Já passava do horário devido para o retorno às atividades logo após o horário padrão de almoço. Todavia, Saito se mantinha no alto do prédio próximo do quartel general onde costumeiramente fazia suas refeições durante o intervalo disposto para tal. Sua mente vagava pelas palavras na escritura que na noite anterior foram encontradas e lidas pela sua mais fiel companheira Robin. Trechos que davam a entender que Saito nada mais era que o portador de uma espécie de profecia que o rotulava como herdeiro do sharingan o faziam ponderar acerca do motivo por trás de manterem sua linhagem em segredo.

Seus olhos rolaram pela paisagem como se buscasse a devida inspiração para clarear sua mente e esvazia-la o suficiente e não mais do que isso. As cadeias montanhosas em torno do vilarejo o faziam crer que não haviam muitas outras opções que não de fato sair em uma busca e apreensão. Hitomi era seu alvo, provavelmente uma Uchiha reclusa que nem ao menos o mais conhecedor dos aldeões saberia localizar. Ainda assim, haviam as cartas como meio de encontrar a remetente. Saito por um estopim de ideias momentâneo deu-se conta de que cada segundo perdido poderia colocar em risco a saúde da única pessoa naquele momento que poderia lhe entregar as respostas que almejava.

Abruptamente, apoiou-se no parapeito da construção com a destra e jogou-se contra o solo, deixando que a gravidade o guiasse pelos quinze metros que os separavam. Antes que pudesse se chocar e romper no mínimo uma dezena de ligamentos, inclinou o tronco para frente e efetuou um giro veloz, finalizando com o flexionar de seus joelhos para amortecer devidamente o choque. Como um ninja qualquer, o fez. Poucos passos foram responsáveis por guiar o jovem Saito até o interior do quartel general onde quase sempre poderia estar sendo encontrado. Enquanto passou pelo sujeito mal encarado na recepção, acenou com a cabeça, obtendo o mesmo movimento como resposta.

Duas batidas na porta que beiravam o romantismo em sua forma mais bruta.

— Robin, podemos falar um minuto? — Saito era cortês, mas apenas com a bela moça, dois anos mais velha, que se encontrava organizando os papéis da sala de seu superior.

— Claro, capitão! A sala é sua, já disse que não tem que bater quando for entrar — Brincou enquanto sedia um pouco do seu tempo a companheiro. Eram como uma boa dupla, quiçá a melhor da policia.

— Não consigo parar de pensar no que descobrimos ontem — A expressão apreensiva estampada deixava isso claro — Será que podemos continuar de onde paramos? Estou livre para este caso.

Aquilo animou muito mais sua aspirante do que poderia imaginar. Saito arregalou os olhos involuntariamente com o avanço que se deu por parte de Robin, abraçando-o como se não estivessem em ambiente de trabalho ou mesmo como se já o tivessem feito tantas outras vezes - não o fizeram. Aparentemente, a garota de cabelos loiros deu-se conta de que aquilo era no mínimo estranho, para não dizer o obvio: Ambos gostavam um do outro, mas não sabiam como dizer. O cheiro dos cabelos da espirante ficaram impregnados nas narinas do Uchiha, que se contentou com aquilo e procurou conter a empolgação.

— Me perdoe, capitão Saito — Disse Robin enquanto corada.

Saito não se viu em uma situação muito melhor e por incrível que pareça, seu intelecto avantajado não quis lhe ajudar a encontrar uma forma sucinta de se sobressair daquela situação minimamente inusitada na qual se meteram. Rompendo completamente o silêncio constrangedor que se instalou pela sala, o Uchiha pigarreou.

— Vamos sair em cinco minutos. Vou esperar você lá fora — Era a primeira vez que ambos tinham aquele momento, mesmo que a tensão existisse já a algum tempo. Saito preferiu reservar a integridade de ambos ao menos enquanto estivessem nas imediações do quartel general.

Saito retirou da embalagem e guiou até seus lábios um cigarro. Com ambas as mão apalpou cada um dos bolsos contidos em suas vestes, desde os externos até os internos, só então foi que se deu conta de ter esquecido em algum lugar o seu isqueiro. Vasculhou em cada canto de sua mente e falhou miseravelmente em encontrar vestígios da lembrança de onde poderia ter deixado o objetivo. Já estava prestes a recolher de sua boca o fumo quando ouviu uma voz familiar lhe dizer, amigavelmente as palavras que mais queria ouvir.

— Precisa de fogo? — Saito virou-se e se deparou com a figura de Kuro.

— A quanto tempo, Kuro. Achei que tivesse tirado férias — Brincou Saito.

O clima entre os dois não era dos melhores, isso desde a primeira vez que se encontraram e que Kuro recrutou o Uchiha. O sujeito estendeu a destra e cedeu ao jovem o seu isqueiro. Saito acendeu rapidamente e sem muitas tentativas o cigarro que lhe ajudaria a acalmar os nervos.

— Soube que está saindo em missão com sua protegida. Posso acompanha-los? — Kuro não deixava claro, mas de algum modo Saito soube que o homem sabia exatamente do que se tratava a sua missão.

Procurou em sua mente uma forma de desviar a conversa para um outro rumo e assim quem sabe se ver livre a companhia de Kuro, por mais grato que fosse pela oportunidade que tanto almejava desde mais novo. Entretanto, nenhuma das desculpas que conseguiu pensar naquele momento lhe pareciam realmente plausíveis. Com opção mais lógica dedicou toda sua atenção ao trago do cigarro que se deu por um periodo relativamente longo que permitiu ao silêncio se instaurar. Não apenas isso. Como uma salvadora de seu tão amado capitão, atravessou a entrada do quartel general a menina dos cabelos esbranquiçados.

— Estamos prontos, capitão — Disse Robin ao se aproximar. Carregava uma mochila na costa que prontamente roubou a atenção de Saito, que preferiu ficar em silêncio.

— E então, capitão. Eu posso acompanha-los? — Kuro insistiu e conseguiu arrancar do Uchiha um riso breve, como quem se lembra de algo.

— Na verdade, sargento — Saito enfatizou a diferença nas patentes de modo a lembrar o sujeito que já havia se tornado seu superior em tão pouco tempo — Eu tenho um trabalho diferente para você. A sessão de casos sem solução passará por uma vistoria na próxima segunda-feira e se bem me lembro, da última vez você ficou encarregado de organiza-la. Entretanto, estive lá na noite de ontem e percebi alguns documentos fora de ordem. Reorganize-os e assim que eu retornar irei inspecionar para ver se está adequada aos padrões. Vamos Robin.

Não despenderam de mais nem um segundo para sair da presença de Kuro, que não esbravejou, pisoteou ou mesmo relutou. Acatou a ordem com um sorriso inexplicavelmente orgulhoso, o que na realidade alertou Saito. Conhecendo por alto a personalidade daquele que o recrutou, sabia que não era do tipo que se submetia aquele tipo de situação sem reclamar ou mesmo dar inicio a uma discussão que facilmente levaria os dois a uma briga sem precedentes que rapidamente perderia completamente o controle. Ambos os dois possuíam personalidade forte e sabendo disso, o Uchiha preocupou-se.

Em sua mente passava a ideia, ainda considerada inusitada, de que talvez Kuro não estivesse solicitando fazer parte daquela missão por vontade própria. Considerou que poderia ser o caso de algum dos membros do alto escalão da policia militar, do que fazia parte a pouco mais de uma semana, estivesse afim de vigiar seus atos e as missões e buscas na qual vinha se dedicando. Para o mal ou para o bem, Saito dispensou o sujeito sem deixar brechas para que fosse possível argumentar contra tal decisão. O Uchiha acabou por chegar a conclusão de que talvez, pela primeira vez em algum tempo, havia conseguido abusar da sorte e não de seu intelecto mais avançado. E riu, dirigindo-se a passos vagarosos pela estrada que o levaria até o portão da aldeia. Robin estava ao seu lado.

A medida que se aproximavam do portão, Saito dedicou-se ao dialogo com Robin.

— Você tem uma ideia de por onde devemos começar, capitão? — Questionou a menina dos cabelos brancos.

— Na verdade não, mas tenho uma vaga ideia clara — Brincou Saito.

— Ideia vaga ou clara? — Sorriu Robin enquanto tirava sarro do jogo de palavras escolhidas pelo Uchiha.

— Você tem que parar de se divertir as minhas custas assim — Retrucou enquanto sorria de canto admirando por um instante o sorriso da companheira, sem que a mesma se desse conta.

As mãos seguiam em seus bolsos. Trajava as vestes que cada vez mais se tornavam seu padrão. O terno preto, a gravata bem alinhada. Estava sempre com classe desde que havia assumido um posto no quartel general e agora que estava em constante ascensão com relação as suas patentes, ainda mais. Seus olhos cor de ônix avistaram ao longe um dos guardas dentro da guarita acenando freneticamente.

— Robin, eu posso estar me confundindo, mas aquele guarda ali tá acenando pra gente? — Disse Saito.

— Com certeza. Você conhece? — Os olhos da garota se exprimiam, mas ela sabia o que estava vendo.

— Nunca vi aquele rosto na minha vida inteira. Não faz parte da corporação. Deve ter sido designado pro posto diretamente pela hokage — Saito seguia na mesma cadência, mesmo tendo agora alguém com quem falar.

Ao que se aproximaram.

— Peço desculpas, capitão Saito. Tenho uma mensagem para o senhor que chegou há algumas horas, mas infelizmente recebi ordens explicitas para não deixar meu posto enquanto não chegasse o segundo guarda — Sujeito que vinha acenando se pronunciou assim que o Uchiha e sua companheira chegaram perto.

— Desculpe, eu não me lembro do seu nome — Disse Saito, tentando contornar o fato de não ter nada em seu banco de dados mental que concernia àquele homem.

— Eu estava na mesma classe que você anos atrás na academia, mas você se formou tão cedo que não tivemos assim tanto convívio. O fato é que um senhor de idade, carregava duas espadas mas não acho que conseguiria utilizar, veio até aqui, dos arredores, e deixou essa carta para o senhor —  O garoto entregava o papel rusticamente dobrado ao oficial que lia o remetente e arregalava os olhos. Hitomi.

— Você disse que um senhor veio entregar isso? — Estava claramente apreensivo, entregou a carta fechada para Robin.

— Sim, senhor. Algum problema? — Retrucou o guarda, aparentemente preocupado.

— Não, nenhum. Apenas me responda. Quantas vezes esse sujeito veio até aqui entregar cartas? — Saito não queria ser especifico demais.

— Na verdade foi a primeira vez que o vi — O guarda respondeu.

— Quantas vezes você recebeu cartas endereçadas para Kayoshi? — Indagou inquieto.

— Toda semana chegavam cartas para o senhor Kayoshi, sempre entregues por uma pessoa diferente. Na verdade, só pararam de chegar quando ele sumiu — Respondeu.

Saito paralisou. Existia um padrão ali, um obscuro e sutil. Apesar de alegar receber a carta sempre de pessoas diferentes, esse fator em especifico denotava que apenas uma pessoa utilizando-se de uma técnica de transformação é que ia até a aldeia entregar as tais escrituras. Saito virou-se para Robin.

— Robin, acabamos por aqui. Irei retornar ao quartel general. A missão já pode ser dada como finalizada, você está dispensada por hoje.