Sua pericia em ilusões já vinha sendo trabalhada por anos até que chegou àquele ponto de sua satisfação. Saito não era o que pode-se chamar de mestre da arte do genjutsu, mas certamente não seria tido por qualquer oponente que o conhecesse previamente como um leigo qualquer ou minimamente estudado. Seu domínio sobre o cérebro do oponente era sem dúvidas um dos, se não o maior, trunfo dentro do seu relativamente limitado arsenal. Ainda contando com os olhos que foi agraciado ao acaso da descoberta acerca de sua linhagem, o que beneficiava-o e muito no uso rápido de suas técnicas.

Entre os saltos levianamente acrobáticos que evidenciavam o domínio medíocre dos movimentos de seu corpo mesmo mediante uma movimentação mais intensa, guiavam o esquadrão Ho, como foi chamado por Guts, na direção contrária ao grande muro que definia os limites do vilarejo. Saito levou a destra até o comunicador alocado em seu pescoço e ajustou a frequência — Mizu, na escuta? — Tentou chamar pelo esquadrão de Sengoku e obteve resposta clara do grupo à esquerda — Tsuchi? — Indagou, agora procurando noticias acerca do esquadrão que era liderado por Levi, recebendo como resposta um "tudo bem por aqui" que esbanjava certo teor de alivio do que estava á sua direita. O sharingan estampado sinalizava que sua atenção não seria roubada facilmente. Seus pensamentos se concentravam única e inteiramente na conclusão da missão e na obtenção de informações cruciais durante o percurso.

O espaço entre os galhos era percorrido de maneira veloz o suficiente para pessoas normais com a percepção relativamente mais baixa não conseguirem enxergar mais do que vultos negros. Entretanto, aqueles que se moviam ocultos pelas folhas das arvores se atentavam juntos a cada um dos detalhes que os cercavam. O fator primordial para que encontrassem aqueles que procuravam era identificar qualquer singela pista deixada. Seria relativamente difícil até mesmo para aqueles que tentam ocultar seus passos deixar o caminho pelo qual percorreram sem qualquer vestígio de sua passagem. Saito sabia muito bem disso e buscaria aproveitar tal fato para aniquilar a ameaça.

Sua destra levantou no que o grupo se viu no meio do percurso entre o posto mais próximo e a murada da aldeia. Aquele sinal era mais do que suficiente para parar com o avanço de seu grupo e com a canhota tocando o rádio, ao seu comando pararam todos os outros — Alto! A partir deste ponto todo nós abrimos um espaço de tempo considerável até que o apoio da direita chegue, neste caso precisamos seguir com cautela e nos atentar ainda mais aos vestígios que possam ter deixado para trás. Comuniquem qualquer descoberta como combinamos — Ao fim da frase o rapaz saltou da arvore direto para o solo e encarou o ambiente friamente. Buscava o menor sinal de interferência humana naquela paisagem.

Os olhos avermelhados cintilavam por todos os quatro cantos do seu campo de visão. Apesar de relativamente avantajada e bem desenvolvida a sua percepção das coisas ao seu redor e derredor, ainda fazia-se relativamente complexo encontrar os rastros daqueles malfeitores, o que levou o Uchiha naquele momento a considerar um fator importante: talvez já os estivessem aguardando — Fiquem atentos a qualquer armadilha e deixem o genin centralizado na formação — Enquanto andavam, o grupo liderado por Saito se posicionava da seguinte maneira. O comandante ia a frente, em sua retaguarda pouco mais atrás iria o ANBU designado para aquela missão, atrás deste o genin proficiente no uso de técnicas de rastreamento, a direita desse Feitan e paralelo ao espadachim, Mello.

O Uchiha parou e com seu ato todo o seu esquadrão fez o mesmo. O ANBU que os acompanhava saltou na direção do rapaz que o liderava e parando do seu lado disse, com a voz abafada pela mascara que escondia sua identidade — Comandante Saito, o que houve? — Como resposta o rapaz ofereceu apenas o seu silêncio e com o indicador da destra apontou para um amontoado de pedras em torno de cinzas e galhos parcialmente queimados. Haviam feito acampamento ali em algum momento, restava agora identificar à quanto haviam partido.

Não precisava ser nenhum mestre em rastreamento para definir aquilo como a pista mais concreta até o momento, todavia, ainda era preciso analisar com certa exatidão a direção a qual teriam tomado como rumo ao que retiraram-se dali e claro, a quanto tempo o teriam feito. Não há nenhuma brasa no fundo. Pensou consigo mesmo enquanto agachou-se e retirou do chão um graveto para espalhar as cinzas em busca de algum indicio de chama ainda viva. Faz pelo menos oito horas desde que saíram. Saito fazia suas analises em silêncio a fim de não perder-se em seus pensamentos.

— Vasculhem a área com muita cautela num raio de seis metros da fogueira — Sua ordem era sucinta e apenas o ANBU permanecia ao seu lado. Mello, Feitan e o genin chamado Kirito procuravam ao redor — Sabe que eles não estão por perto não é? — Indagou o caçador, carregando consideravelmente mais experiência naquele tipo de ação — A julgar pelo tempo que a chama se apagou, o inimigo tem o suficiente para terem saído para mapear os arredores para ganhar vantagem e retornar. É improvável, a julgar pela fogueira ter sido acesa aparentemente uma única vez, mas não quero que a gente acabe se deparando com uma armadilha deixada ao acaso. Além do mais, preciso ter ideia da direção que seguiram para dar mais foco na mesma enquanto avançamos até o posto. Não acho que estamos enfrentando um oponente descuidado. Não podemos ser também.

Não precisaria do sharingan para perceber que o ANBU espremia os olhos por trás da mascara como se analisasse o comandante da policia adiante — Você já pensou em entrar para o esquadrão de caçadores da ANBU, Saito? — Questionou a figura sombria. O Uchiha em verdade já havia cogitado se candidatar, mas uma parcela de orgulho herdado pela linhagem sanguínea que irrigava seus músculos não permitia que o fizesse. Queria e apenas deste modo aceitaria, ser convidado por algum dos membros ou mesmo indicado ao posto pela própria sombra que protegia a aldeia.

— Na verdade não. Acho que meu perfil encaixa melhor no quartel general — Respondeu com mentira. Antes entretanto que pudesse haver uma tréplica, o genin bradou ter encontrado algo. Que ironia. Pensou ao lembrar-se que julgava aquilo ser completamente errado. Não fazia sentido ter ali dois chunin exercendo sua função de aspirantes da policia militar e ainda assim um shinobi recém formado estar se destacando — O que achou? — Indagou Saito enquanto se levantava e mirava o lugar com seus olhos avermelhados — Uma única pegada no musgo — Respondeu apontando para o lugar — Os demais continuem procurando num raio de dez metros da pegada — Saito avançou em um salto veloz na direção do genin e passou a analisar a pegada. Claramente, a julgar pela forma como feriu o musgo, o sujeito que a deixou estava se impulsionando para fora dali com pressa. Julgou ser um homem adulto pelo tamanho do rastro deixado.

Ademais as informações coletadas naquela misera descoberta, tinham ao menos a direção na qual os sujeitos poderiam ter fugido, a mesma na qual se posicionava àquela altura a equipe Mizu, comandada pelo companheiro de Saito, Sengoku. Me pergunto se aquele cara está bem. O jovem Uchiha não pensava em mais nada que não fosse a resolução da missão e por isso preocupava-se com o estado das outras equipes. Já havia um certo tempo desde a última vez em que estabeleceram contato e porquanto Saito levou a destra até o comunicador em seu pescoço.

— Esquadrão, Mizu! Na escuta? — Indagou com voz firme — Na escuta. Qual a situação? — Retrucou Sengoku — Ouça com atenção. Identificamos no nosso perímetro uma fogueira apagada a pelo menos oito horas. Fizemos uma busca num raio de cinco metros e encontramos uma pegada no musgo que indica que foram na sua direção. Se saíram antes da última brasa queimar, ao menos oito horas de vantagem sobre nós é o que eles tem. Fique de olho e repasse a informação para a equipe subsequente. Parece ter sido deixada por um homem adulto, não sei definir o peso ao certo. Cambio e desligo — Com o fim da notificação, Saito virou-se para seu grupo e observou. Estavam concluindo a primeira parte daquele segundo ato.