Pandora não tinha muito a fazer naquela noite estranhamente quente em Iwa, desde a viagem de Kaginimaru que ela assumira outra função, dentre as inúmeras que já tinha. Ninjas fazendo missões e Cassyana buscando uma nova graduação para evoluir na carreira shinobi. Restava à médica de cabelos negros os inéditos estudos para desenvolver seus conhecimentos, afinal de contas, ainda havia um risco espalhado no mundo. Algo que o marido e Tsuchikage tinha dito a ela há tempos era o fato de as habilidades do inimigo do mundo ninja, de acordo com a posição dos Senhores Feudais do País do Relâmpago, eram similares às de uma antiga colega: Jaina. — Hmmmm... Vou aproveitar este tempo para ver o que descubro sobre isso... Vamos Cammy, temos muito a estudar... —

Os passos delas, na direção da biblioteca da vila, eram simples e cautelosos, como de costume. Pandora não estava distraída naquela ocasião, pois atuava como verdadeira guardiã, por mais estranho que isso pudesse parecer. No local, a mulher pegaria um livro conhecido por tratar de descrições gerais de algumas linhagens avançadas de clãs, com destaque para os portadores de olhos vermelhos: os tais usuários de Sharingan, algo que a própria Fênix Negra já tinha visto em seus estudos anteriores. "Talvez uma pequena mudança de foco seja necessária para que eu me mantenha atenta a tudo que está acontecendo por aqui... Dizem que são olhos diferentes dos convencionais... Certo, é claro. No País das Ondas, naquela incursão, eu vi algo bastante incomum utilizado por aquele Squall. Pode vir de algo assim?... Ou aquilo poderia ser um simples ninjutsu dele em forma de massa de energia..."

Leituras de páginas e mais páginas, levariam, inevitavelmente, ao conhecimento almejado por Pandora. Seria questão de tempo para que o compilado de informações descritas ali, sobre as habilidades mais avançadas da Kekkei Genkai dos olhos virgulados começassem a aparecer e se destacar. Como tudo no universo, a evolução era algo marcante para a linhagem daqueles usuários de olhos malucos. "Como isso pode ser possível? Além da evolução primária, natural dos portadores desses olhos, ainda é possível alcançar um desenvolvimento único de acordo com cada habilidade inerente ao próprio ser?..." Pararia de pensar, fechando o livro, pesado, diante dela. Inclinaria a cabeça para trás, buscando absorver mentalmente as informações daqueles livros.

Na mesa ao lado, a clone produzida em laboratório continuaria a ler a enciclopédia que havia pego de uma das prateleiras da construção educativa. Ela, talvez por ser mais imatura que a Sasaukage, leria com mais cautela e mais pausadamente. Mesmo muito inteligente, não tinha talentos da árvore até a genialidade de sua mestre. A quantidade de informações nos compêndios lidos no decorrer daquele dia diferente. A loira respiraria fundo e ergueria o olhar para a Heinstein. _Não acho que vamos obter muitas informações além dessas aqui?... Conversar com mais experientes não seria mais efetivo, Senhora Pandora?  

Pandora olharia de lado para a clone com expressão séria depois do comentário, mas não diria nada além de se levantar. Balançando a cabeça negativamente, colocava a pensar sobre as informações daquela estranha habilidade sanguínea. — Sim, mas a Felícia não está em Iwa para ajudar com isso... — Mesmo parecendo óbvia a outra opção, Cammy revelaria seu pensamento. _Seu avô então? Pandora apenas muxoxaria, andando mais rápido já deixando a loira para trás. O destino era sua antiga residência, onde encontrar-se-ia com seu avô. A experiência do velhote no mundo seria, sem sombra de dúvidas, útil para esclarecimentos sobre aquela estranha habilidade sanguínea.

— Velhote, preciso de ajuda com uma coisa... — Diria, já entrando na casa do avô, buscando-o o velho sentado no sofá, como sempre costumava ficar. — Estou estudando sobre uma habilidade avançada do tal Sharingan... Alguns livros indicam isso como uma evolução natural da habilidade. Sabe alguma coisa que seja relevante? — O velho homem de cabelos brancos e barba de mesma tonalidade tomaria um gole em seu cantil. _Mangekyö...? Pandora arquearia a sobrancelha com a revelação do nome dito pelo avô. — Não sei, esse é o nome da habilidade? — Por mais óbvio que pudesse parecer, o nome chamaria bastante atenção da Heinstein, que seguiria até o sofá e tomaria posição de frente para o velhote.

Ele finalmente começaria a dizer as informações que tinha em razão de sua vastíssima experiência em campo e no mar, tudo que já tinha visto e ouvido falar sobre aquela estranha técnica decorrente de uma linguagem sanguínea avançada. O que mais se destacaria seria a possibilidade de acesso a jutsus especiais e de poderes variados. _A coisa mais especial que já vi sobre esses olhos malucos são os poderes de observação, quase podiam predizer o que estava acontecendo em volta deles. Uma habilidade realmente difícil de se levar... A morena respiraria fundo, observando o avô, enquanto ele fazia outros relatos.

As informações trazidas pelo avô da morena era, em grande parte, reveladoras eram absorvidas e paulatinamente interpretadas pela inteligência excepcional de Pandora. Ela não podia acreditar que olhos pudessem dar a seu usuário capacidades como as relatadas. Ainda pensava em tudo que o velhote tinha dito quando ele faria questão de interromper quaisquer conjecturas que a mente criativa genial da neta pudesse criar. _E tem mais... Ao que parece, cada tipo de olho é especial e dá acesso a jutsus diferentes e bastante peculiares... A kunoichi apenas fecharia os olhos e respiraria fundo, pois aquilo confirmava algo que Kaginimaru já tinha falado há tempos.

"Entendo, quer dizer que a tal dimensão estranha que o Kagi disse ter sido teletransportado. Mas o que realmente esses olhos podem fazer? Essa é uma questão interessante a se pensar..." O antigo capitão do mar pararia de falar para ver Cammy entrar na casa e tomar lugar ao lado de sua mestre, algo que também faria a morena suspirar. — Você já viu ou enfrentou algo assim? Esse tal de Mangekyö...? — O velho, para criar uma atmosfera de suspense, como sempre gostava, faria uma longa pausa para beber o líquido alcoólico em seu cantil. _Sim... Aquela coisa parecia um humanoide formado de chakra puro e o sujeito disse que era um dos poderes oculares deles...

Relembrar é viver e Pandora já tinha visto algo similar ao que o avô estava contando. Automaticamente, vinha a sua mente a luta de ninja de Konoha que liderava o time de infiltração na Vila das Ondas. "É claro. Ele tinha dito que possuía a mesma Kekkei Genkai daquela magrela que sumiu e o Kaginimaru me disse que o tal Shin usava uma técnica parecida com ela. Então é isso. Técnicas especiais quase mágicas por conta do doujutsu maluco que eles trazem em sua linhagem sanguínea..." Ela pensava, enquanto seu avô se levantava e caminhava na direção de um cômodo trancado. A morena nunca tinha reparado que aquele móvel sempre permanecia trancado com a chave que o velhote sempre carregava.

O capitão do mar abriria aquele cadeado e, na sequência, procuraria entre diversos papeis e pergaminhos algo específico para aquela ocasião. Ele lançaria na direção da neta um pergaminho que era pego pela morena ainda no ar. _Parece que investiu bem em destreza, Senhora Pandora... O comentário feito pela clone era totalmente ignorado pelos demais presentes, por inoportuno. Enquanto a Sasaukage começava a ler as informações contidas naquele item, seu avô continuaria com histórias antigas de navegações. Um verdadeiro conto de pirata e do quão todo o alvo de pesquisa podia se mostrar importante em um combate. _Nosso bardo escreveu isso durante uma viagem. Pode te ajudar com outros detalhes... Se conseguir identificar o padrão do código dele...

Aos olhos da kunoichi, homens que passavam muito tempo embarcados tinham hábitos e manias estranhas. Talvez estes fossem mais simples de se entender do que aquele código. — Mas isso são apenas números... — Ao comentário feito pela morena, o homem reagiria bebendo um pouco mais de seu cantil. _Ora Panda, informações raras são raras de se conseguir... O velhote receberia o olhar de descontentamento, antes de prosseguir. _Acredito que tenha relatos de todos os tripulantes do barco neste pergaminho. Pode lhe ser bastante útil. Por não ter mais o que falar, ele deixaria a sala, caminhando na direção das escadas para se recolher.

Embora já estivesse relativamente tarde, Pandora começaria a buscar interpretar aquele código para decifrá-lo. Cammy, por sua vez, também seguiria para o quarto onde a bebê estava. Aquilo demandaria bastante foco da morena que colocaria toda sua atenção e inteligência naquela empreitada. Segundo seu avô, naquele texto poderia encontrar informações sobre a habilidade que debruçava grande quantidade de tempo para aprimorar seus conhecimentos gerais e, assim, obter mais poder em possível conflito futuro contra aquela Kekkei Genkai. A obtenção do êxito no ato de decifrar o código lhe daria acesso a questões que nunca imaginaria virem de um simples bardo em um navio de comerciantes e ninjas.

O melhor dos números para Pandora era 10, embora para algumas pessoas pudesse ser o 73, algo que ela percebera depois de horas buscando interpretar aquelas informações descritas no pergaminho do bardo. Por mais estranho que pudesse parecer, um sistema complexo baseado apenas no que era binário. A realidade era que o código representava a dualidade entre o 0 e o 1. O zero, seria o nada que necessitava de seu completo: o 1. Este, por sua vez, poderia ser interpretado como a existência singular da unidade. Juntos, como binários, construiriam o sistema capaz de se traduzir em palavras. Os pares, equilibrados, eram capazes de grandes feitos, algo da própria natureza.

Ela nem tinha notado que, mesmo genial, levara toda a noite para decifrar o código e poder ler as anotações daquele abençoado pergaminho. Mesmo em verso poéticos com bastante musicalidade, algo digno de um verdadeiro bardo marinheiro, que não representava a preferência literária da kunoichi, ela se contentava facilmente com as informações. Eram descrições básicas, possivelmente coletadas depois da colheita de experiência fantásticas (quase fantasiosas) das fontes do autor. Chamas negras que nunca se apagariam até consumir o que atingissem, manipulação magnética de armas através dos olhos, genjutsus capazes de controlar até o tempo e o espaço, além das já mencionadas anteriormente pelo velhote.

— Nomes interessantes para técnicas oculares, mas meio fantástico e herege, eu diria... — Falaria para si mesma, respirando fundo, logo começando a ouvir o choro da filha no quarto ao lado. Mentalmente, repetiria os nomes das técnicas como descritas naquele pergaminho peculiar: Amaterasu, Manipulação de objetos, Tsukuyomi, Kamui e Susanoo.