Pela janela do quarto escorriam as lágrimas do sol naquela manhã. Uma daquelas chuvas de verão que ora ou outra se acometem contra as grandes metrópoles. O fato é que antes mesmo do primeiro café da manhã os serviços de Saito já haviam sido requisitados. O bater de asas cessou no instante em que a ave se aprumou encharcada na janela do Uchiha. Com seu bico o acordou e fez com que recebesse a escritura acoplada a sua pata esquerda, logo antes de ser liberada de sua função pelo rapaz.

A descrição da missão em si era simples e sucinta, o que via com seus olhos negros como algo bom. Um caso envolvendo shinobis recém formados na academia, uma investigação. Não era assim tão diferente dos trabalhos que já vinha exercendo em sua função como sargento da policia, mas dessa vez teria um parceiro. Tsurugi, no que remetia a informação passada no pedaço de papel que Saito acabara de receber, ajudaria na busca pelo malfeitor ilusionista que vinha atacando crianças. Só estranhava o fato de algo tão simples demandar de dois dos melhores shinobi da aldeia, ao menos dos que ficaram para protege-la enquanto o restante se encontrava em uma expedição.

Sua perna direita estava flexionada e apoiada sobre o muro baixo do topo de um dos edifícios nos arredores da academia ninja da aldeia enquanto sua esquerda mantinha-se reta. Por se tratar de uma missão que não tinha qualquer ligação direta com seu cargo na policia, julgou desnecessário utilizar o tão habitual terno. Sua calça nada mais era que a mesma preta de seu tempo como chunin, não havia crescido nada desde aquele tempo. Em sua destra carregava seu bornal, já fazia um bom tempo desde a ultima vez que o havia feito. Uma camisa de malha quase transparente era a única coisa no seu tronco. Em seu pulso esquerdo possuía uma bandagem enfaixada que se findava no final do antebraço. Em sua testa as ataduras de sempre, cobrindo a tatuagem, enquanto em suas orelhas os mesmos brincos de sempre.

No topo do prédio se dedicou única e inteiramente a aguardar Tsurugi, não alheio ao que acontecia na academia. Sabia que era bem possível que encontrasse, não por acaso, o malfeitor que vinha acometendo contra as crianças. Todavia, não sabia como imaginar o perfil de alguém tão sádico e doente. Teria de aguardar até que algo surgisse para lhe dar uma luz na direção certa. Seus olhos logo se tornaram vermelhos. Queria estar em sua máxima atenção.

Saito era sempre muito amigável com seus companheiros, mas em missões presava sempre a seriedade e foco com objetividade, principalmente em casos como aquele onde crianças vinham sendo afetadas por técnicas de certo calibre. Com a chegada desleixada do companheiro não teve outra reação que não ponderar acerca das palavras que usaria para repreende-lo. Era necessário. O Uchiha nem ao menos se indignou a virar o rosto e olhar para Tsurugi. Retirou a perna de cima da mureta realizou o selo do tigre com ambas as mãos a frente do rosto.

— Não estamos em treinamento, Tsurugi, dessa vez eu exijo seriedade e foco. Você se tornou um shinobi e tem obrigações com a aldeia e com todos os aldeões — Fumo branco e o som de um leve estouro emanou do rapaz, quando o mesmo se dissipou e revelou que o sujeito havia se transformado em uma versão mais jovem, aparentando ter dez anos outra vez — Se não for dar tudo de si e deixar essa preguiça de lado, focar na missão e parar com suas frases de efeito que só evidenciam seu desleixo, vou ter que pedir que fique de longe só observando. Tenho que me preocupar em encontrar o usuário de genjutsu e em proteger as crianças.

Saito saltou do prédio e correu para o meio das crianças que brincavam no pátio, esperando que o professor as chamasse para dentro.

No meio das crianças enquanto estava agindo como uma delas conseguiu se misturar. Mesmo seus olhos avermelhados não eram responsáveis por chamar atenção daquelas que no momento só se preocupavam em brincar. Foi rápido. Saito só se deu conta pelo fato de seus olhos conseguirem contemplar a mudança repentina no fluxo de chakra das crianças a sua volta. Uma sensação de sonolência fez com que percebe estar sendo alvo de uma técnica de indução e antes que pudesse adormecer levou ambas as mãos há frente do rosto realizando o selo do cavalo enquanto bradava a técnica. Dissipação de Genjutsu.

Saito havia se atentado de que direção vinha a forte influência e enquanto se envolvia em fumaça esbranquiçada, desfazendo a técnica de transformação, alertava o companheiro.

— Tsurugi! — O Uchiha berrou para o companheiro, ciente de que ele teria de resolver aquela situação enquanto libertaria as crianças do controle mental — Ele está ao norte da sua posição, cerca de dez metros! Rápido!

Sabia que o chunin pelo qual estava sendo responsável naquela missão era capacitado para lidar com aquela situação. Aguardaria o mesmo retornar com o malfeitor para que pudessem entrega-lo e deste modo finalizar a missão que lhe havia sido transmitida mais cedo. Felizmente a velocidade na resolução da mesma foi exponencial.

Saito olhou o sujeito com o vilão nos ombros e sorriu de canto. Já havia auxiliado as crianças e por isso logo avançou e se pôs sobre o muro ao lado da montanha de músculos que tinha como parceiro. Olhou para o céu para se certificar da hora e assim ter ideia do tempo que levaram pois gostava de cronometrar suas ações.

— Vamos até o posto de missões. Sempre ficam de prontidão alguns membros da corporação para receber esse tipo de "encomenda" — Disse Saito enquanto se dirigia até o local, ciente de ser seguido por Tsurugi.

No dito destino, entregaram o homem misterioso e foram rapidamente notificados de uma outra situação que teriam de assumir pelo simples fato de já estarem ali, livres de suas últimas obrigações. Não havia motivo para recusar e sinceramente não sabia se era possível fazê-lo. Antes mesmo que Tsurugi opinasse, Saito dava um passo a frente e aceitava a tarefa. Sabia que aquelas missões eram boas formas de forçar o amigo a dar seu melhor e deixar de lado toda aquela postura preguiçosa. Era a chance perfeita para que o garoto de cabelos brancos se tornasse um homem responsável que priorizaria o bem estar da vila e não o seu próprio acima de tudo.

Saito usaria aquela missão como um teste. Tsurugi havia acatado e feito direito o trabalho no que conferia aos comandos do tokujo na investida anterior. Caso o Uchiha visse novamente aquilo, seria responsável por indicar que os encarregados de graduar outros shinobi o fizessem com o parceiro. Suas capacidades físicas sem dúvida alguma eram suficientes para tornar-se um ninja de elite como Saito, mesmo que tivesse muito o que melhorar em outros fatores. O primeiro certamente era abdicar totalmente da personalidade cansada e preguiçosa. Não lhe caia bem.

A missão era relativamente investigativa e não exigiria tanto, aos olhos do Uchiha. De longe a ideia era promover uma espécie de teste com seu amigo. Enquanto se dirigia até leste da murada em torno da aldeia, Saito explicava seu objetivo e o da missão em si.

— Ouça, Tsurugi — Saltava de galho em galho, em busca de algum animal morto ou mesmo do que poderia ser a causa — Já tem um tempo que venho te analisando. Você tem que entender uma coisa. Nunca conheci alguém com capacidades físicas minimamente equivalentes a sua, você tem o poder destrutivo de uma bomba e ouso dizer que suspeitei por um tempo se não tinha nada a ver com a lua se partir e cair dos céus — Estava brincando na última parte, mas era importante para quebrar o gelo.

— Você já se deu conta que mesmo que consigamos lidar com você num combate, jamais teríamos chance de sair ilesos de uma batalha de verdade contra você? — Saito fazia alusão aos membros daquela equipe — Só que ainda assim, eu e Seiji fomos apontados para graduação de tokujo enquanto você continua estagnado como chunin. É complicado falar disso com você, mas o fato é que os superiores exigem certo grau de seriedade e comprometimento. A imagem de preguiçoso que você tem passado durante esses anos todos precisa chegar ao fim. Já está passando da hora de você perceber a peça importante que é pra aldeia. A equipe precisa de você, os aldeões precisam. Os mais novos precisam enxergar em você alguém exemplar e não uma figura preguiçosa. Espero conseguir te convencer a assumir a responsabilidade devida. Seja a pessoa grande que nasceu para ser e não alguém preguiçoso com picos de adrenalina. Seja sempre proativo e deixe de reclamar. Faça tudo isso e com certeza subirá tão alto quanto puder — Sua voz era suave e passava confiança ao menino, abusava de todo seu carisma para convence-lo a melhorar.

Saito avistou ao longe nos céus um punhado de urubus. Algum animal havia morrido ali. O Uchiha apontou com seu indicador e dedo do meio para a posição e esperava ser seguido por Tsurugi.

Estava realmente contente com a capacidade de Tsurugi de entender os fatos e com sua promessa ainda mais. Ao chegarem no local, Saito manteve-se afastado sobre uma arvore a dez metros do chão. Já havia encontrado com seus olhos o javali morto detrás de uma das arvores, mas àquela altura gostaria de ver como o aspirante a tokujo resolveria a situação sem influência do Uchiha.

Sem dizer uma palavra sequer, agachou-se sobre o galho e ponderou de longe o que poderia ser aquilo. Pelos olhos avermelhados conseguiu identificar um único e minúsculo ponto de chakra naquele ser sem vida. Ao se atentar ainda mais, viu que se tratava de um besouro, e assumiu que se tratava de uma praga de insetos sugadores de energia os responsáveis pelas mortes de tantos animais. Todavia manteve-se em silêncio, observando o que Tsurugi faria.

Certamente que aquele silêncio e distanciamento evidenciavam até mesmo ao chunin que o jonin de elite se absteria do restante da missão, deixando a seu encargo as próximas tomadas de decisão desde que isso não atrapalhasse na missão. Saito não queria ver um pio de reclamação sobre chatice ou como aquilo poderia ser problemático. Tudo o que precisava ali era que seu amigo se tornasse em fim o homem destinado a grandeza que sempre enxergou.

Como era de se esperar, Tsurugi deu conta da missão praticamente sem o auxilio de Saito, que por sua vez, gargalhou em alegria e orgulho. O jonin de elite estava mais do que decidido a lutar com unhas e dentes diante do conselho para que garantissem a graduação de seu companheiro, por puro mérito deste. Saito mais uma vez deixou sobre tutela de seu amigo a carga de maltrapilhos que vinha fazendo algazarra na aldeia assassinando animais única e inteiramente com o intuito de nutrir seu insetos, desestabilizando todo o ecossistema.

Não tardou para que ambos os dois entregassem a encomenda especial no posto de missões onde alguns policiais se encarregaram de encaminhar o sujeito para detrás das grades como era devido. Saito se aproximou de seu companheiro e com um leve toque nas costas o parabenizou.

— Mantenha esse espirito, me deixou orgulhoso hoje. Não saia da aldeia pelos próximos dias. Você tem compromissos — Disse Saito enquanto se afastava na direção do gabinete de reuniões entre os anciões e os representantes da aldeia na ausência da sombra do fogo. Estava mais do que na hora de Tsurugi assumir um cargo que condissesse com suas capacidades de fato. Saito enxergava algo que talvez nem mesmo o jovem de cabelos brancos enxergava. Enquanto saltava por entre as estruturas desfazia uso do sharingan.