AVISO:

Ajustei as golas do gibão, que pareciam me degolar a cada segundo que passava. Meu cabelo estava ao maior estilo nerdola, à moda boi lambeu jamais vista antes. A palheta de cores exageradamente gritante tornava tudo ainda mais ridículo. Meu semblante de nóia natural contrastava com toda aquela explosão de burguesia gritante, expondo toda a natureza ridícula deste indivíduo. Dei-me um último vislumbre no espelho antes de concluir o óbvio - eu nunca estive tão ridículo.

Acontece que, dado o incrível trabalho do basbaque aqui em entregar uma bagatela de trezentos convites de casamento por aí, há alguns dias, o o tal do noivo, um aristocrata daqueles, achou uma excelentíssima ideia me convidar para o seu tão aguardado casamento. Só que eu não era um mero convidado.

A boa da vez era que, como via de regra de todo bom relacionamento entre dois indivíduos, sempre tem um terceiro, psicopata e frustrado, que quer meter a caceta no que não lhe pertence mais. Aquelas praga que a gente comumente denomina como ''ex''. Essa emperiquitação toda tinha uma única premissa: disfarçar-me entre os convidados com o objetivo de impedir o corno que viria a tentar a audácia de estragar aquela cerimônia.

Como manda a boa e velha filosofia do capital, bastou uma palavrinha do ricaço para que as autoridades da vila validassem aquele trabalho de merda como uma missão oficial. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Missão
Nome: Convite de casamento, par. I
Recompensa: 35.000 RY. 4 XP
Descrição: O genin fora convocado por um aristocrata de Konoha para infiltrar-se entre os convidados de seu casamento e impedir que a cerimônia seja arruinada por um visitante indesejado.

Segundo o pomposo contratante, o casal já havia sido vítima de inúmeras ameaças e atentados por parte daquele pobre e amargurado indivíduo, tornando a vida dos envolvidos um verdadeiro inferno. Gados e histéricas apaixonadas são assim, a gente sabe. Homem, então, já é insuportável por natureza. Imagina quando se sente iludido e com o ego ferido?

Pode acreditar no que eu digo, rapaz. Esse maldito devia estar mofando numa masmorra. Ele é perigoso, muito perigoso. O cara envia cartas ao meu escritório quase que diariamente, picha os muros das minhas propriedades com mensagens obscenas. Há alguns meses, então, tudo piorou. Cheguei a cogitar a contratação de guarda-costas para minha noiva, mas ela insistiu para que eu não o fizesse. Ela insiste em defendê-lo, alegando que possui problemas e não faz esse tipo de coisa por mal. Ele chegou a agredi-la! Imagine minha reação quando minha querida Hanna chegou em casa com marcas em seu pescoço e as pernas bambas! Ooooh! Ele é um psicopata! Tenho receio de que ele chegue ao ápice de sua loucura ao saber do nosso casamento, e ele sabe. Eu sei que sabe!

Na moral, essa porra de história tava estranha até para mim, um virgem de 14 anos que sequer falava com garotas direito, mas tudo bem. Pagando bem, que mal tem? Os pormenores por trás desse estranho triângulo amoroso não eram da minha conta. Eu só precisava dar na cara de um otário que perdeu a mulher e meter o pé daquela merda.

Finalmente a parte boa daquela pelação de saco estava prestes a começar. O exército de serviçais começava a servir o buffet a medida em que aquele bando de porcos granfinos e suas jovens e gostosas esposas chegavam ao evento. Se não fosse por essa leva de aristocratas feios e esnobes, o local seria um pedaço do paraíso na terra; uma mansão gigantesca com aspectos vitorianos, circundada por um jardim colossal e ainda mais refinado, devidamente decorado para a cerimônia. Devido o número desnecessário de convidados e a grande extensão do perímetro, não era difícil de se imaginar invadindo aquele local de maneira furtiva.

A julgar pela forma como eu debulhava cada excêntrica espécie de quiches e bebidas que brotavam pela frente, podia parecer que eu estava apático para toda aquela possível situação. Mentira. A disposição para tirar a barriga da miséria não anulava minha vigia. E, convenhamos, a gente sabe que se tem um momento dramático em que um corno desesperado decide agir em um casamento, esse momento não era esse. Mas estava logo ali.

A multidão começou a se aglutinar nos luxuosos acentos que antecediam ao altar da cerimônia. Dei-lhe uma bela de uma mãozada na bandeja de um último garçom que cruzara meu caminho, guardando uma penca de petiscos nos bolsos do gibão e me juntei aos granfinos. A noiva, uma jovem de 20 e poucos anos, caminhou até o altar no mais extravagante dos vestidos. Peitão, rabetão, mó canetão. Gostosa pra caralho. O noivo, o tal do Kitamura, 50 e tantos. Um balofo de bochechas rosadas e uma careca cintilante, esperava por ela ao fim do trajeto. O show estava prestes a começar.

Eu estava estranhando o fato de estar me divertindo demais, até chegar naquela etapa do evento. Puta merda. Não haviam passado mais do que apenas alguns minutos desde que o mestre de cerimônia começara a recitar aquela bíblia de melação e juramentos que comumente se escuta em casamentos e eu já tava entediado para um cacete.

Cagando para absolutamente todas as palavras bonitas que eram recitadas pelo mestre, os quiches que superlotavam os meus bolsos entretiam-me enquanto meu olhar indiferente percorria os arredores do centro da cerimônia, atentos a qualquer movimento fora do comum. Bora, maluco. Eu sei que você tá aí, prontinho pra fazer aquela ceninha clichê de novela.

- Se alguém se opõe a esse matrimônio, fale agora ou cale-se para sempre. - E voilà. Lá estava o canalha. Cabelos prateados, uma silhueta alta e robusta com uma pequena cicatriz na testa. Se esse não era o otário iludido, eu era uma torradeira.

Meu tempo de reação para com a situação fora tão apurado que, de cara, atirei o delicioso quiche de camarão que estava nas minhas mãos direto nas goelas do babacão. O sujeito, que se preparava para soltar o seu brado retumbante, com uma boca tão grande e aberta que mais parecia o Steven Tyler fazendo falsete, pouco pôde reagir. Um, dois e três. Camarão, porco assado e salame. O combo de aperitivos o atingiu em cheio, travando sua fala. Prontamente, atirei-me em meio aos convidados, finalizando aquela sequência com uma bela sobremesa de sola de sapato no rosto do sujeito.

- É ele! Retirem-no daqui, já! - Esbravejou Hanna, a noiva, aterrorizada. A esse ponto da situação, todos os convidados tinham-nos como o foco principal, boquiabertos. Arrastei o sujeito enquanto tapava sua boca empanturrada de comida e abraçava seu pescoço com o braço livre, pelas costas do figurão. Enquanto se debatia, o rapaz tentava, inútil e descompensadamente, ladrar algumas palavras longe de compreensíveis.