Eu absolutamente adoro animais, embora a oportunidade de ter um nunca tivesse me ocorrido; era muito pobre quando morava com meu pai, de modo que não poderia arcar com as despesas de um pet e, depois, quando passei a morar no abrigo, não era permitido nenhum tipo de bicho de estimação. Por esse motivo, eu sempre brincava com os que encontrava pela rua; cães, gatos, coelhos. Uma vez encontrei um pássaro que até hoje eu não sei o tipo, mas ele tinha uma pelagem cinza brilhante muito bonita e inesquecível — meu irmão costumava dizer, quando eu me lembrava desse fato, que se tratava de um pombo. Meu irmão era um idiota.

Então, quando me disseram que eu seria responsável por alguns niken da vila, fiquei muito animada. Ainda me contaram que eram cães mais velhos, que estavam perto da aposentadoria. Ou seja, além de ser uma missão divertida, seria extremamente fácil. Fui toda saltitante até o endereço que me foi passado, pensando no que iríamos fazer; banhos, passeios pela aldeia, talvez um pouco de brincadeiras com bolas e bichinhos de borracha.

Já disse que estava muito animada? Pois estava.

Entretanto, assim que cheguei, notei que não iria conseguir brincar com os animais. Primeiro, porque eles estavam dormindo; segundo, porque a área que eles estavam fedia horrores. Eram cinco cães machos que haviam mijado e cagado em todos os cantos. Minha animação oscilou um pouco, não nego, entretanto, arriei as mangas do uniforme, peguei um balde com água e sabão e, com um esfregão, deixei aquele lugar brilhando. Acho que nunca haviam dado um trato ali.

Quando estava prestes a terminar, notei que os cães acordavam. Aproveitei para dar seguimento ao meu plano de lavá-los. A coisa toda, porém, foi bem diferente do que eu tinha imaginado; eles corriam demais, de um lado para o outro, e para conseguir molhá-los, tinha que jogar água e rezar para pegá-los. Não consegui esfregá-los direito, mas, ao menos, os pelos passaram a ter um odor melhor quando desisti e peguei uma toalha para secá-los. Nem preciso dizer que, à essa altura do campeonato, eu estava encharcada, fedendo a cachorro e com mais pelos deles em mim do que pelos humanos.

Coloquei água e ração fresca para os cinco. O sol começava a se por e, por mais que eu desejasse muito sair para caminhar com eles, não teria tempo para levar de um em um e, as chances de ir com todos juntos e não ser arrastada quando ficassem atiçados era nula. Porém, aproveitei para brincar um pouquinho com bolas velhas que achei no local; cães ninjas eram muito mais rápidos e perspicazes que cães normais, mas ainda eram cães. Corriam e babavam para todos os lados, como se a última oportunidade de brincar tivesse sido há muito tempo atrás.

A lua brilhava alto no céu quando me reportei aos meus superiores, relatando a missão. Fui alertada que não precisava ter feito tanto, ou ter ficado até tão tarde com os cães, contudo, choraminguei para que, quando precisassem de babá para os niken, falassem comigo.