O inverno em kiri castigava muito mais do que qualquer outra vila, os ventos gelados davam até mesmo a impressão de cortar violentamente a pele dos que ousassem se aventurar por muito tempo em um ambiente externo. A névoa dominava boa parte da vila, ofuscando boa parte das construções e belezas naturais presentes ali, assim como também dificultava a visibilidade de qualquer ser que fosse graças a grande densidade da neblina.

Apesar do frio, um pássaro preto se arriscou a pairar pelos céus, cruzando o vilarejo rodeado pelo mar. Levava consigo uma mensagem presa a sua pata direita, ia a mando do gabinete até a casa de uma jovem, praticamente recém formada na academia. Esta, por sua vez, se encontrava sentada enquanto observava pela janela embaçada de seu quarto observando qualquer um que por ali passasse.

O corvo viajou durante muito tempo até alcançar a morada de Haru, para quem era destinado a mensagem que levava. Voava agora em círculos em frente a janela que a garota se encontrava, esperando que a mesma abrisse ou não a mesma para ele, permitindo assim sua entrada.

Observações:

A cerração presente na vila neste momento era de uma intensidade de extrema periculosidade para os desacostumados com tal situação, certamente sendo uma ótima defesa natural para os que ousassem invadir Kiri em tempos como este. Os moradores obviamente já estavam habituados com dias como o de hoje, sendo assim, era possível ver o grande volume de movimentação nas ruas e vielas da vila, era a locomoção das pessoas de suas casas até suas estações de trabalho diárias.

A garota recebeu os pássaros e tomou do mesmo a mensagem enrolada, gesto esse que simbolizava a aceitação do convite para a missão que deveria realizar.

O caminho até o portão castigou a jovem, que apresentava indícios de um possível resfriado, resultado das baixas temperaturas. Em companhia de seu réptil, se mantiveram firmes durante a caminhada, tomando prudência em se locomover com calma, mantendo assim uma respiração estável durante todo o trajeto.

A chegada não tardou muito, de tal maneira, Haru agora buscava com o olhar quem ali presente a teria convocado. Uma mulher alta e de pele clara se encontrava escorada no muro da casa de guarnição do portão. A bela moça possuía longos cabelos pretos e vestia um vestido escuro de saia curtas, acompanhado de uma meia-calça preta e um par de sapatos de salto alto. Possuía consigo um lenço longo ao redor de seu pescoço, em seu atual momento, cobria sua boca e nariz para lhe proteger dos ventos gelados que sopram, escondendo assim sua mania de mascar gomas de mascar. Avistou a genin procurando por alguma pessoa em específico, logo se lembrou dos detalhes sobre a aparência da garota que lhe foram passados, identificando-a como a que designou para a então missão.

Haru, certo? Ela disse e se aproximou da garota, olhando-a dos pés à cabeça, enquanto baixou seus óculos escuros de aviador até a ponta de seu fino nariz. - Com certeza é você. Me chamo Elisabeth, mas me chame de Lisa Lisa, por favor. Eu a convoquei aqui para uma missão em um vilarejo próximo, infelizmente recebemos muitas reclamações por parte dos moradores do local e precisamos resolver essa questão desagradável. A vila é cercada por dois rios, o comércio pesqueiro é a principal economia do local, sendo referência em todo o país por sua qualidade de produtos, porém na última semana algo ou alguém está infectando o rio localizado ao leste, inutilizando assim seu uso por parte dos pescadores, afinal os peixes estão sendo infectados e sua venda e consumo impossibilitado. Há diversas disputas por território desses rios por parte das famílias que trabalham no ramo, sendo assim, as famílias que dependiam deste rio estão sem fonte de renda no momento. Ela retirou uma foto de um homem do bolso de seu colete de Kiri que estava por cima de seu vestido e pôs frente ao rosto de Haru. - Você deve procurar este homem, ele se chama Cioccolata, será ele quem irá lhe dar os detalhes mais profundos disso tudo. Ele é um pesquisador da família que tem o rio oeste em sua posse, ele se prontificou a identificar o problema, mas não teve resultados até agora.

Observações:

Haru se mostrou uma garota de poucas palavras, dizendo apenas uma pequena quantidade de sílabas em resposta à introdução inicial da missão que Lisa Lisa lhe deu, partindo logo em seguida rumo a seu destino.

Temendo pela situação do vilarejo, a pequena jovem partiu a toda velocidade, visando chegar o quanto antes no local. Era fato que o clima não era o mais favorável para uma corrida longa igual essa, dificultando assim sua respiração e desgastando rapidamente seu frágil corpo. Conforme seguia, a neblina se dissipava, facilitando a visibilidade durante a viagem.

A chegada se deu há poucos minutos antes do cair do sol, o crepúsculo era o último relance dos raios solares, que em pouco tempo cessariam e dariam lugar para o brilho artificial da lua. Haru não perdeu tempo, dando início a sua busca por Cioccolata.

Mantendo-se calada durante o tempo todo, a jovem enfrentou problemas para encontrar o homem, esperando avistá-lo em algum momento, uma decisão desvantajosa para a mesma. É fato que a habilidade ou facilidade para a interlocução se diferente muito entre cada humano individualmente, não sendo esse um ponto forte para Haru.

A busca se manteve sem resultados durante muito tempo, e quando se deu por conta, já havia cruzado o pequeno vilarejo, alcançando a extremidade oposta do mesmo - indo de encontro ao rio que era no momento o único com as águas e peixes saudáveis. O silêncio era quase absoluto, salvo pelo barulho ambiente, principalmente pelo suave som das águas.

Observando a corrente por um curto período de tempo, a garota então conseguiu notar o caminhar de alguém, não muito distante, que vinha em sua direção e, ao olhar para a origem do passos, pôde então avistar, finalmente, Cioccolata. O alto homem de cabelos verdes e tatuagens faciais de mesma cor, vinha na direção oposta da grande casa dos Brando, a família que possuía o rio oeste e seus animais em sua posse. A pessoa que Haru buscava aparentemente teria saído da residência, em seu semblante era perceptível o quão contente estava em seu atual momento. Era o momento perfeito para que a kunoichi pudesse aborda-lo.

Observações:

As nuvens estavam carregadas, apresentando assim um aspecto volumoso e de tamanhos excepcionais, tornando claro que logo mais uma tempestade cairia sobre o pequeno vilarejo e seus arredores. De súbito a lua foi coberta, dando então lugar a uma penumbra na pequena trilha onde a jovem moça recém tinha abordado o cientista que fora anteriormente instruída a encontrar.

A expressão do rosto de Cioccolata mudou rapidamente quando a garota terminou sua apresentação, sua face estampou um breve espanto - sendo percebido logo em seguida pelo homem que tentou demonstrar um sorriso amigável.

- Que surpresa agradável! Fui eu quem pediu para que Lisa Lisa enviasse alguém para me auxiliar nesse terrível problema. Venha, venha, vamos para minha casa, tenho que mostrar alguns aspectos do meu estudo até agora para para você.

Sendo totalmente cordial e educado, o homem guiou a garota por todo o caminho enquanto jogava conversa fora durante todo o percurso, até finalmente alcançarem a entrada de sua casa e adentrarem-na, transpondo-se em seguida para o um cômodo que seria uma tentativa de adaptação de um laboratório caseiro.

- Bem vinda a minha humilde oficina de pesquisas. Não ligue muito para a bagunça, infelizmente ou felizmente - dependendo de seu ponto de vista - essa situação me gerou bastante trabalho. Sente-se!

O homem puxou duas cadeiras, uma para si e outra para Haru. Havia ali já anteriormente um bule aquecendo no fogo, Cioccolata se prontificou para preparar um chá de ervas para ambos, oferecendo respeitosamente à garota em sua companhia.

- Fique à vontade, tenho alguns biscoitos que deixei assando, logo mais ficam prontos.

Sentou-se à frente da cadeira que preparou para Haru - do outro lado da pequena mesa redonda na qual havia deixado as xícaras, pires e o bule.

- Como sabe, me chamo Cioccolata. Não sou shinobi e nem mesmo tenho habilidades para isso, mas minha mente é brilhante para o mundo de pesquisas. A situação aqui vem ficando cada vez mais crítica, aos poucos os pesqueiros começaram a notar que os peixes estavam diferentes do costume, passaram a nada cada vez mais devagar e próximo da margem do rio leste, facilitando muito o trabalho deles. Mas nem tudo são rosas e como já deve saber, os peixes estavam sendo infectados e depois de retirados da água era notável que havia algo de errado com eles. Em sua maioria, os pequenos olhinhos estavam inchados e saltados para fora, possuíam inflamações e necroses por todo o corpo. O fato é que os mercadores continuaram a vendê-los e consumi-los, o que resultou em diversas pessoas doentes em estado grave… infelizmente duas mortes já foram registradas.

O homem fez uma pequena pausa para se servir novamente, além de se levantar para retirar seus biscoitos do forno e então servir para si e oferecer para Haru. Ainda de pé, o homem tomou um gole de seu chá e andou para trás de sua bancada repleta de equipamentos de pesquisa de qualidade duvidosa.

- Mas me diga, o quanto você sabe sobre toxinas e afins? Infelizmente esse não é meu ramo, então minha pesquisa foi muito comprometida e é por isso que não consegui avançar muito nesse caso. A propósito, tenho um pedido para fazer.

Cioccolata passou a vasculhar em suas coisas, buscando algo por baixo do grande amontoado de papéis e entulhos.

- Aqui está! Eu preciso que você me faça um favor. Como disse, não tenho conhecimento e nem mesmo equipamento necessário para descobrir a raiz desse problema, por isso necessito que você volte para Kiri e entregue esses frascos e amostras para o líder do centro de pesquisa da névoa, colete os resultados e relatório e retorne para cá. Obviamente não partirá hoje, já está tarde e o tempo irá mudar drasticamente, sendo assim, poderá passar a noite no meu quarto de hóspedes e partir ao nascer do sol.

A previsão de mudança no tempo do pesquisador foi certeira, aos poucos as nuvens foram liberando algumas gotas até dar início a uma tempestade.

Observações:

A garota parecia ter ficado feliz com a ótima recepção do anfitrião, era inegável que Cioccolata sabia se comportar na companhia de qualquer um que fosse, sendo esse uma de suas maiores características. Depois de toda explicação, a jovem aceitou o convite para passar a noite como hóspede, sendo com certeza a melhor decisão no momento, vide que uma tempestade era prevista para cair e atingir o vilarejo e suas estradas próximas durante o final da noite e toda a madrugada.

Haru pôde dormir sem nenhum problema durante sua rápida estadia, no entanto sua mente e curiosidade mantiveram seu cérebro ligado, fazendo com que dessa maneira a pequena acordasse alguns momentos antes do nascer do sol e se dirigindo cautelosamente de volta ao laboratório.

Aquilo era um mundo novo para a genin, que mesmo não atuando ativamente na área de pesquisas, sempre foi do interesse da mesma, de tal maneira sempre adquiriu experiências e conhecimentos por meio das teorias que buscava estudar por conta própria, sem dúvida era uma autodidata com um futuro brilhante à frente. A dificuldade para uma melhor visualização era terrível, mas por sorte a garota pôde avistar uma pequena lamparina ainda com uma quantidade razoável de querosene pronto para servir como combustível para a luz. Haru o acendeu e se pôs a vasculhar a oficina de Cioccolata.

Os olhos da jovem brilharam ao encontrar documentos de assuntos que poderia considerar de seu interesse, afinal, não é sempre que se consegue olhar pesquisas de cientistas profissionais. Em uma parte separada da bancada, uma possível pesquisa atraiu a atenção da genin. Foi necessário que a mesma olhasse de relance para identificar algo extremamente incomum em sua visão. Havia ali alguns escritos e amostras de dois animais não identificados, no entanto em algumas partes sobre suas descrições, estava claro que ambos não eram comuns nessa região do país da água, sendo até mesmo encontrados raramente em países de clima tropical que eram seu habitat natural. Haru ficou extremamente confusa do porquê da então pesquisa, mas mais ainda de como havia amostras de animais que não eram encontrados na região. Sem perder tempo, a garota pegou um frasco de amostra sanguínea de cada animal em questão, as colocando em sua bolsa para uma futura pesquisa individual.

Foram cerca de quinze minutos explorando ali o local, até uma outra coisa chamar a atenção de Haru. Havia um alçapão atrás da bancada de trabalho, alguns feixes de luz passavam por entre seus vãos. A curiosidade da garota a deixou inquieta, fazendo com que seu corpo se abaixasse e abrisse a então portinhola. Ao olhar para dentro a luz se apagou imediatamente, fazendo com que a garota pegasse a lamparina e aproximasse da entrada, mas ainda havia dificuldades para enxergar o que havia dentro, sendo possível somente ouvir alguns ruídos de equipamentos e até mesmo o som de algum animal que a garota não conseguiu identificar de imediato. A genin aproximou sua cabeça da entrada, gostaria de visualizar melhor e tentar reconhecer os sons que vinha de dentro, no entanto ao trazer a lamparina para mais perto, seu corpo congelou de medo ao perceber o rosto de Cioccolata a poucos centímetros do seu.

- Ola garotinha! Por que a senhorita não está dormindo? Tem uma viagem cansativa amanhã. Volte para sua cama e descanse.

Cioccolata se retirou novamente para dentro do alçapão, porém agora permaneceu com as luzes apagadas. A tempestade continuava a cair, mas agora perdendo a força gradativamente com os minutos.

Observações: