UM FEIXE LUMINOSO SURGIU, a leste, ofuscando as estrelas e a penumbra da noite, crescendo no meio das dunas que cercavam o território ocre esmaecido da Areia. Era a longa manobra do crepúsculo da manhã, inflamando o vasto horizonte irregular.

　　　Já notavelmente iluminada, Sunagakure amanhecia com o ardor habitual do sol sobre as suas construções. Apesar da sequidão no ar e do calor que abrasava a pele, os habitantes circulavam logo cedo, aproveitando do que restava do frescor da noite. A verdade é que já estavam acostumados com o deserto, e que a guerra para além dos muros da vila era de inclemência muito pior do que a das areias.

　　　Nesse dia, o Quartel de Suna estava cheio de afazeres. O fluxo de pessoas, ninjas e contratantes, era alto nas salas e corredores do lugar. Havia muitos panfletos pregados, um sobre os outros, nos murais, a espera da sorte de alguém se interessar. Para que isso ocorresse, era necessário agregar um bom valor ao trabalho. Senão, corria o risco do panfleto se misturar às pilhas de papéis caídos no chão, que logo mais seriam varridos junto da areia branca que insistia em entrar pelas aberturas do edifício.

　　　Paul, um jovem rapaz, ajeitava-se em um dos bancos que havia por ali. Ele carregava alguns pertences: uma mala tiracolo e uma mala de rodinhas. Com seus olhos castanhos, o garoto fitava a correria dos passos a sua frente; o vai e vem das pessoas que andavam apressadas demais para contemplar o cenário.

　　　As pequenas mãos dele seguravam um pergaminho, cercado pelos dedos, que continha sua missão recém-registrada.

　　　Por mais que Paul tivesse um sorriso doce nos lábios e esperança no peito, algo lhe dizia que ficaria ali por muito tempo, até alguém aceitar a sua missão. Algumas pessoas passaram por ele. Após lerem, no entanto, o conteúdo do pergaminho, todos recusavam com um olhar de desdém.

　　　No pergaminho:

　　　Me chamo Paul e sou o comerciante de um pequeno vilarejo a leste,
　　　preciso de uma escolta para levar os mantimentos em segurança.

　　　Ao que parece, ninguém ousaria se ariscar por tão pouco. Em tempos de guerra, sair dos portões significava um risco grande demais para um baixo valor como recompensa. Mas era o que Paul poderia oferecer. Ele passava os dedos nos fios acastanhados de seu cabelo, tentando afagar o desconforto, e procurava manter o sorriso nos lábios.

Considerações:

PAUL OBSERVOU O GAROTO que se aproximava. Ele primeiro se identificou com a estatura baixa do rapaz, e depois viajou no rosto viçoso de pele suavemente ruborizada; nos fios amarelos que desciam da cabeça e se espalhavam numa irregularidade extremamente bela. Quando esse mesmo garoto chegou perto e pediu para ler o pergaminho, Paul demorou alguns segundos para entender que as palavras eram dirigidas a ele. Então, meio atrapalhado, respondeu:

　　　— É-é claro... — E entregou o pergaminho.

　　　Um sorriso sem graça murchou os lábios do jovem comerciante. Ele pensava: Mais um que vai desistir da minha missão? Mas continuava atento, esperando pela resposta. Quando notou os sinais de hesitação naquele rosto de aspecto imaculado, já foi abaixando a cabeça e se conformando de que seria novamente recusado. Porém, contrariando suas expectativas frustradas, as palavras posteriores do ninja o acertaram com uma surpresa: a missão foi aceita.

　　　Paul se levantou com bastante entusiasmo. — Muito obrigado, Aru-san! — Ele disse, e as bochechas se revelavam ligeiramente coradas. — Permita-me mostrar o caminho. Vamos logo, pois temos um longo caminho pela frente.

　　　O sorriso do comerciante era contagioso, colocava a mostra dentes brancos e bochechas saudáveis. Paul e Aru eram exceções do deserto. Ambos possuíam uma pele cheia de água, como se a aridez da Areia não os contaminasse. Talvez por possuírem alguns pontos em comum: o apreço pela medicina, que certamente era um deles.

　　　Enquanto caminhavam na direção dos portões da vila, Paul disse:

　　　— Meu vilarejo, Aru-san, vive da agricultura. — Ele ajeitava a alça da bolsa tiracolo, e ajustava o puxador da de rodinhas. — Nós esquematizamos uma maneira de cultivar as plantas em pleno deserto e, com isso, comercializamos mantimentos com Sunagakure. Mas ainda somos dependentes de alguns mantimentos da grande vila. — Paul deu alguns tapinhas na bolsa tiracolo, que estava recheada, e deu uma breve risada. — Só que, desde que a guerra aconteceu, tem sido cada vez mais difícil manter as rotas de comércio. Nosso vilarejo já perdeu muitos como eu, e Suna não está disposta a ocupar sua força militar com isso...

　　　O tom de voz decrescia naquela conversa. Paul era grato por conseguir uma escolta, o que era nítido em seu comportamento, porém não conseguia deixar de lamentar pelos tempos difíceis e as perdas que teve de enfrentar.

　　　Enfim, eles ultrapassavam os portões. Então, apontando para leste, Paul disse:

　　　— Lá, Aru-san! Algumas dunas para lá!

　　　Havia, naquela fala, uma tentativa de amenizar o caminho a ser percorrido. Talvez Aru percebesse. Todavia, já estavam afundando parte da sola dos sapatos na paisagem ocre e acidentada. Paul ajustou o tornozelo das botinas e se ajoelhou, frente a Aru, oferecendo-se para ajeitar os calçados do ninja.

　　　— Vivendo no deserto, nós adquirimos alguns costumes para não deixar que a areia entre nas roupas, sabe? — Ele ria para disfarçar a vergonha, mas ajeitaria os calçado de Aru se tivesse a permissão. Então, levantando-se, ele completaria: — Também andamos com estas sombrinhas. — Tirou da bolsa um dispositivo que era, aparentemente, comum, mas quando acionado demonstrava engenhosidade ao filtrar a luz do sol de maneira a reter quase que completamente o calor, além de ser extremamente leve. — Porém eu só tenho uma... Fique comigo, Aru-san.

　　　Então eles seguiriam juntos para leste.

Considerações:

O SOL, QUE PENDIA no céu azul e limpo de nuvens, já estava chegando perto do seu ápice diário. Enquanto isso, Paul e Aru atravessavam a areia quente do deserto com o auxílio da engenhosa sombrinha.

　　　Paul sentiu as bochechas arderem quando Aru encostou os dedos em sua mão. E respondeu:

　　　— C-claro... Quer dizer, n-não tem problema! É-é... — Nitidamente tão envergonhado quanto o Senju, ele esquivou o olhar para o horizonte.

　　　No ritmo de Aru, a viagem não levou tanto tempo quanto normalmente levaria. Seguiram pelas ondulações do deserto, na direção contrária do rumo do grande astro de fogo. Subindo e descendo as dunas. Os raios solares já estavam atingindo as costas dos garotos, pondo-se a oeste, enquanto continuavam trilhando a leste.

　　　— Estamos chegando, — Paul sinalizou. — Basta cruzarmos mais esta duna...

　　　Quando assomaram ao monte de areia, observaram, com a visão privilegiada das alturas, o pequeno vilarejo destroçado. Parte das casas estava arruinada. A plantação, listras verdes num leito breve de água contíguo ao vilarejo, estava em pedaços. Uma paisagem caótica subjugou o que era um belo quadro no deserto.

　　　Paul estremeceu, e largou tudo o que estava perto de si: as bolsas, a sombrinha e Aru. Ele correu, deslizando pela areia de qualquer jeito, não se importando com as feridas que poderia abrir. E então, ajoelhado frente aos pedaços de sua casa, ele gritou, incrédulo, chorando.

　　　No meio daquela cena, um outro grito se fez ouvir. Um brado cujo timbre era reconhecido por Paul. De dentro de uma das casas, uma mulher correu na direção do garoto.

　　　— Mãe! — Paul exclamou.

　　　— Filho! — Ela respondeu na mesma intensidade.

　　　Enfim juntos, eles se abraçaram. Nesse ato, Paul percebeu as manchas vermelhas nas roupas de sua mãe, e logo notou os ferimentos da mulher: um rasgo na lateral de seu torso.

　　　A mulher, tentando manter a calma de seu filho, apalpou-o pelas bochechas e o fitou nos olhos. E disse: — Fuja, filho. Aqui não é seguro.

　　　Mais uma voz surgiu por ali. Essa gargalhava e tinham um timbre extremamente grave. Então, seu detentor apareceu em cima do telhado de uma das casas. Era um homem de aparência espantosa, corpulento e cabeludo. Seus pelos — os do corpo, os do cabelo, do bigode, da barba — eram longos e pareciam ter vida: movimentavam-se de modo desnatural num ritmo ondular.

　　　— Ora, ora, mais sangue pra eu manchar este lugar com a palavra dele? — A voz ribombou outra vez. Mas ele não estava dirigindo seu discurso a ninguém dali.

　　　De súbito, os feixes de cabelo da figura aterradora se empertigaram, afiaram-se como lâminas, e terminaram por jorrar uma saraivada de agulhas na direção da mãe e do filho.

Considerações:

AS AGULHAS DE FIOS de cabelo chocaram-se no mar de pétalas invocado por Aru, provocando um som afofado e quase inexistente. As inúmeras pétalas ainda não haviam cumprido seu propósito, pois desmancharam a redoma criada para avançarem como mil disparos de shurikens contra o oponente.

　　　O sádico sorriso do homem se desfez. Ele então pulou do telhado, momentos antes das pétalas o atingirem, e mergulhou na areia como se fosse água. Logo a sua grossa, imponente e impetuosa voz ecoou da terra, fazendo vibrar cada grão branco de areia:

　　　— Eu sou um arauto da guerra! É tudo para ele, o nosso soberano, o precusor do fim!

　　　Mãe e filho se abraçavam, ajoelhados, com os nervos tão intensos que sequer conseguiam continuar chorando. Estavam paralisados por um medo súbito que os congelou ali mesmo. O chūnin da Areia talvez notasse a sensação de morte que se instalava na atmosfera, mas o sentimento não era suficiente para subjugá-lo com fez com os civis.

　　　Então, a areia abaixo dos pés de Aru começaria a estremecer cada vez mais. Até que, repentinamente, dois volumosos feixes de cabelos emergiriam bem a sua frente. Grossos e longos, esticar-se-iam em grande velocidade com a intenção de agarrar o garoto.

　　　— Curve-se também diante da grandeza dele! — aquela voz amedrontadora tornava a ribombar dos quatro cantos do deserto.

　　　Mais dois feixes de cabelo emergiriam, imitando os de antes, volumosos, grossos e longos e, dessa vez, mais rápidos e por detrás. Por fim e ao mesmo tempo, o dono das madeixas também voltaria à superfície, emergindo seus braços logo abaixo dos pés do garoto para segurá-lo pelos tornozelos.

Considerações:

EM UM VISLUMBRE DE incontáveis pétalas, a silhueta de Aru se desmanchou e planou pelo ar com a leveza que a técnica de Hana Ninpō lhe conferia. Evadindo das tentativas subsequentes do estranho homem de contê-lo, o Chūnin da Areia finalizou suas ações com um golpe estratégico e explosivo: duas kunais-bombas arremessadas contra os braços que emergiam da areia.

　　　A explosão se fez ouvir como um estrondo que irrompeu no ambiente, erguendo uma enxurrada de areia que logo contaminou o ar feito uma bruma amarelada.

　　　— Você irá se arrepender! — A voz grossa ecoou pelos milhares de grãos suspensos. — E logo o verá! É o fim do Mundo Shinobi!

　　　Quando a poeira abaixou, o vilão não estava mais lá.

　　　— Aru-san! — Paul gritou da retaguarda. — Você conseguiu, Aru-san. Você nos salvou.

　　　O garoto levanta-se ao mesmo passo em que ajudava sua mãe a também ficar de pé. Com o adeus da ameaça, aos poucos, pessoas foram surgindo no vilarejo. Elas saíam de seus esconderijos: de baixo de pilhas de mercadoria, detrás de pedras, pelas janelas e portas entreabertas. Todos do pequeno vilarejo de Paul se aproximavam do ninja que os salvou.

　　　A mãe de Paul também quis agradecer Aru, porém tropeçou pela falta e força e só não caiu de joelhos pois seu filho a segurou. O ferimento na lateral do torso da mulher eram fora estancado devidamente. O garoto e mais algumas pessoas ajeitaram algumas faixas para conter o sangramento.

　　　Passado os piores momentos, Paul se aproximou de Aru quando teve a oportunidade de encontrá-lo a sós. O garoto de cabelos castanhos apresentava com uma postura acanhada e braços curvados para trás, parecendo esconder algo.

　　　— Mais uma vez obrigado, Aru-san — Paul disse. Então esticou as mãos antes escondidas e ofereceu uma flor para o jovem ninja. — Aceite como um presente por ter salvado quem amo.

Considerações:

Missão Rank B aprovada!


Recompensas:
• 100.000 RY;
• 24 Exp (com o bônus);
• 6 YP.

Bonificações:
• 1 ingrediente dado por Paul;
• 30 YP por salvar pessoas inocentes;
• 15 YP por vencer inimigos da vila.

Espero que tenha se divertido tanto quanto eu!