpresa. Os movimentos de Tsurugi eram analisados em cada instância e pelo fato de ter adquirido tanto controle de seu intelecto, o Uchiha conseguia induzir o oponente ao erro. No instante em que os músculos do que estava mais em baixo se enrijeceram, Saito decidiu tudo o que faria a seguir. Usou a asa resistente de suas costas para efetuar um golpe com força total contra a base do galho em que estava apenas para degrada-lo o suficiente para que assim que Tsurugi pisasse no mesmo este se quebrasse e o chunin caísse dos oito metros em que estava.

Assim que feriu a madeira do tronco, Saito efetuou um único bater de asas para se afastar rapidamente do sujeito vindo em sua direção, observando o que este faria quando percebesse que antes de tomar qualquer ação propriamente dita teria de evitar a queda livre. O fato é que aquela luta se assemelhava a uma dança. Os movimentos de Tsurugi eram sempre os mesmos. Respirava fundo e com isso mostrava que iria avançar, procurava se aproximar de Saito e quase sempre este já havia se afastado também, o que os deixava em pé de igualdade, diminuindo a distância muito mais devagar do que Tsurugi gostaria.

Saito por outro lado priorizava os passos que precisava dar para alcançar seu objetivo ciente de que em um combate direto não teria a menor chance. Mantinha distância como conseguia e abusava dos artifícios psicológicos que tinha para se sobressair.

Era mesmo incrível como alguém que só se concentrou em treinar o corpo conseguia montar uma armadilha em milésimos de segundo e deste modo evitar a queda livre. Saito aplaudiria se tivesse tempo para perder. Ao ver o oponente usar o seu próprio corpo como pendulo para se impulsionar em sua direção decidiu dar continuidade ao seu jogo de movimentos constantes. Aquele era um momento de vantagem de velocidade para Saito tendo em vista que por não possuir tração com absolutamente nada enquanto estava pendurado, a capacidade de se mover rapidamente de Tsurugi era drasticamente diminuída.

O Uchiha pensou em preparar outra armadilha, mas lembrou que já havia certo tempo desde a última vez que se indignou a carregar seu bornal. Para todos os efeitos, não tinha tempo demais para pensar no que fazer. Realizou um único selo e aplicou uma técnica básica em campo, deixando um clone falso em seu lugar e desaparecendo no meio das arvores. Sabia que seu companheiro possuía uma capacidade intelectual severamente inferior e não teria como se atentar aos detalhes. Enquanto observava em oculto, sobre um galho de arvore a oito metros a direita da antiga posição, ponderava seu próximo passo, pronto para assistir toda a cena se desenrolar.

Não era de todo ruim aquele treinamento, para nenhum dos dois. Do mesmo modo que poderia ser frustrante para Saito se dar ao luxo de ao menos uma vacilada que fosse, devido o fato de que caso ocorresse em uma batalha real certamente morreria, era de se imaginar que para Tsurugi não seria diferente não conseguir efetivar seus ataques devastadores de uma só vez. O garoto ruiu no solo como se estivesse próximo de um cansaço absorto. Saito não poderia dizer que estava muito melhor. O selo amaldiçoado consumia boa parte da vitalidade do garoto e o deixava devidamente desgastado.

Rápido como pode, Saito efetuou uma descida, saltando de galho em galho na velocidade em que podia. Durante o declive, a asa se retraia lentamente tal qual as manchas espalhadas pelo lado esquerdo do corpo do Uchiha. No solo enfim, andou calmamente na direção de Tsurugi, estendendo a mão para o mesmo afim de o levantar.

— Sabe, acho que já está muito perto de encerrar o meu intervalo de almoço. Tenho que ir em casa primeiro trocar de roupa já que tem um buraco no meio das minhas costas — Brincou Saito, preparando-se para se despedir do amigo. Antes de mais nada queria parabeniza-lo.

Não via motivo para esconder de Tsurugi acerca de sua habilidade de acessar a maldição do céu. Só não tinha orgulho de como se acometeu e conseguiu aquele poder. O fato é que durante uma missão pela aldeia teve de caçar e enfrentar um desertor familiarizado com a criação e implantação de maldições. Durante, o sujeito conhecido como Sukuna o rei das maldições, conseguiu aplicar em Saito o selamento e fugir. Desde então vem fazendo acesso a técnica, mesmo ciente de que aquilo eventualmente deteriora seu corpo.

— Na verdade aquilo é um selo amaldiçoado que foi colocado em mim por um homem chamado Sukuna. Ele é um fugitivo da aldeia que tive de caçar quando ainda era mais novo — Saito abaixou a cabeça como se ficasse levemente abalado em falar daquilo - No fim das contas ele acabou fugindo de mim de qualquer forma. Eu não estava preparado.

Cabisbaixo, deu-se conta do tempo que perdia com suas histórias e antes que pudesse perder mais tempo, despediu-se do amigo e abusando de suas últimas fagulhas, avançou por entre as arvores em velocidade máxima. Seu destino era sua casa e só em seguida o trabalho. Seus olhos tornaram negros outra vez.