Na proximidade do findar do dia, quando já se iam embora uma boa parcela dos membros da corporação e por fim o de patente mais elevada acabava sendo Saito, o mais novo capitão da policia, as luzes se apagavam dentro do quartel general. Movendo-se pelos corredores um tanto quanto mais escuros e consideravelmente mais vazios, o Uchiha dirigia-se até a sala de provas. O lugar era relativamente espaçoso e contava com dezenas de gondolas espalhadas e bem organizadas por todo o espaço. Elas tinham demarcações com letras e números coladas com fita nas bordas, de forma que não tardou para encontrar o que procurava.

K-12. Era a prateleira onde vislumbrou a caixa ainda imaculada que encontrou no forro falso da residência de seu antigo professor. Com ambas as mãos esticadas, devido a altura elevada na qual ficava a decima segunda prateleira, Saito retirou a caixa relativamente pequena e muito bem ornamentada. Carregando-a para fora dali, dirigiu-se até a sua mais nova sala particular. Estava interessado em ver com mais calma o que continha naquele material e não via problema em dedicar-se a hora extra para aquilo. Sabia que enquanto estivesse a disposição dos superiores não teria como se entregar inteiramente a causa de Kayoshi.

A forma negligente com a qual o restante da corporação vinha lidando com o desaparecimento de Kayoshi era inexplicável e aos olhos de Saito, inaceitável. Apenas ele mesmo e seu único subordinado até então vinham se dedicando aquela causa. Todavia, com a evolução rápida do Uchiha e a graduação repentina veio também o poder de dar ordens a mais membros do corpo militar da aldeia do que apenas ao jovem aspirante que o acompanhava desde sua indicação a sargento. Como capitão abusou de sua posição para ordenar que não apenas o seu aspirante particular.

— Robin — A garota de cabelos loiros entrou pela sala.

O aspirante nada mais era que uma jovem de aproximadamente dezoito anos que almejava tanto quanto Saito o bem maior da aldeia da folha. Ela foi designada a auxiliar o azarão do esquadrão policial pois a maioria dos membros da corporação não respeitavam a figura do Uchiha, tão jovem e em plena ascensão constante. Era motivo de descontentamento geral. Por se tratar de uma garota também muito jovem, Robin acabou sendo alocada para acompanhar Saito como forma de atraso para ambos, todavia, o tiro mostrou sair pela culatra quando o rapaz foi condecorado como capitão e agora a moça detinha por consequência muito mais poder que a maioria dos sargentos, enquanto sob ordens do Uchiha.

Assim que entrou pela sala questionou Saito acerca do que precisava. Apesar de sempre estar relutante em exigir coisas demais de Robin, o Uchiha sabia que não poderia contar apenas com o poder do seu tão superestimado cérebro para desenrolar as estratégias que precisaria para alcançar o resultado desejado, afinal, mesmo que não estivessem completamente tensionados a resolver o caso do desaparecimento de Kayoshi, os membros da policia passaram certo tempo analisando as provas e buscando pelas respostas, independente de terem o feito apenas para cumprir com suas tarefas diárias e terem ajuda do trabalho para passar o tempo mais depressa.

— Preciso de ajuda esta noite. Sei que tem feita muita hora extra comigo, mas se puder me perdoar e ficar aqui, vou ser eternamente grato. Sinto que com essa caixa temos uma boa chance de encontrar ou ao menos entender o que aconteceu com Kayoshi-sensei naquela noite — Saito fechou os olhos e sua expressão demonstrou a fé que ainda tinha — Eu sei que já faz algum tempo desde que ele sumiu e ainda não tivemos nada concreto a respeito do que pode ter acontecido, mas algo em mim insiste em dizer que ele está vivo em algum lugar. Não posso me dar ao luxo de fazer esse trabalho sozinho quando sei que tenho mais chances de encontra-lo se tiver ajuda.

Em resposta ao discurso semi motivador de Saito, Robin apenas sorriu de cabeça baixa, como se fosse quase ofensivo aquilo tudo. Todavia, não da maneira que o Uchiha imaginava. A menina nutria grande respeito e admiração para com seu superior e considerava errônea a ideia de que pedir para que ela ficasse um pouco mais do que o normal para lhe auxiliar na busca por aquele responsável por lhe ensinar tanta coisa quando criança, era algo que poderia enxergar como empecilho ou mesmo incomodo. Robin sentou-se ao lado de Saito diante da mesa arredondada e começou a encarar a caixa junto de seu mentor.

— Acredito que tenha algo a mais nessa caixa do que simplesmente o meu segredo — Disse Saito enquanto abria a mesma, retirando de dentro a carta com as informações acerca do pedido para que nunca fosse descoberto a linhagem sanguínea do rapaz. Com a canhota abriu e segurou as escrituras, encarando aquelas palavras uma vez mais depois de certo tempo. Robin, por sua vez, não esperou pela ordem e tateou a caixa, retirando da mesma o bolo com cartas unidos por uma liga amarelada. A garota se atentou a ler apenas o remetente de cada uma das que encontrou e percebeu que todas eram da mesma pessoa. Hitomi.

— Você sabe quem é essa Hitomi? — Indagou Robin, chamando a atenção de seu superior para aquelas cartas, que até então vinham tendo prioridade alguma quando comparadas o pergaminho endereçado para Saito.

— Na verdade é a primeira vez que ouço esse nome. Achou alguma coisa? — Questionou, tendo em vista a realidade: de fato não sabia quem era.

— Bom, ela mandou mais de cinquenta cartas para Kayoshi nos últimos dez anos. Ainda não abri nenhuma delas, mas pelo que parece, mantinham um contato mínimo — As palavras de Robin faziam o coração de Saito disparar como se beirasse um ataque de pânico que há muito tempo não tivera.

— Conseguiu identificar a mais antiga? — Indagou Saito, claramente inquieto.

— Bom, sim. Você tá bem? — Não havia como Robin não acabar se preocupando com o estado de seu mentor.

— Eu estou bem. Abra e me diga o que encontrou — Saito levantou e se afastou na direção da janela enquanto procurava algo no bolso interno de seu blazer.

— Bom, essa aqui é a primeira. Ela diz: "Então ele se formou, finalmente! Precisamos que ele consiga evoluir como shinobi, conquiste o coração dos aldeões e a confiança deles para que possamos colocar o plano de superioridade da folha em prática. Somente ELE pode liderar e guiar a folha para onde ela realmente deve estar." — Saito ouvia atentamente da janela, tentando identificar algum sentido naquelas palavras enquanto acendia o cigarro que havia levado até seus lábios.

— O que a mais recente diz? — Saito não tinha tanta paciência a ponto de esperar para saber o conteúdo de cada uma das cartas uma por vez e ponderava acerca da possibilidade de apenas o conteúdo da primeira e da última serem o suficiente para entender do que se tratava.

— Certo, entendi — Disse Robin atenciosamente abrindo a carta mais recente — "Kayoshi, é preciso que ele desenvolva as habilidades do sharingan o mais rápido possível! Eles estão cada vez mais perto de encontrar o ascendente e sem os olhos de nada vai importar o poder que ele tem! Você precisa ajuda-lo a despertar urgentemente o sharingan. Eu sei que pensamos que a morte dos pais dele fossem ser o suficiente, mas claramente ele vai precisar de estímulos maiores. Talvez você depois dos anos que conviveram e por ter amenizado a dor da primeira perda seja a escolha perfeita para servir de gatilho. Confio em sua decisão, faça seu melhor"

Os olhos de Saito se focavam no horizonte da folha. O céu estrelado ainda tinha o seu vazio. Os olhos, agora avermelhados como se estivessem a um passo de arder em chamas, pareciam entender o contexto de tudo aquilo. Saito virou-se lentamente para Robin, revelando os olhos que vinha mantendo em segredo.

— Talvez nós precisemos compartilhar desse segredo para chegar ao xis da questão.

Os olhos de Robin se arregalaram quando viram os de Saito. Claramente ela havia se surpreendido com aquilo, mas talvez não entendesse completamente o significado.

— Saito-san — Disse a menina com a voz tremula — O que significa isso?

Saito deu uma ultima tragada em seu cigarro antes de arremessá-lo pela janela.

— Kayoshi, meu pai, minha mãe e ao que tudo indica essa mulher chamada Hitomi são membros do clã Uchiha, mas esconderam isso de mim e até onde sei de todos daqui do vilarejo — Disse enquanto se aproximava lentamente da mesa outra vez, retirando do bolso uma bala de menta que levou a boca.

— Isso quer dizer que você também é um Uchiha? Eu entendo agora como você pode ser tão forte e avançar tão rápido assim — Estava fácil de deduzir tudo aquilo, mas restava algo mais. Saito sentou-se, desta vez paralelo a Robin.

— Eu preciso que você mantenha esse segredo — Saito usava de um tom ríspido, mesmo que ainda amigável. Sua resposta veio como um aceno de cabeça em afirmação — Ao que parece, o conteúdo das cartas tem a ver comigo, só que abrem-se duas questões: Kayoshi desapareceu numa tentativa de forçar o despertar do sharingan ou as pessoas que estavam atrás de mim e que não sabem que sou eu quem elas procuram acabaram encontrando Kayoshi e o sequestraram?

— Calma! — Bradou Robin — Temos muito conteúdo pra averiguar agora que descobrimos essas cartas e parte do conteúdo delas. Vamos nos concentrar em descobrir onde podemos encontrar essa tal Hitomi e vamos arrancar a verdade dela.

Saito admirava a bravura da companheira. Fecho seus olhos e respirou fundo. Quando os abriu novamente já não fazia uso da técnica hereditária.

— Olha, acho que já conseguimos muita coisa hoje nesse pouco tempo extra que ficamos aqui. Precisamos descansar para dar continuidade amanhã a nossa busca. Você está dispensada — Saito levantou-se e começou a recolher as cartas, realocando-as dentro da caixa onde pertenciam.

Robin se levantou e se dirigiu até a porta um tanto quanto cabisbaixa.

— Então nos vemos amanhã, Saito-kun — Disse enquanto passava pela abertura, mas foi interrompida.

— Pra onde você ta indo? — A voz não era mais tão autoritária quanto outrora — Eu sei que você pode muito bem se cuidar sozinha, mas não acho uma boa ideia tentar a sorte andando por aí tão tarde desacompanhada. Eu perdi Kayoshi a pouco tempo por não estar lá, não vou deixar que aconteça o mesmo com você. Vou guardar essa caixa e te levo até sua casa.

Saito fez exatamente como havia falado. Realocou a caixa na sessão correspondente e acompanhou sua amiga até que estivesse em casa. Despediram-se com um olhar singelo e amigável e então deram fim aquele dia.