Primeiro passo num mundo ideal

Mais um dia raiava na residência de Sarutobi Deijin, o maior e mais prestigiado ninja de todo o planeta (multidões gritavam ao fundo, em êxtase) conforme eu me levantava de minha cama, como sempre impecável. Me arrumei como um ninja, aos olhos de ninjas adoradores de todo o mundo, jogando pétalas e flores em minha homenagem, ao amarrar minha bandana firmemente, as homenagens acabaram, e me vi novamente em meu quarto comum como sempre, chato como nunca. Saí da residência, dessa vez tomei meu tempo para tomar meu café, e encarar meus pais, talvez eles não merecessem a forma que os trato, nunca saberia dizer, mas nenhuma palavra de conflito fora praguejada nesse pequeno e rápido café da manhã. Me encaminhei sem demora para o quadro de missões, procurando por lá um pergaminho que me interessasse, por acaso dessa vez decidi pegar um pergaminho na parte de Rank C, uma nova experiência de vez em quando era boa, e imaginava por onde andavam Chi, Bercon e Satoshi, será que já haviam feito Ranks C por si mesmos?

Varri esse pensamento para longe, conforme me distanciava do quadro de missões lendo o pergaminho estendido em minha frente, uma missão excessivamente simples para uma Rank C, mas um trabalho era um trabalho de qualquer maneira. Redirecionei-me para o caminho do campo de treinamento, e procurei por lá o meu contratante, não foi difícil encontrar ele, um garoto cabisbaixo, recostado na madeira seca de um tronco de árvore já morto, todo o cenário era fúnebre, até mesmo o clima assistia na composição desse cenário, e por um momento, me coloquei numa posição totalmente nova para mim....no lugar dos outros?



Considerações:-Todas as ações foram feitas com 70% da velocidade e força.
-Tudo tentativa.

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Primeiro passo num mundo ideal

Pela primeira vez na minha vida, acho que finalmente entendi o que era estar no lugar dos outros. Quando você nasce, cresce e vive por uma única visão, de que você é melhor que todos, ver uma ótica diferente torna-se um tanto quanto complicado, mas esse garoto cabisbaixo, recostado num tronco seco, por um momento abriu meus olhos. Não sabia realmente o que dizer numa hora dessas, claramente o clima não era muito levantado, e a tristeza permeava até mesmo eu, que não me lembrava de estar triste nunca, e me engasguei com minhas próprias palavras. Meramente me recostei do lado dele, que mal mexeu sua cabeça quando me aproximei, e fiquei quieto. Estava apenas aproveitando o momento, se é que isso era possível, ás vezes olhava para os céus, as outras árvores, até mesmo o campo de treinamento.

Várias vezes abri minha boca, e tentei o meu melhor para formar palavras e sons, mas tudo que por minha cabeça passava me parecia vazio e ineficiente. Experiências novas realmente tomavam o melhor de nós, não poderia simplesmente resolver essa situação gritando meu nome com confiança, não saberia passar minha alegria e contagiar o menino triste, então ficar calado era a melhor coisa que poderia fazer, até mesmo alguém como eu poderia perceber que esse plano era fadado ao fracasso. Permaneci sentado ao lado do garoto, quieto, minha cabeça estava barulhenta conforme eu tentava pensar no que fazer, mas a minha mera presença parecia, pelo menos, tirar algum peso dos ombros do garoto, que parecia carregar todo o mundo em cima deles.



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O silêncio continuou por uma boa quantidade de tempo até que eu finalmente consegui pensar em algo que poderia ser dito que focasse apenas em melhorar a situação. Tudo que havia pensado parecia ser como pisar numa mina, dentro de um campo minado, e provavelmente pioraria todo o cenário, e isso seria contraprodutivo para minha missão. Na realidade, isso não era nem mesmo a missão real, mas na minha cabeça, a espada era apenas um disfarce para o que realmente era o objetivo dessa missão, esse garoto precisava de ajuda. -Você perdeu sua mãe agora, não é? Falei, da forma mais suave que eu pude, era uma pergunta óbvia, mas precisava dela para continuar a conversa.

O garoto, balançando a cabeça, me respondeu afirmativamente, me fazendo sentir cada vez mais certo do real teor dessa missão. -Eu não sou muito bom com as palavras, pra falar a verdade eu normalmente só iria gritar meu nome para você, quem sabe te alegrar ou te irritar com isso, mas não posso fazer isso agora. A verdade é que eu não sei como é ter uma relação como a sua com sua mãe, meus pais são...boas pessoas, mas eu nunca procurei estreitar meus laços com eles, sempre me considerei acima de tudo e todos, e provavelmente vou continuar assim. Nunca havia me colocado no lugar de outros, mas com você, finalmente percebi que nem sempre se faz tudo com confiança e arrogância, a verdade é que a sua relação era importante, isso é certo, e é compreensível você ficar assim, mas não pode deixar isso tomar a sua vida para sempre. O caminho é sempre pra frente. Falei, num grande monólogo.



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Deixei que o meu monólogo afundasse nos pensamentos do garoto. Era um tanto clichê, o que havia dito, mas era melhor do que nada certo? Sentia que havia tido um efeito positivo no garoto, ou pelo menos assim pensava, e isso pra mim era o suficiente para continuar minha batalha com a tristeza do garoto, talvez poderia até me considerar uma alcunha, o Ninja Alegre? Seria muito engraçado me auto nomear assim, e acho até mesmo que faria isso. Pensei por mais alguns momentos para poder formular outro grande monólogo. -Sabe, tudo é temporário, você vai sair dessa. Aposto que você mesmo enterrou a espada da sua mãe, não é? Perguntei e esperei alguns momentos, mesmo que no fundo do meu coração eu já soubesse a resposta.

Tendo a resposta afirmativa do garoto, continuei meu monólogo. -Sei que a espada dela deve ser muito complicada de se ver todo dia, mas você talvez não devesse tomar ela como um peso, e sim uma....honraria? Não, essa não é a resposta certa, acho que como uma lembrança dela, toda vez que você brandir essa espada, não vai estar meramente lutando ou treinando sozinho, ela vai estar ao seu lado, balançando a espada com você, disso você pode ter certeza. Falei, de forma branda, esperava que minha linha de raciocínio tocasse em algum ponto do coração do garoto, e me ajudasse a mudar o status quo da situação.



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Deixei que o meu monólogo mais uma vez tomasse raízes na mente do garoto, pouco tempo depois, ele balançou a cabeça e, pela primeira vez desde que eu havia chegado, fiquei quieto e ouvi suas palavras atentamente. -E-eu perdi minha mãe sim, é verdade. Tem uma semana que ela me deixou, sozinho, nesse mundo. Eu só tive ela a minha vida toda e, não ter ela aqui agora é desconcertante. Não sei nada da vida ainda, mal me formei na academia, e ela me deixou mesmo assim. Gritou, o garoto, eu podia sentir raiva misturada com tristeza na fala dele. -Eu sei que a culpa não é dela, eu sei disso. Disse o garoto, abaixando a voz e começando um choro baixo. -Mas ela me deixou aqui, sozinho, sozinho e sem ela. Por quê ela fez isso comigo? Por isso eu enterrei a espada dela, eu não quero mais lembrar dela, ela me deixou! Chorando, o garoto bravejou, estava muito imerso em suas emoções, o menino era jovem, ainda mais do que eu, e perder a única pessoa da vida dele deveria ser muito difícil.

-Sei como deve ter sido difícil perder sua mãe, a sensação de vazio que você sente, sei como é sentir como se parte de você não existisse, mas você não pode simplesmente preencher esse vazio de raiva e tristeza. Falei, passando meu braço e abraçando-o suavemente, um ombro para chorar. -Você tem que lutar para preencher esse vazio, não viva em função de sua mãe, viva em lembrança ou homenagem a ela, mostre-a que ela criou um grande homem, prove-a que você é um grande ninja, use a espada dela e preencha o vazio que você sente no seu coração, mas não deixe que esse vazio consuma você e você se torne só uma casca do que poderia ser. Falei, de uma só vez, queria colocar no coração dele uma emoção a qual buscar, e não uma emoção da qual ele sente falta. Assim como eu, ele apenas precisava procurar na vida que ainda restava o que preenchesse o grande vazio em seu peito.



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Outra vez o silêncio se tornou ensurdecedor ao nosso redor, o garoto havia parado de chorar, e eu apenas esperava sua reação ao meu discurso final. O tempo parecia ter congelado, uma grande quantidade de tempo passou para que o garoto esboçasse uma reação, levantando subitamente e andando até um pequeno montinho de terra espalhada, não era necessário ser um grande gênio para entender que aquele monte era a forma do garoto de enterrar a espada de sua finada mãe. -Você vai precisar de ajuda nisso aí, amigão. Falei, dando uma risadinha amigável, me ajoelhando junto com ele para desenterrar de forma primitiva a espada, sujando minhas mãos e unhas de terra, mas satisfeito como nunca, conforme cada vez mais o buraco ficava perceptível.

Pouco tempo depois de começarmos, uma luz prateada reluzia no fundo do buraco. O garoto enfiou sua mão mais profundamente e, desfazendo todo o nosso trabalho, retirou do chão uma espada de cabo branco e um pequeno fio vermelho enrolado na ponta desse. -Sua mãe certamente gostaria que você utilizasse a espada, não pense demais nisso. Falei, conforme levantávamos, colocando minha mão no seu ombro para confortá-lo. -Sou Sarutobi Deijin, se qualquer dia precisar de um amigo para conversar, é só me procurar. Falei para ele, dando uma risada. Dei um tchau para o camarada, conforme me distanciava do campo de treinamento na direção do posto de missões e de minha recompensa.

Já havia ganho muito com essa experiência, tanto que não precisaria nem mesmo do dinheiro para estar satisfeito como estava.



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