Haru andava calmamente, sob a neblina que se estendia até os confins da vista. Ela ajeitava-se embaixo da capa branca que a protegia do frio, onde Shiro encontrava-se sob o colarinho e enrolado no pescoço pálido, dormindo. A mando de outra missão, cujo pergaminho ela carregava em mãos, a garota seguia o rumo de uma casa um pouco distante da vila, quase uma fazenda.

Depois de algum tempo de caminhada ao norte dos portões da Névoa, cerca de meia hora ou menos, ela encontrou um pequeno agrupamento de casas em uma planície. Era como um pequeno vilarejo disposto em duas retas paralelas, formando um corredor no meio.

A paisagem era pacata e bela, e, quando aproximou-se mais, notou a presença de várias daquelas flores azuis — as ervas medicinais que ela teve de colher para o doutor em outra missão.

Haru tardou o passo, observando o lugar. As casas eram simples construções de madeira, mas bem jeitosas. Porém, por algum motivo, não havia ninguém na rua e as janelas estavam fechadas. Seria por conta do frio?, ela se perguntava.

Deixando isso de lado, a menina atentou-se para o endereço que constava no pergaminho da missão: a décima terceira casa. Olhando de casa em casa, ela cruzou o corredor do vilarejo e, no fim, na última casa, Haru avistou o número treze pregado na porta.

Leves batidas à porta propagaram um toc toc que quebrou o clima silencioso, despertando certo nervosismo por parte de Haru.

Considerações:

O ranger da madeira. O uivo do vento. Uma pequena garotinha entreabriu a porta, e seus olhinhos amedrontados encararam Haru por alguns segundos. Até que a pequena notou o pergaminho segurado pela mão pálida.

— Ah, você que veio ajudar, — falou a menina, terminando de abrir a porta.  — Sou Shaina. Você vai trazer de volta a Mimi, né?

Os olhinhos, antes amedrontados, agora enchiam-se em um semblante de choro.

— Sim, — respondeu Haru, acenando com a cabeça.

Shiro, que até então dormia, despertou. A cabeça albina da serpente ergueu-se dentre o colarinho, sibilando. Nesse momento, Shaina arregalou os olhos, seu rosto brilhava.

— Você também tem uma cobra! — Exclamou ela, alegrando-se. — Então vai ser fácil trazer a Mimi! Olha, ela está entocada no rio que tem debaixo daquele penhasco. Mas ninguém consegue tirar ela de lá...

Shaina apontava para o local. Os olhos violeta de Haru viraram-se para lá, de longe e por baixo da neblina avistando o rio. Novamente em um simples acenar, ela apenas fez que sim com a cabeça e partiu para o ponto indicado.

Haru chegou ao rio, deparando-se com águas tão cristalinas que era possível enxergar o calcário do fundo. Era um momento de calma, em que, fora o sopro da neblina, apenas o silvo de Shiro era escutado. E justo por esse sibilar, após alguns segundos as águas começaram a se mexer.

Os olhos violeta fitaram as ondas que se formavam. Um longo vulto corria por baixo do leito cristalino. Então, de súbito, o torso comprido e escamoso emergiu. Uma serpente tão grande que engoliria a pequena genin sem dificuldade.

Parada às margens, a garota fitou o animal sem esboçar grande reação além de entreabrir os lábios. A grande serpente exibia sua face peçonhenta. Porém, não era para Haru que ela olhava. Shiro e Mimi encaravam-se em uma tensão obstinada.

Notando o clima, Haru aproveitou-se do momento de hipnose mútua para observar a serpente. Ao longo dos metros de comprimento escamoso, ela observou uma marca avermelhada no meio das escamas escuras. "Ela está ferida?", pensou.

Haru olhou à volta e, próximo às margens, havia um leito daquelas flores azuis. Serenamente, ela se abaixou para colher algumas, enquanto Shiro e Mimi ainda se encaravam.

— Você quer se curar, não quer? — Disse Haru, erguendo as flores ao alcance da vista de Mimi. — Deixe-me ajudar.

Após um silvar estrondoso, a grande serpente rastejou para fora do rio e parou ali mesmo. Haru entendeu a oportunidade, pegando um punhado das flores e as amassando sobre a palma da mão com a ponta do cabo de uma kunai. Então, com extremo cuidado, ela passou a substância pastosa da pomada improvisada naquelas escamas manchadas de sangue. Havia um corte profundo no local.

— Isso deve ajudar... Venha, Mimi, sua dona a espera, — ela falava como se a serpente pudesse entender, assim como fazia com Shiro. Porém, a albina parecia entender suas mensagens e, coincidentemente, Mimi também.

Logo Haru caminhou a passos lentos de volta ao vilarejo. Em breve, a serpente estaria de volta à décima terceira casa.

Considerações: