|野郎







— Me apaixonei quando a vi brandindo essa espada.

— Ela te salvou?

— Estava tentando me matar. Foi um esplêndido golpe que quase arrancou meu pescoço — Ele tomou um gole lento de chá — Nos casamos duas semanas depois.

Suas palavras eram tão saudosas que me deixavam melancólico. Era um senhor de aproximadamente oitenta anos, desses bonitinhos que dá vontade de ser o nosso avô. O tom calmo que escolhia para completar suas frases transmitia sabedoria, mas o que mais me impressionava sobre ele era o quão grande foi seu amor para com sua companheira de vida.

Fazia pelo menos duas horas que nós estávamos sentados em sua cozinha aconchegante, decorada com forros quadriculados sobre a mobília rústica. Eu sei, na missão não falava nada sobre fazer companhia ao Sr. Mytoshi, mas era impossível não querer absorver um pouco mais sobre sua história de vida e o porquê daquele senhor ter contratado o serviço.  

— Nós ficamos juntos por sessenta e cinco anos. Nem a vida de shinobi conseguiu nos separar, e isso sim é um feito a ser admirado, garoto! — Ele gargalhou com sua voz envelhecida, me entregando de vez a espada, quase como se tivesse que forçar seus dedos à soltá-la — Dê um bom descanso à ela, tá bem? Essa arma carrega a alma e as memórias de minha querida, assim como aquela cerejeira onde nos beijamos pela primeira vez.

— O senhor não tem com o que se preocupar. A espada de sua querida Aiko vai adorar a vista da colina — Levantei-me, portando em minhas mãos o objeto enrolado em um pano verde-oliva. Ainda assim, era nítido que o fio permanecia afiado — Obrigado pelo chá. Vejo o senhor por aí.

— Ei, garoto, você já amou?

— Todas que tentaram me matar eram feias demais.

Fechei a porta ao som de sua gargalhada solitária.  

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A caminhada até a colina não havia sido difícil ou cansativa. Embora fosse verão no País do Fogo e as temperaturas deixassem de lado a amenidade naquela época do ano, a conversa com o sr. Mytoshi havia rendido tanto que já era quase fim de tarde quando saí de sua casa.

Obviamente, carregava aquela espada como se fosse um recém nascido. As palavras do velhote me tocaram de tal modo que de forma alguma eu deixaria de dar o devido respeito e honra ao objeto em minhas mãos. Aquela arma carregava a alma de Aiko, uma grande kunoichi da vila da folha que viveu a vida ao lado de seu marido como dois grandes militares ao serviço do bem de todos que moravam ali. Soava inspirador, mas não tanto quanto se você pudesse ver a cerejeira no topo da colina, bela como sr. Mytoshi havia descrito em suas coordenadas.

— Parece um ótimo lugar para descansar, garota — Me senti estranho ao conversar com a arma, mas de alguma forma eu estava conectado com aqueles sentimentos tão profundos despejados nela. Ajoelhei-me com calma no topo da colina que abrigava uma ótima vista das planícies e de Konohagakure no Sato. No fim, acabei chorando um pouco e dizendo algumas palavras de despedida enquanto a enterrava próximo às raízes da árvore. Eu não sabia rezar, então apenas me levantei, limpei a terra dos joelhos e torci para que um dia aquele casal de amantes se reencontrasse em algum lugar melhor.

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