Emi, em seu passado, vivia a vida de cortesã. Conheceu Eiichi Akezawa, um rico homem de negócios ligado à organizações criminosas, neste mesmo periodo, onde rapidamente recebeu a proposta de casamento por parte do magnata. Eiichi a todo instante se vangloriava para a jovem que a tiraria daquela vida e daria tudo que ela precisasse, como símbolo de seu amor. Um amor material que a tirou da pobreza e elevou tanto seu patamar que do dia para a noite se tornou tão rica que nem mesmo ela acreditava. Muito embora todos pensassem que tinha dado a maior sorte do mundo e sua vida estava sendo revolucionada, no fundo Emi estava infeliz. Se sentia ainda mais vazia do que quando exercia sua antiga profissão, a repulsa que sentia pelo seu atual marido deixava claro para ela que nem mesmo o dinheiro em abundância poderia trazer felicidades.

Mesmo passando necessidades por boa parte de sua vida, até a mais fina das mulheres que a via sentia inveja de sua beleza. Era incomparável! Qualquer homem que tivesse o prazer de avistá-la em seu campo de visão se apaixonava, muitos dos seus clientes tiveram os casamentos arruinados por perderem vossos psicológicos em meio ao anseio de quererem-na cada vez mais, consequentemente chegando a abandonar as esposas ou até mesmo serem descobertos no ato. Emi apenas se divertia, pois tinha plena noção do seu poder. Quando estes casos aconteciam, a graça acabava e a ruiva colocava ponto final na "relação", alguns terminavam literalmente mortos por amor, já outros continuavam insistindo e chegavam até a ameaçá-la por ter desgraçado com vossas vidas, mas ela sempre encontrava alguém que a protegia e resolvia seus problemas anteriores — muito embora estes protetores também se tornassem problemas e acabassem desencadeando um ciclo sem fim.

Com Eiichi Akezawa não foi diferente, ficou perdidamente apaixonado logo no primeiro encontro, mesmo sendo casado com alguém que sempre jurou amor. Emi ficava perdidamente fascinada naquilo, ter alguém de tanto renome em seus pés sem nenhum tipo de esforço era como se tivesse conquistado um título único. Não sentia amor, mas seu coração batia forte. O êxtase que dominava seu corpo nos momentos em que o encontrava a fazia tremer como nunca antes, mas quando o assunto passou a envolver casamento, toda a magia se esvaiu. Com ele acabou sendo totalmente diferente, não existia um homem sequer com coragem suficiente para enfrentá-lo, Emi até buscou, mas nem mesmo sua beleza foi capaz de seduzir alguém disposto a impedir este casamento, era suicidio para qualquer um. Nunca havia se sentido tão frustrada em sua vida, era como se pela primeira vez sua beleza não fosse suficiente para cumprir com seus desejos mundanos. Sem opções, mesmo tentando postergar a proposta, acabou aceitando se casar com o criminoso. Sabia que sua liberdade logo seria extinta e passaria a viver uma vida passiva onde teria de encontrar um novo tipo de diversão, mas não se conformava em desistir da sua sexualidade tão facilmente.

Algumas semanas se passaram e a data da cerimônia finalmente chegava. Após o casamento, a nova Akezawa aos poucos começava a se conformar com o fim da sua vida de aventuras e o começo da sua riqueza, a festa pós-casamento contava com a presença de diversas pessoas de extremo renome, desde heróis mundiais até mesmo famosos do mundo inteiro. Ela ficava encantada de pensar que toda esta reunião se dava por conta de sua existência, começando aos poucos sentir o luxo da vida que começaria a levar. Eiichi havia lhe explicado, neste mesmo dia, que o novo mundo que ela viveria seria completamente diferente do que ela viveu em seu passado, quando ainda não fazia parte da classe alta. Ele ainda prometia que o futuro reservava diversas novas experiências que com toda certeza a agradaria.

Não fazia ideia disto, mas todas as festas do seu novo marido envolviam acontecimentos lendários, e neste dia não seria diferente; dois lutadores campeões de artes marciais diferentes se enfrentavam no meio do evento, sendo os convidados a enorme plateia. A luta não durou sequer um minuto e também não satisfez a noiva, que acabou ficando distraída com outro fator; um homem de cabelos avermelhados, assim como os dela, de olhar frio e corpo escultural a encarava. Nenhuma palavra havia sido dita, mas Emi estava fixada, não conseguia sequer se mover ou tirar o olhar dele, além de tremer levemente. Sentia como se não trajasse nenhuma roupa neste momento, ou melhor, como se o desconhecido rasgasse seu vestido somente com os olhos. Eiichi notou com facilidade e de imediato se aborreceu. Tratou de dar um tapa no rosto de sua mulher e então passou pelo lado do homem que ela encarava, onde derramou em suas vestes propositalmente a taça de vinho que levava em mãos. Em resposta, o jovem partiu até Emi, a agarrou e beijou-a diretamente na frente do seu marido, que quis matá-lo no mesmo instante, mas foi contido pelo lutador vencedor que o convenceu a não fazer isto na frente dos convidados.

Mais tarde, o recém-casado jogou a taça de onde sua esposa bebia devido ao fato dela não ter conversado nada com ele desde o desentendimento; e afirmou que sabia em quem ela está pensando neste exato momento, o cobiçando de maneira descarada. Ela negou, mas antes que a confusão continuasse, o ruivo apareceu nas costas do Akezawa e, assim que se virou, seu pescoço foi quebrado com apenas uma mão. Eiichi Akezawa morreu instantaneamente, o que assustou a mulher na primeira instância. O homem de força incomparável revelou então saber quem Emi realmente era: uma mulher sádica de sangue frio e maligna. Ele a abraçou, e Emi correspondeu, com um sorriso estranho que demonstrava o desejo que sentia. Nunca havia se sentido assim, ao ponto de desejar ao invés de ser desejada, seus desejos sexuais eram libertos contra sua vontade e a consumia ao ponto de praticamente não se importar com a morte do marido, mas tinha de manter as aparências para os convidados demonstrando seu luto.

Depois deste ocorrido, Emi assumiu todo o império e a riqueza do falecido marido e prometeu para todos os familiares do mesmo que levaria o legado do nome Akezawa juntamente com o filho que carregava em seu ventre. O que não sabiam era que, na verdade, estava grávida de Yujiro Hanma, o desconhecido no qual Emi acabou conhecendo melhor depois da tragédia ocorrida na festa.

Dona de mansões maiores do que as dos Senhores Feudais e responsável por empresas famosas pelo mundo inteiro, a Srta. Akezawa se tornou tão rica que toda novidade tecnológica ou derivada acabava chegando primeiro nela, mas nunca a viam sorrindo. Muitos acreditavam que se tratava da grande carga horária que exercia no trabalho e acreditavam que fosse justificável, mas estavam completamente enganados. Antes de conhecer seu amante, era uma garota aparentemente tímida e meiga, completamente diferente do que havia se tornado. Sua transformação foi notória; estava obcecada por força e violência, chegava a inclusive ficar excitada quando entrava em brigas com Yujiro Hanma, mesmo sempre saindo machucada.  

“Transforme o garoto em um homem capaz de me derrotar.” A frase ecoava em sua mente de modo que este passou a ser seu objetivo de vida, sua necessidade extrema ao ponto de colocar de lado a posição de mãe e assumir o cargo de investidora. Qualquer assunto que não se tratasse deste objetivo não interessava para ela e sequer dava ouvidos, somente conseguia continuar arquitetando todo o trajeto que precisaria passar para levar seu filho até onde desejava.

Quando Kaginimaru completou treze anos de idade, sua mãe contratou os melhores treinadores da região e pagou o suficiente para que todos auxiliassem a evolução do garoto, pois sabia que Yujiro somente ficaria feliz caso Kagi se tornasse mais forte do que ele. Mesmo falhando em muitas das lutas de alto nível que acabava sendo convocado, a progenitora visualizava muito bem a progressão de seu filho e cada vez mais o via estar mais próximo de alcançar os poderes de seu pai, mas tudo não passava de uma ilusão. Enquanto o herdeiro dos Hanma completava alguma missão de nível considerável em Iwagakure, seu pai estava pelo mundo a fora matando shinobis e seres imbatíveis que faziam com que seu nome ecoasse pelo mundo inteiro, rebatendo assim qualquer avanço do filho. Estes acontecimentos irritavam a mulher de maneira profunda, pois não importava o quanto investisse, seu dinheiro de nada valia quando se tratava de tentar equiparar o filho ao pai.

Ela muitas vezes tentou por conta própria atacar o “Ogro” e entregar o desejo dele, pois durante toda sua vida acostumou-se em fazer suas tarefas por si só, mas nunca tinha sucesso e sabia com plena clareza que estava sendo poupada. Chutes, socos, facas, Kibaku Fuuda’s... nada a permitia que vencesse do homem, mas percebia que havia evoluído seu físico nestas tentativas e seus ataques estavam muito mais fortes do que antes. Este foi o maior problema. Emi acabou se convencendo que o problema não estava na força extrema de Yujiro, e sim na falta de capacidade que seu filho possuía — se até ela estava evoluindo, por que diabos alguém que estava recebendo os melhores investimentos do mundo não?

Nervosa com os anos se passando e nada acontecendo, acabou indo de encontro com o garoto para tirar satisfações. Seus encontros eram quase que nulos, raramente o via uma vez por mês devido ao fato dele sempre estar em constante treinamento por diversos lugares diferentes à fim de adquirir experiências suficientes.  Quando o reencontrou, enquanto ele sorria, sua primeira reação foi de socá-lo no rosto por diversas vezes, em ambos os lados enquanto que o repreendia por ser fraco. Foi depois de levar muitos deles que o adolescente desviou e abraçou-a, na tentativa de apaziguar a situação, mas acabou a soltando forçosamente quando recebeu uma forte mordida dela, que saiu em disparada para fora do local.

Kaginimaru desde pequeno aprendeu que não tinha outra opção senão alcançar os objetivos que seus pais o impuseram, mesmo que desejasse apenas o amor de sua mãe, o modo com que foi criado deixava claro que apenas conquistaria quando conseguisse derrotar seu próprio pai, a criatura mais forte do mundo. Por vezes tivera momentos de tristeza e solidão, mas não se deixava ser dominado pelos sentimentos ruins, usava deles para criar ainda mais forças em seu interior e motivar-se mais do que nunca.

Sendo a boa conhecedora do psicológico dos homens que era, Emi sabia muito bem que o que havia feito contra seu filho com toda certeza em algum momento o motivaria a continuar melhorando e talvez pudesse até mesmo turbinar a velocidade com que isto aconteceria. Estava correta, não demorou muito para que as notícias corressem sobre novos feitos do seu filho e como sua reputação estava aumentando.

Mas ainda não era suficiente.

Uma visita inesperada de Yujiro a fazia tremer como na noite em que o conheceu. Mesmo obcecada com seus desejos profundos, conseguia visualizar que seria impossível uma criança vencê-lo, portanto tinha conhecimento prévio dos assuntos que ele desejava tratar. Ele expressava sem cerimônias que a mesma não havia feito o suficiente para tornar Kagi forte; o choque acabou sendo muito maior do que esperava, as palavras perfuravam seu peito e sentia como se tivesse perdido sua própria vida diante de tal reprovação. Atacava-o com um chute alto e direto no rosto, digno de alguém bem conhecedor de artes marciais, demonstrando o quanto tinha evoluído, mas sequer arranhava o caminhão de músculos.  

Ele sorria, por dentro estava ciente da evolução dela, mas não dava a mínima. Finalizava o encontro anunciando que em breve daria a primeira prova ao filho, e com “prova” queria dizer que lutaria de igual para igual, não se importando que se tratasse de um filho com pouca idade. Emi, por sua vez, sabia que Kagi não estava pronto e também não estaria por um bom tempo, mas estava extremamente curiosa para saber o que aconteceria. Mesmo sendo a vida de seu filho que estava em risco, ficava extremamente animada com a notícia do combate iminente e não conseguia pensar em outra coisa. Yujiro não havia dado uma data, mas deste dia em diante a ruiva não conseguiu sequer focar-se em seu trabalho ou na administração das empresas.  

Negligenciar sua vida profissional passou a ser inevitável. Mesmo possuindo riquezas que poderia garantir a aposentadoria de todas as suas próximas gerações, deixar de trabalhar — para quem havia conhecido a Emi nesta época pós-Yujiro, significava que não estava bem.

Considerações: