"Muramassa” - Repetia aquele nome mentalmente enquanto deixava o gabinete do Hokage. Saltei de prédio em prédio, usando dos parapeitos desses como ponto de apoio para pousar meus pés, flexionar as pernas outra vez, e me lançar para o próximo. Já era quase 2 da manhã, mas sono era a última coisa que sentia naquele momento. Andei pelo local com um rumo em mente; e quando finalmente cheguei, avistei o local vazio e aproveitei para ficar ali sozinho, como gostava de fazer. Olhei para aquela pedra memorial, com o desgosto na boca pelo traídor que tinha o nome estampado ali, como um falso herói, declarado assim apenas para encobrir as sujeiras feitas pelos poderosos. Suspirei, cansado; não adiantava ficar brigando em volta daquele assunto. Mas, pelo menos por agora, queria ficar ali, quieto e sozinho, perdido nos meus próprios pensamentos.

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Fiquei ali por um bom tempo, sem falar nada. Meus olhos ficaram fixos no mesmo lugar o tempo todo. Minha expressão vazia de sempre se mantinha presente, mas minha atenção voltou quando ouvi passos atrás de mim, alguém correndo. Apenas virei minha cabeça de lado, olhando pelo canto o olho. A surpresa foi quando não vi uma pessoa cruzando pelos arbustos, mas sim um... cachorro!? Mas o que... - Pensei, mas sem me virar. Ouvi alguns gritos de alguém vindo mais atrás, chamando o cachorro. No último lugar do mundo onde achei que encontraria alguém, bem no meio da madrugada, ali estava eu, olhando praquela miniatura de cachorro latindo pra mim. Uma menina saiu do meio dos arbustos, correndo atrás dele em seguida. Não era nem muito alta nem muito baixa, tinha cabelos curtos, e suas mãos estavam cobertas por uma faixa suja. Assim que ela pegou o pequeno cachorro no colo, rapidamente me interrogou, sem sequer pestanejar. Suspirei, pego de surpresa por uma pessoa aparecer do nada correndo no meio da floresta àquela hora da noite. Deixei um silêncio no ar por alguns momentos antes de responder. - Poderia te perguntar a mesma coisa. Quem chegou correndo foi você - Coloquei uma das mãos na cintura, apenas observando qual seria a reação.

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Mantive o olhar direto, firme. Observei os detalhes em sua roupa, que acabaram chamando minha atenção. O olhar dela era direto e firme, surpreendente pra alguém que aparentava ser tão nova. "Alguém como eu? Nossa.” - Brinquei mentalmente, enquanto percebia o semblante dela mudando quando olhou para a pedra atrás de mim. De repente, quando me olhou de novo, abriu um pequeno sorriso. Abri um pouco meus olhos, franzindo a teste de leve. Aquele sorriso me lembrava o de uma outra pessoa que não via há tanto tempo... as vezes era até fácil esquecer seu rosto. Suspirei pesado, e voltei à realidade quando ela perguntou sobre a pedra. Virei a cabeça de lado, olhando de canto para a lápide. Meu semblante descaiu um pouco, lembrando de tudo que aconteceu. Quase morto por meu próprio pai adotivo. Que história. Voltei à olhar pra frente quando ela finalmente se apresentou. "Talvez eu realmente seja meio babaca demais as vezes. Acho que uma vez na vida não fará mal.”
- Pode se dizer que sim. Mas é uma longa história. Uchiha Squall  - Falei, olhando para a mão dela. Apesar de ter relutado um pouco, aceitei o gesto e estendi minha própria mão, mantendo meu olhar fechado como sempre, concordando com a cabeça quando ela apresentou o cachorro também. - Só costumo vir aqui pra ficar sozinho e pensar as vezes. E você, o que faz aqui? - Perguntei enquanto trazia minha mão para trás de volta. O toque daquela faixa sobre as mãos dela mostrava que ela não era uma fracote qualquer.

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Parece que as faixas em suas mãos tinha mais história pra contar do que eu podia imaginar. O olhar sereno da garota era o mesmo de antes, bem como seu sorriso. A pergunta anterior encheu minha mente com lembranças. Com desejo de vingança. Meu olhar se fechou mais m pouco em reação aos pensamentos, sem nem sequer eu notar. "Objetivo maior, ein?” Senti meus punhos fechando, então levantei meu rosto, olhando para céu, enquanto o vento balançava meu cabelo - Então temos algo em comum - Falei, ainda de olhos fechados olhando para o alto. A última pergunta foi o que me pegou de surpresa; não esperava por aquela. Pensei em abrir minha boca pra responder na hora, mas qualquer coisa que eu pensava em responder fazia eu lembrar de meu colega de equipe e a Amyio me lembrando que era verdade. Ah, podia verdade mas tinha minhas razões. Tanto faz, aqui estou eu perdido em pensamentos de novo enquanto deixo alguém falando sem resposta - Talvez. As vezes - Brinquei, olhando de volta pra ela, com uma das mãos na cintura, sorrindo de leve por um breve momento. Logo voltei à expressão normal, olhando para o cachorro - Seu companheiro? - Perguntei. Não era de perguntar sobre os outros, mas encontrar alguém como ela no meio da madrugada em um lugar tão remoto era uma oportunidade meio rara, então porque não? Mas talvez também tivesse algo a ver com o fato daquele sorriso me trazer lembranças do passado. Cada instante olhando pra ele me fazia voltar no tempo.

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A menina sorridente chegou mais perto, logo se sentando no chão. Observei sua maneira de lidar com o pequeno "cãopanheiro" como chamou, e era intrigante a afinidade entre os dois, a calma com que ela lidava com ele, seu carinho com o pequeno animal. Dava pra ver que a ligação entre os dois eram maior do que a de muitas pessoas entre si. Mas, aquele belo sorriso desapareceu tão logo ela citou um evento passado. Ouvi quieto enquanto ela explicava o que aconteceu com seu pai, um ferreiro. De repente, caiu a ficha. "É claro... as faixas, suas mãos... elas trabalhava com isso. Negócio da família, pelo jeito” - me peguei pensando, enquanto olhava de novo para as faixas em suas mãos. Normalmente eu não ligo muito para os problemas dos outros, de nenhum tipo, mas o sentimento de tristeza era tão forte que até eu conseguia sentir. Sentei-me próximo, ao lado dela, e levantei o rosto para o céu estrelado daquela madrugada. Fiquei alguns segundos procurando pelas palavras certas antes de falar - Sinto muito. Eu sei como é perder todos. Mas pelo jeito, você tem trabalhado arduamente, acho que da pra dizer que você história dele - lancei, sem querer ser intrometido ou inconveniente. Era realmente um elogio sincero.

A sua última pergunta veio acompanhada de outro sorriso seu, mudando um pouco o tom da conversa para o que estava antes. "Uma espada... acho que aquela é a única na qual consigo pensar” - Pensei, lembrando da espada que me antigo mestre e pai adotivo usava. A mesma que usou para tentar me matar. - Tem um tipo que sempre me chamou a atenção, mas é meio diferente - falei, enquanto puxava de meu bolso uma pequena foto e mostrava para ela. Era um fato; havia muito mais naquela menina do que se podia ver à primeira vista. - E então, qual é esse seu maior objetivo? - perguntei. Nunca fui de puxar assunto, mas algumas pessoas conseguiam fazer isso mudar em mim, mesmo que só por um momento.

Imagem da espada:

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O elogio foi bem recebido. Menos mal; socializar não é bem minha especialidade. Suspirei, tranquilo, quando notei a reação da garota. Seu comentário sobre a arma trouxe uma mistura de alegria e amargura; o fato dela ter se oferecido de própria vontade para fazer algo parecido me chocou. Era a primeira pessoa à agir de bom coração daquela forma, pelo menos comigo. A amargura, bem... lembrar das coisas que passei nas mãos daquela mesma arma ainda me atormentavam. Mas não era momento pra isso. Tirei esses pensamentos da cabeça, e voltei a olhar pra ela pelo canto do olho, quando notei a leve risada dele em resposta. "Ela é uma pessoa tão espontânea” - observei, depois de diferentes reações da garota, que parecia levar tudo na intensidade. Não era alguém rasa, que fingia emoções, ou que simplesmente era indiferente. Bem diferente de alguém como eu, que se escondia atrás de um olhar fechado. Enfim, lá estava eu, pensando demais de novo, como sempre. Tudo passou quando ela começou a contar uma história.

"... tão nova, e já viu tudo isso? Que merda...” - Me peguei pensando, olhando para cima.

Nem precisei olhar para ela pra sentir o que ela sentia. Sua voz carregava o peso que estava dentro do seu peito. E pela primeira vez em muito tempo, senti como a dor de outra pessoa. Não que eu normalmente não sinta; mas costumo guardar minhas emoções só pra mim mesmo. Mas essa situação é diferente, não dava pra simplesmente ignorar como sempre faço. Vi as mãos enfaixadas dela se fechando com força de novo, assim que falou de sua vingança - Eu... sinto muito. - Falei, mas ainda olhando para cima. - Pelo menos, não sou o único atrás de uma vingança então.  Também tem alguém... com quem preciso acertar as contas. Nunca fui de falar nada sobre minha vida pros outros. Nem minha sensei sabe sobre isso. Mas havia algo especial na garota que me fez querer falar, então preferi nem pensar, só deixar ir. Talvez... alguém que também busque por sua própria vingança fosse capaz de entender.

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A pergunta dela veio como uma flecha. Falar daquilo era complicado, não tinha jeito. O toque de sua mão sob meu ombro trouxe um pouco de reconforto, acho que até facilitou um pouco, se tratando daquele assunto. Levantei meu rosto, deixando a brisa fria da madrugada levar meus cabelos de um lado para outro enquanto eu procurava pelas palavras certas - Não tem muito tempo que meu pai adotivo e ex-mentor desertou da vila e tentou me matar no processo - Fui direto. Nunca fui bom em fazer rodeios pra falar.

Senti meu peito se encher das mesmas dúvidas de antes. Eu queria muito acertar as contas com ele, e logo, mas eu ainda era fraco demais para isso. Senti meus punhos se fechando, só de pensar nisso, e de lembrar do convite daquele homem estranho, me chamando para ir atrás dele em busca de poder. "Muramasa...” - Repeti seu nome mentalmente. Por um lado, o desejo de proteger esse lugar e as pessoas importantes pra mim era grande, mas por outro... o desejo por essa vingança quase me consumia. Bom, talvez o fato de ter pessoas com ela ali fosse mais um motivo pra esquecer isso. - Bom, pelo menos por causa disso, hoje meus olhos veem tudo diferente. - O dia em que ele quase me matou, também foi o dia em que o Sharingan nasceu em meus olhos. Levantei-me devagar, lembrando que o dia do Torneio era amanhã; e ainda precisava treinar algumas coisas. Parei logo à frente dela, e estendi minha mão para ajudá-la à levantar. Caso ela aceite o gesto, daria um pequeno sorriso enquanto me virava e caminhava na direção da mata. Após alguns passos, pararia, virando a cabeça de lado para vê-la uma última vez - - Espero que possamos nos ver de novo - Falei, voltando à caminhar em seguida.

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