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Já fazia algum tempo desde que me graduei na academia, desde então, sempre estive pulando de missão em missão não necessariamente por obrigação, mas porque essa era a maneira mais fácil de alcançar meu objetivo ou pelo menos era nisso que eu acreditava. Infelizmente o que eu buscava não era algo tão simplório como uma promoção, reconhecimento ou dinheiro, não, o que eu realmente queria era um desafio que me fizesse sentir vivo, a adrenalina de um desafio de vida ou morte, aquele breve intervalo de tempo onde sua vida passa diante de seus olhos e tudo parece tão fútil diante aquele momento, o desespero de perder ou ganhar tudo, a ansiedade pelo resultado de um embate direto, o medo de fracassar e a satisfação por destruir a esperança de seu adversário, tudo isso e mais podia ser sentido em apenas alguns segundos e era exatamente isso que tornava esses momentos tão únicos e dignos de apreciação.  

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Toda essa rotina desesperadora me rendeu o cargo de Jonin da folha em um curto espaço de tempo, mas eu ainda me sentia vazio, sem perspectivas ou grandes objetivos, tudo que fazia era concluir a missão à minha frente sem questionar os motivos apenas queria a emoção que ela poderia me proporcionar, os moradores da vila me reconheciam pelo meu esforço e até me achavam um ninja confiável, mas será que eu realmente merecia essa confiança? Se um dia precisasse matá-los, faria sem me questionar também? Herói, vilão, lealdade? Tudo isso se tornava cada vez mais turvo enquanto afundava no abismo de sangue à minha frente.

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- Você não devia estar aqui. - Comentei ao sentir a aproximação de um chakra familiar, era meu professor da época da academia. - Os monumentos dos Hokages? Esse lugar é público pelo que lembre. - Sua típica ironia me tirou um leve riso. - O que faz aqui em cima sozinho? Pensando que seria divertido afundar a vila com sua areia? - Me virei com um leve sorriso no rosto. - Quase isso eu acho, mas agora que você comentou acho que seria interessante ver a reação da população. - Fui me aproximando até que estivéssemos poucos centímetros um do outro. -  Um comediante nato. - E então em meio a um riso amigável nos abraçamos. - Já faz algum tempo, sensei. - Me afastei um pouco. - E olha para você, se tornou um Jonin e me superou, acho que estou realmente ficando velho e ultrapassado.

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Sobre o monumento dos Hokages nos sentamos, aproveitando a brisa do fim de tarde enquanto nossos olhos se perdiam sobre a vila. - Se veio até aqui algo está lhe incomodando, não é? - Acho que eu realmente era bem previsível, ou estivesse em uma situação óbvia. - … Sim. - Comentei em meio a um suspiro. - Sabe, desde sempre as pessoas me disseram que se eu fizesse tudo “certo” um dia alcançaria meus sonhos e objetivos. - Soltei um riso fraco. - E por muito tempo meu único objetivo foi encontrar situações que me fizessem sentir vivo, um desafio grandioso que superasse minha kekkei genkai que me impedia de alcançar esse sentimento. - Peguei algumas folhas que estavam caindo. - Me agarrei a esse objetivo missão após missão, seguindo as ordens como um bom soldado, salvei pessoas e matei muitas outras, algumas situações realmente me testaram e levaram ao extremo, vi companheiros morrer diante aos meus olhos sem poder fazer nada e tirei vida de pessoas que me imploraram por suas vidas antes de esmaga-los em meio a areia negra. - Abri a mão deixando a leve brisa levar as folhas.

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- A questão é que… Depois de presenciar tantos sentimentos conflitantes diferentes ainda me sinto incompleto, digo, é realmente só isso? Seguir como um monstro em busca de mais sangue? - Um silêncio estranho se estabeleceu entre nós dois, talvez eu tenha pensado e falado demais? Talvez, nem mesmo eu sei porque estava dizendo tudo isso para o sensei que não via desde a época da academia, acho que eu só queria colocar tudo isso para fora.

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Depois de alguns segundos em silêncio meu antigo sensei se levantou e caminhou até a borda do monumento. - Você sempre foi um estudante brilhante, eu sabia desde aquela época que você seria teria um futuro promissor pela frente, mas eu fui descuidado, me perdoe Kain. - Eu vi o homem que chamei de mestre e me ensinou tanto se curvar na minha frente e pedir desculpas. - Me desculpe, eu falhei como educador. - Meus olhos quase saltaram do rosto, senti um nó na garganta e fiquei sem saber o que dizer ou fazer. - Crianças talentosas como você raramente passam pela academia e eu as invejo, afinal de contas vocês terão tantas oportunidades na vida, mas esse pensamento me fez esquecer que vocês ainda são apenas crianças perdidas nessa era de tantas incertezas, tratados como soldados sem alma… - Voltei meu olhar cabisbaixo para vila, eu não sabia o que dizer ou sentir, acho que nunca soube, mas suas palavras me tocaram de uma forma diferente.

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- Você não tem que se desculpar por nada… Eu virei um ninja porque quis, ninguém me disse que seria uma vida gloriosa, me prometeram adrenalina e morte e foi isso que eu obtive, não tenho que reclamar disso. - Olhei para minhas próprias mãos. - Eu só não sei mais o que buscar, sinto que cheguei em um ponto perigoso que pode não ter mais volta. - Meu sensei se aproximou e colocou uma de suas mãos sobre meu ombro. - Você sempre pode escolher mudar, não há problema em errar, os erros nos ensinam mais que nossos acertos. - Assenti com a cabeça. - Sabe, em uma de minhas últimas missões eu matei uma criança, ela devia ter uns dez anos, mas suas mãos sequer tremiam quando segurava uma kunai. Ela tentou me apunhalar, huh, a areia lhe esmagou por puro reflexo e ela sequer teve tempo de reagir. - De pé sobre o monumento me virei para meu mestre com um sorriso cansado no rosto.

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- Estamos sempre em guerra e fui aclamado como um herói por matar aquela criança de uma terra estrangeira que estava apenas lutando para se manter viva, mesmo que me chamem de herói por isso sei que sou o vilão da muitos outros. - Comecei a caminhar em direção a vila novamente. - A vida de um ninja é realmente repleta de tragédias Kain, mas você está errado se pensa que todos estamos nessa vida porque achamos que estamos do lado certo, cada um se torna ninja por um motivo, alguns querem apenas se sentir vivos no campo de batalha como você, mas outros estão nesta vida para proteger alguma coisa. - Parei de caminhar. - Proteger? - Questionei. - A maioria dos ninjas da folha lutam pela vontade do fogo. - Deixei um riso escapar. - Claro, com todo respeito mas isso é quase lavagem cerebral. - A famosa vontade que fazia os ninjas lutarem pelo bem da vila acima de tudo, acho que no fim eu também estava infectado por ela.

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- Você pode chamar como quiser, mas a verdade é que todos precisam de um motivo para lutar, seja vaidade ou um objetivo maior, eu espero que você encontre o sentido que busca no banho de sangue antes que se afogue, Kain. - E com essas palavras meu sensei também retornou a vila saltando entre as rochas. - A vontade do fogo? - E de cima do monumento, observando a vila deixei aquelas palavras soltas ao vento, um propósito além da matança sem sentido? Proteger a vila? Meus companheiros? Eu não sei se conseguia entender esses conceitos tão bem, mas e se a resposta realmente que eu buscava estivesse à minha frente todo esse tempo?