MD3 - I

Não fazia tanto tempo desde que Satoshi havia sido acolhido pelo orfanato de Kirigakure no Sato. Não conhecia praticamente ninguém, para não se referir de uma maneira extrema. Sua única obrigação consistia em ir para a academia ninja, estudar dentre as três principais vertentes das habilidades deste grupo militar, para que pudesse se formar e um dia servir ao país que havia o tirado da miséria. Sendo assim, por que não estabelecer esta como a sua nova meta? Além do mais, o menino realmente estava carente de objetivos, de amizades e, de uma maneira mais figurada, vida nova. Entretanto, se deveria se formar na academia ninja, então faria o máximo possível para que fosse com a maior nota.

Observou alguns dos seus colegas de turma, entendendo que as suas notas não eram as maiores da classe, como havia planejado. De toda forma, não era como se Satoshi tivesse o costume de desistir, no que gostaria de galgar um à um dos degraus. O primeiro deles se tratava de um outro menino, que tinha notas bem próximas das suas, é verdade, mas que eram maiores ainda assim. Pois bem, seria justamente aquele outro garoto da sua idade que receberia o primeiro desafio competitivo pensado como um desempate. Deveras imaturo, mas que até poderia se encaixar normalmente no tipo de pensamento de uma criança de dez anos.

Esperou até o momento do intervalo para que pudesse se aproximar do colega de classe, e por mais anormal que pudesse aparentar, Satoshi não conseguia recordar de maneira alguma o nome da outra criança que gostaria de desafiar. -- Eae, cara. Como você se chama mesmo? - Sendo o pior de tudo o fato de não acompanhar o raciocínio do nome, deixando-o escapar por entre as orelhas. -- O meu nome é Satoshi, e eu tenho observado que se há um desafiante digno de me enfrentar na nossa turma, esse cara é você! - Tampouco humilde, o que possivelmente deveria ser o ponto em comum de ambos os meninos.

Sem prolongar as apresentações, visto que inclusive já tinha deixado bem clara a sua intenção naquele instante, Satoshi prosseguiu com a proposta. -- Uma melhor de três! Isso mesmo. Funcionará da maneira mais simples, eu te desafio primeiro, você escolhe o segundo desafio e, caso ocorra um empate a esta altura do campeonato, faremos um terceiro desafio em consenso. - De fato, uma competição simples, com no máximo três rodadas e apenas um resultado final. -- Nem precisa esquentar com isso, te derrotarei na segunda rodada. Vamos lá, será no mínimo divertido! - Encerrava suas palavras com a aceitação do desafio por parte do seu agora adversário.

Não poderia deixar de sorrir animado com a resposta do colega -- Tudo bem, o primeiro desafio será uma corrida, duas voltas ao redor  da quadra da academia.  O vencedor marca o primeiro ponto. - Após explicar aquela primeira competição, Satoshi caminhou ao lado do seu rival, que embora tivesse a mesma idade era bem maior em termos de estatura, mas talvez o ponto da questão fosse que o de cabelo acinzentado era uma criança baixa.

Quando ambos estavam a postos, Satoshi abaixou-se para pegar uma pedrinha do chão a mostrando para o seu adversário de modo que, quando esta caísse ao solo, seria o momento ideal para a largada. Satoshi tinha certeza absoluta de que o outro menino daria o seu máximo para vencer o desafio proposto, visto que era tão confiante quanto ele mesmo. Sendo assim, não pouparia esforços desde o momento da arrancada. Ser menor parecia estar o ajudando quanto a disparada e até mesmo a resistência do seu corpo contra o ar, o que colocava-o frente ao seu rival desde o princípio do desafio. A primeira volta havia sido bem mais fácil para ser honesto, de modo que o peso da corrida e da sua baixa condição física, como era de se esperar de uma criança. Olhando brevemente para trás, percebia o outro menino mais lento, porém com melhor aparência, como se não estivesse tão cansado. Ele deveria conseguir manter uma corrida por mais tempo. Todavia, a corrida proposta por Satoshi havia sido curta, gerando uma vitória para o desafiante que havia explorado um dos seus pontos positivos. Estava feliz com a sua vitória, ainda que um pouco cansado.

Satoshi parou após o ponto de chegada com ambas as mãos sobre os joelhos. -- Ponto para mim, como eu disse que seria. Agora é a sua vez de escolher a segunda competição. - Terminou então suas palavras para que pudesse pegar um pouquinho mais de ar, ficando finalmente de pé, com as mãos escoradas na cintura.

Considerações:

pierrot.

MD3 - II

Como não acreditar que venceria com o primeiro ponto já marcado ao seu favor. Seu rival, cujo Satoshi sequer manteve a informação sobre o seu nome, precisaria de uma virada se quisesse superá-lo. Não somente, como também lidar com a pressão de começar perdendo, além da pequena pressão psicológica que o órfão tentava induzir em sua mente, mesmo sem tanta eficiência por falta de experiência ou técnica.

Entretanto, o que realmente aparentava era o contrário, com o Sarutobi conseguindo ler bem a condição de cansaço que estabelecia em seu corpo devido a intensa explosão da corrida.. -- VINTE VOLTAS?! Provavelmente nem você vai conseguir correr tudo isso antes do intervalo acabar! - Reclamou de imediato, cruzando os braços. Regra, era regra, o desafio não poderia ser rejeitado de maneira alguma. Vinte voltas somam uma distância relativamente curta, mas não para dois estudantes da academia que não muito vão além de crianças.

Sem delongas, Satoshi se posicionou para iniciar a nova corrida, negando instintivamente com a cabeça por saber que não se tratava de um obstáculo coerente para as suas capacidades, mas não poderia fazer nada além de aceitar e seguir em frente. -- Pode apostar que sim! - Afirmou sobre o comentário de ser divertido, ainda que estivesse receoso com a disputa, Satoshi era o tipo de menino que sempre curtia ser desafiado e assim, quem sabe, quebrar os seus próprios limites.

Com o cair da pedrinha no chão, o menino não poderia fazer algo oposto a sair correndo, mas desta vez cometendo o erro de repetir o seu fulgor máximo como havia sido na primeira rodada da melhor de três. As primeiras voltas eram novamente território dominado por Satoshi, contudo, considerava óbvio que perderia o seu gás impulsionador, e assim mesmo foi por volta da décima volta, quando começou a sentir seu corpo ficando mais pesado até que consequentemente o ritmo baixou.

De súbito, acabou sendo pego totalmente de surpresa pelo seu adversário, que passava correndo agora em seu pico máximo pela esquerda, e de tal forma já imaginava não ser mais capaz de alcançá-lo, ao menos naquela batalha. Não queria ser o tipo de cara que entregava os pontos, mas demoraria demais para conseguir completar as vinte voltas, e com o Sarutobi apenas caminhando para a linha de chegada, não havia mais nada a ser feito além de cair no chão já derrotado no segundo confronto. Um empate havia se estabelecido, diferentemente de como Satoshi havia contado no princípio.

Não esperava que o Sarutobi oferecesse a sua mão para que se levantasse. Parecia um tanto amistoso, talvez ao ponto de como o próprio Satoshi estaria se não houvesse optado por aparentar ser mais trancado, competitivo e arrogante. Poderia aprender um pouco mais com aquele outro menino, enxergava isso verdadeiramente. -- Ótima ideia! Será uma boa e velha queda de braço então. - Afirmava ao aceitar o gesto do outro para que pudesse se levantar do chão. -- … Mas eu já vou avisando que é muito difícil me derrotar quando estou sentindo o flow! - Finalizou com a sua frase de efeito.

Sentou-se em uma das mesas, colocando seu cotovelo direito bem apoiado sobre a superfície de madeira, fitando os olhos do rival com grande determinação. -- Então, Orgulho. O que acha de competirmos quem consegue comer mais sanduíches quando isso acabar? Eu já estou morrendo de fome! - Orgulho, era bem mais fácil chamá-lo assim do que lembrar seu verdadeiro nome, então desta forma seria. Quando ambas as palmas se entrelaçaram na chave da queda de braços, de imediato a tensão gerada pelo embate e teste de força dos dois garotos. Embora o que estivesse valendo fosse a força aplicada sobre a chave que iria decidir qual dos dois meninos seria o vencedor, Satoshi não deixou de olhar sequer um segundo nos olhos do seu adversário, ainda o encarando sem piscar, e quem observasse tal cena poderia jurar que faíscas colidiram a partir dos dois olhos. O confronto parecia não terminar ali, visto que a força física das duas crianças eram equivalentes. A verdade era que não poderia dizer concretamente qual dos dois sairia como o vitorioso, tal qual havia sido equilibrada a disputa até o ponto em que se encontravam naquele mesmo instante. O empate começava a se tornar uma realidade mais plausível do que outrora seria.

Considerações:

pierrot.

MD3 - III

Queda de braço, um esporte disputado por pura força, não somente física, mas também de vontade gerada apenas pelo desejo de ganhar. Nunca antes havia recebido qualquer apelido, seus pais não tinham o hábito de chamá-lo de qualquer coisa que não fosse o seu nome exato, e além disso não chegou a conviver com mais ninguém por tempo o suficiente para que um vínculo fosse formado. Não poderia dizer que preferia ser chamado pelo apelido do que por seu nome, mas também não achava tão ruim, de modo que permaneceu sem gerar qualquer comentário sobre este assunto específico. Era justo, visto que sequer lembrava o nome do outro, o chamando apenas de Orgulho.

O importante naquele momento, pelo menos, era a tensão de ambos os braços e qual seria o primeiro a derrubar seu adversário, assim sendo decretado o campeão da melhor de três mais disputada da vida de Satoshi, não que o houvessem tantas em seu histórico. Não sabia que iria se divertir tanto com a disputa, por mais que realmente se tratasse de uma personalidade competitiva e de frequente tentativa de evolução, juntamente com o esforço para provar a si mesmo que estava crescendo o bastante para ser capaz de se defender por conta própria.

Quando o limite de ambos chegou, não demorou tanto para que a sugestão do empate viesse por parte do colega, Orgulho. Sem muita ideia de como prosseguir, a única resposta aparente que o menino poderia descrever era a de que sim, o empate havia se tornado o único resultado válido. -- Tudo bem, eu concordo com o empate. - Afirmou largando a mão do seu colega, permitindo que um sorriso sincero se estampasse no seu rosto enquanto o rival gargalhava. O que havia uma menor chance de probabilidade seria justamente o empate, e mesmo assim foi exatamente o que o destino quis.

Satoshi enfim se levantou da mesa, cumprimentando o outro menino com um aperto de mão que sinceramente havia sido uma demonstração de respeito pela bela disputa que ambos tiveram. -- Foi um ótimo desafio, tenho que falar a verdade. - Esperava que fosse mesmo antes da melhor de três se iniciar, mas o Orgulho havia superado as expectativas que se atribuíram para ele. Não sabia se o comentário do seu mais novo amigo, por assim dizer, era verídico ou uma mera brincadeira, ainda assim, o de cabelo acinzentado sorriu balançando negativamente com a cabeça. -- Nem pensar. - Concretizou negativamente.

Já caminhando ao lado do Sarutobi para se retirar da área do pátio da Academia Ninja, continuava a argumentar sobre o comentário. -- Eu não sou nenhum filhinho de papai que tem dinheiro de sobra para pagar sanduíches para nós dois. - De fato, os órfãos não poderiam ter tanta verba para este tipo de financiamento ousado. Suspirou tendo uma ideia que compartilharia para que o desafio proposto fosse à frente. -- Vamos elevar o nível da aposta. O vencedor come de graça, o perdedor paga tudo!! … Mas depois da aula. - Trazia até mesmo um tom dramaturgo a sua frase como se fosse o evento do ano de uma companhia de luta livre. -- Só resta escolher, ramen ou batatas assadas? - Qualquer uma das respostas seria interessante e boa para Satoshi, que apenas aguardou a resposta para que pudesse retornar para a sala de aula.

Considerações:

pierrot.