Ao que a tarde procurava seu fim naquele dia fatigante até mesmo para o mais espirituoso e idealista dentre os tokujo, surgia por entre as tantas arvores nos arredores da aldeia a figura de Saito. O horário não era o habitual, mas em prol da comemoração pela graduação de Tsurugi, tiveram de organizar aquele treinamento amistoso, por mais intenso que fosse, para o fim do dia. No alto dos céus o aviso nítido com o tornar do firmamento em um tom alaranjado, remetendo claramente ao pôr do gigante incandescente que ascendia diariamente por entre as cadeias montanhosas do país do fogo.

De cima de uma das grossas e abastadas de folhas verdejantes arvores do lugar, Saito aguardou pacientemente seu oponente de sempre. Seu bom e velho amigo não tardaria e muito menos o Uchiha em dar o inicio ao jogo de sempre. Em sua mente,  o mesmo trabalho de sempre de ataque e defesa  estava ultrapassado e por isso criou em sua mente um jogo de procura.

— Conte até dez e venha atrás de mim — Disse Saito, acessando o sharingan e sacando na destra uma kunai.

O garoto saiu em disparada na direção norte dos arredores realizando marcações nas arvores a sua direita com um sucinto corte de sua faca, sempre a cada dez metros, como se deixasse uma pista. Sua velocidade máxima era utilizada e com dez segundos de vantagem teria ao menos três tempos até que fosse alcançado.

Após mais de quatrocentos metros para o norte da posição anterior, Saito utilizou de sua mente e seus equipamentos para preparar uma armadilha. Com a faca em mãos, cortou a base do galho que serviria de plataforma de maneira que outra vez o peso de Tsurugi fosse suficiente para quebra-lo. Com a experiência do treino anterior, sabia que o sujeito teria reflexo para evitar a queda lançando uma kunai com fio para se suspender como uma aranha prontamente também o faria e por isso antecipou-se.

Num galho flexível a três metros de onde preparou a armadilha, após tencioná-lo sem quebrar, acoplou ao mesmo três facas que seriam lançadas na direção em que julgou que Tsurugi lançaria sua própria arma a fim de se puxar, de maneira que as laminas da armadilha iriam cortar a linha utilizada pelo mais novo tokujo. Provavelmente o oponente ainda iria insistir na mesma tática para evitar a queda e dar continuidade ao avanço e por conta disso cerca de dez metros a frente Saito atravessou um fio de aço na altura do pescoço, de modo que aquilo servisse para enforcar e derrubar o brutamontes outra vez. Nada mais era do que para atrasa-lo e testar sua paciência, pois Saito sabia que aquilo não iria para-lo. Continuou avançando em velocidade máxima, dessa vez para leste de sua antiga posição, agora sem marcar as arvores.

Para ser absolutamente sincero consigo mesmo, Saito tinha de admitir não fazer ideia do quão longe estava de seu adversário. Certamente não haviam incontáveis formas de evitar a primeira armadilha, mas a segunda com as três facas voando em sua direção com certeza era mais complicada. Ainda assim, supondo que o adversário tivesse tido a engenhosidade que nunca antes teve e tivesse conseguido evitar as duas primeiras armadilhas sem se esquecer de nenhuma, havia uma em especial que Saito acreditava não ser possível evitar. O trunfo era sem dúvidas o cabo de aço passado na altura do pescoço. O Uchiha sabia que Tsurugi sempre se movia em altissima velocidade, ver um fio de aço contra a luz era basicamente impossível se estivesse rápido. Mas vai saber.

O fato é que Saito não estava mais se movendo na direção norte, na verdade percorreu cerca de duzentos metros na direção leste e então dirigiu-se para o sul, retornando para o ponto de encontro onde haviam dado inicio aquele jogo. A julgar pela capacidade mental de seu adversário, era praticamente obvio que só se daria conta de que teria de voltar quando chegasse ao fim da floresta em torno da aldeia sem encontrar o Uchiha. Não dava a mínima. Se Tsurugi quisesse acompanhar os movimentos de Saito teria de se dedicar não apenas as capacidades físicas. O policial já tinha ideia do que faria. Realizando os selos necessários criou uma ilusão no local em que estava que afetaria qualquer um que entrasse em seu alcance. O Uchiha mudaria a visão de quem se aproximasse, como se o chão fosse três metros mais alto do que de fato era, de modo que descer de uma arvore com a ideia errada de onde pisaria faria com que Tsurugi caísse em desequilíbrio e confusão. Saito esperaria se expondo no alto de uma arvore paralela a direção em que seu adversário estava de maneira que a distância seria tanta que para chegar ao outro lado o garoto de cabelos brancos necessitasse antes pular na direção do solo para pegar impulso e então caísse na armadilha.

Com a figura no chão, Saito realizou um único selo e criou ao seu lado um clone falso. Ainda dando sequência a sua estratégia, preparou uma técnica de substituição no que concernia a um tronco quebrado há quinze metros de onde estava, localizado a sua frente, atrás do oponente. Saito queria brincar. Estava tomando gosto por aquele treinamento, como quem se diverte em um parque com seus amigos. Seus olhos brilhavam no calor da batalha, era o sangue Uchiha incendiando cada fibra do seu corpo. Não subestimava seu oponente, sabia de suas capacidades, mas também sabia que sua capacidade intelectual era superior e abusaria disso.

— Que tal um jogo novo, Tsurugi. Qual é o verdadeiro? — O som saia única e inteiramente de sua voz, mas ambos mexiam a boca. Era obvio que devido a distância e a disparidade na inteligência Tsurugi não saberia diferenciar o clone do verdadeiro, ou conseguiria.

Saito aguardava pacientemente, posturado como quem mantem a guarda totalmente aberta. Sua provocação não era vaga, tinha um objetivo. Queria a todo custo instigar a tomada de decisão rápida e correta por parte de seu companheiro, pois se ele melhorasse, Saito também melhoraria. Não tinha dúvidas de qual ponto tocar para que Tsurugi melhorasse e ao seu ver, já passava da hora de fazê-lo.

O chute não seria tido como desperdiçado, com certeza deixaria a arvore com sérias sequelas, quiçá partida ao meio. Saito, o falso, se desfaria com um sorriso no rosto enquanto o verdadeiro se mostraria nada mais que um tronco entre fumo branco. O ressurgir seria concomitantemente imediato. Por trás do grande colosso abastado de musculos e entre um punhado de névoa o Uchiha emerjeria sacando rapidamente uma de suas facas a lançando na direção que julgou sendo a que Tsurugi pousaria, apenas para força-lo a se movimentar mais uma vez de maneira defensiva. Era quase como se brincassem de gato e rato.

— Você está quebrando as regras, meu amigo. Vou pensar em algo pra entreter você — Enquanto falava, evitaria manter-se exposto e saltaria na direção oposta a Tsurugi, sendo esta a norte outra vez.

Por entre as arvores, conseguiria manter-se afastado movimentando-se na mesma direção, porém com oscilações de movimento e altitude, como se usasse as ramificações a seu favor, obrigando que o seu perseguidor despendesse de tempo para desviar dos obstáculos naturais ali dispostos. Estava ponderando acerca de suas opções para o próximo jogo. Tinha algumas ideias mas considerava todas elas absurdas demais para utilizar em um treinamento amigável.

O questionamento era válido, completamente válido. Talvez nenhum dos dois conseguissem dar o seu melhor por terem de conter seus atos a fim de não machucar de fato um ao outro. Apesar das amostrar de poder de Saito serem em sua maioria efetivas, não tinha como utiliza-las em sua máxima capacidade, tal qual era impossível de se cogitar ser acertado por ao menos um do golpes de Tsurugi. No fim o jogo precisava estar sobre controle o tempo inteiro por parte do Uchiha, tudo porquê o menor dos golpes efetivados do companheiro o levariam ao óbito, enquanto que efetivar suas ilusões nada mais fariam que postergar o treinamento.

Saito analisou o som oriundo do avanço de seu adversário e se escondeu atrás de uma arvore, atento ao que ouvia. No que julgou Tsurugi estar se aproximando, saiu detrás do tronco e o encarou nos olhos. O cintilar do avermelhado era suficiente para lançar contra o companheiro uma ilusão a vontade. A visão que teria nada mais seria que a de todos os troncos abaixo de seus pés desaparecerem. A intenção de Saito era fazer com que, sem ver onde pisaria, o sujeito de cabelos brancos tropeçasse quase que instantaneamente, tendo de lidar com mais uma queda.

— Talvez levar essa luta pro chão seja a melhor opção — Brincou, subindo ainda mais, até o topo da arvore em que estava.

Quase tudo que Tsurugi falava era risível aos olhos de Saito. Como havia se esquecido de momentos atrás quando se chocou com a ilusão de um chão falso e despencou por três metros no solo verdadeiro, era um mistério. O Uchiha deu de ombros. Estava parado e plenamente concentrando em seu equilíbrio no topo da arvore. Sua perna direita era responsável por sua sustentação no pico do galho mais alto. Sua canhota por outro lado fazia a distribuição do peso de maneira que nem ao menos balançasse. Saito aguardava Tsurugi acima das incontáveis folhas das arvores.

— Ouça, Tsurugi — Dizia assim que o amigo o alcançasse — Eu posso ter lhe ajudado a conquistar a graduação, mas não deixe de acreditar nem por um minuto que você não a merecia. Sem sombra de dúvidas você é a destruição. Pode não ter notado, mas em nenhum momento do treinamento de hoje eu vi você reclamar ou não se empenhar como deveria. Isso me deixa orgulhoso de verdade. Eu poderia te proporcionar qualquer ilusão que pode imaginar como presente pela promoção, eu pensei nisso acredite. Mas nada seria real. Então, segure a onda por um tempo e eu prometo te dar um presente digno, mas atrasado — Saito riu e com toda a força de suas pernas se impulsionou na direção do solo.

No fim chegou ao solo após uma série de jogo de corpo no ar, torcendo suas fibras e as enrijecendo de modo que conseguisse se desvencilhar dos galhos proeminentes das arvores e chegasse ao chão sem se chocar com absolutamente nenhum. Com os pés firmados após um pouso que forçava-o a flexionar os joelhos a fim de não rompe-los, Saito guiou seus olhos até o companheiro, desfazendo uso do vermelho vivo e tornando ao negro padrão de outrora.

— Eu acho que já tá passando da minha hora. Preciso descansar, soube por alto enquanto vinha pra cá que amanhã temos um trabalho pra fazer juntos, mas ainda nenhum detalhe. Você não é mais só um chunin então eu acho que a missão chega pra você igual chega pra mim. Acabou essa história de eu receber e ter que ir te buscar em casa. A gente se encontra no topo do gabinete quando for chamado e de lá parte.

Saito disparou com sua máxima velocidade na direção de sua residência por alguns metros antes de tomar impulso e usar das arvores para se locomover com mais afinco e gracejo. Despenderia muito menos tempo deste modo do que usualmente caminhando ou correndo pelas ruas e vielas.