The Beggar Jounin


Quanto mais Hotarubi tentava segurar os próprios sentimentos e tentar falar meu nome, mais suas lágrimas começavam a escorrer por sua face delicada e jovial com uma beleza tão singela que levaria anos para que eu pudesse encontrar uma flor tão preciosa quanto Hotarubi seria para mim nesta época.

As lágrimas iam se misturando com os pingos da chuva que esvoaçavam pelo quarto, formando duas verdadeiras "cascatas" em seus olhos. Não era mais possível dizer o que eram lágrimas ou não diante daquela cena.

A menina então passou a se aproximar mais de mim. Olhava meu rosto, e descia sua visão até os meus pés. Voltava a me ver olho no olho, e fechava suas pálpebras fortemente, sendo consumida por sua melancolia enraizada em seu pequeno corpo fraco. Ela segurava forte suas próprias mãos para tentar se conter, mas era inevitável a dor que sentia. Quando menos se esperava as palavras voltaram para sua língua, e aos poucos ela conseguia se expressar mesmo que eu não pudesse lhe responder de volta.

— Bercon... Por que?? — Aos poucos ela começava a conseguir falar algumas palavras. — Co-como isso foi acontecer? Quem fez isso contigo...

A chuva continuava rigorosa, molhando boa parte do quarto. Contudo, Hotarubi não se importava com aquilo, não naquele momento. Seu corpo tocava na lateral da cama que lhe impedia de se aproximar daquela forma. Continuou levando sua mão direita em direção a minha face, tocando gentilmente na lateral do rosto com os dedos deslizando suavemente por trás de minha orelha que contornava por todo meu maxilar até o queixo, havendo por fim a desconexão de corpos entre nós.

Hotarubi não se aguentou, e em uma decisão totalmente emotiva, a menina se jogou sobre mim, me abraçando de tal modo que a ternura dela era cativante se houvesse alguém testemunhando sua empatia comigo.

A garota chorava por cima do meu peito, ela, tampouco eu, podíamos imaginar que aquilo até estava me fragilizando a respiração. Todavia, não foi algo que durou muito, pois ela imediatamente se erguia e tornava a olhar em meus olhos fechados. Seu semblante mudou, algo nela aquecia seu coração e em um simples movimento, a menina começou a aproximar-se de mim aos poucos. Ficamos frente a frente por no máximo 10 centímetros durante uns 5 segundos até que Hotarubi tomou a decisão de tocar meus lábios em um beijo pudico.

A garota por fim, se afastava de mim mantendo seu olhar fixo. Por um instante suas pupilas focalizaram meus lábios que ela havia beijado. Não compreendia porque tinha feito aquilo, mas sabia que não havia arrependimento algum. Sua alma na verdade ficava mais calma e ganhava um conforto maior após realizar tal carinho.

Depois que ela se afastou por completo, algo chamava atenção da menina que agora olhava em direção a região do meu abdômen onde havia um cobertor branco que me cobria. A neutralidade do branco ia dando lugar a uma mancha avermelhada e viscosa. Seus olhos arregalaram ao notar que aquilo se tratava de um sangramento em minha barriga. Sem hesitar, ela me descobriu até a cintura, puxou minha camisa, e viu um curativo no lado esquerdo onde eu teria sido perfurado por um ataque de objeto perfurante, e ela acabou jogando seu peso bem no ferimento, fazendo por abrir um ponto e liberar um pouco do sangue que atravessou a gaze e manchou a coberta.

— Droga, o que eu fiz?

Apesar de se amaldiçoar por aquilo, ela sabia que era a única presente no momento e precisava resolver ali mesmo. Caçou nas gavetas algum pacote de gaze curativa, e acabou encontrando várias, além de outros itens emergências que ficavam no quarto. Pegou alguns pacotes de qualquer jeito, e com as mãos tremendo pelo nervosismo e o frio que fazia, rasgava um dos pacotes, deixando algumas unidades de gaze caírem pelo chão. As que ficaram em sua mão foram logo deixadas ao lado da cama enquanto ela procurava por esparadrapos. Sem muito conhecimento, ela somente observou como foi feito o curativo, removeu o que estava antes com certo cuidado e colocou o novo após limpar bem a região e dar uma estancada no sangramento.

Ao que tudo indicava, estava resolvido o problema do sangue. O amadorismo de Hotarubi não foi impedimento para ela consertar o problema que tinha causado, ingenuamente. Esticou minha blusa e me cobriu de volta com a coberta.

Ficou então me observando atentamente por alguns minutos, esquecendo-se que as janelas abertas e a chuva poderiam causar um resfriado ao meu corpo. Entretanto, quando menos se esperava, uma enfermeira adentrava no quarto. A porta aberta sutilmente, não despertava os sentidos nada treinados de Hotarubi. A funcionária ao ver as janelas abertas se espantou.

— Meu Deus, quem deixou isso aberto.

Ela saiu correndo para fechá-las. Quase escorregou, mas conseguiu se equilibrar. A chuva finalmente não invadia mais o recinto, e o mesmo acontecia com o vento. Imediatamente a temperatura já diminuía mesmo sem podermos sentir. A enfermeira se virou, e olhou para Hotarubi um pouco surpresa por não saber quem era e por um motivo que ela citaria logo a seguir.

— Quem é você menina? E por que não fechou as janelas? Está cega? Não viu a água entrando? — Disse dando uma bronca com razão.

Hotarubi despertava de seu transe sentimental por mim e voltava seus olhos para a mulher que estava tão brava.

— É que... Eu... Bem... — Não tinha justificativas de fato, e sem saber o que dizer, falou apenas a única coisa que importava. — DESCULPE!! — Exclamava inclinando seu corpo e chorando ao mesmo tempo.

A enfermeira ficou um pouco surpresa pela súbita reação da menina desconhecida. Ela então respirava um pouco para se acalmar.

— Tubo bem, mocinha. Só me diga quem é você e como veio parar aqui sozinha.

Hotarubi então se virava para o lado onde teria posto o papel de visitante, e lhe mostrava o documento. A enfermeira lia atentamente e entendia um pouco melhor o que estava acontecendo. Olhava novamente para o rosto de aflição da menina, e fechava seus olhos ao pensar na dor de Hotarubi.

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