|野郎







— Vai contar alguma piada?

Quando entrei na sala, uma voz infantil caçoou e toda a classe irrompeu em risadas. Não é como se eu não esperasse por aquilo, afinal quando se decide nunca retirar do rosto o nariz de palhaço você precisa estar preparado para ouvir algumas piadinhas. Para ser levado à sério, era necessário muito mais do que primeiras impressões.

O problema é que nada pode ser mais perverso e maligno do que uma criança. Ela provavelmente era só mais uma dentre tantas que já haviam apontado o dedo e zombado de mim, então tudo que fiz foi colocar as mãos na cintura e abrir um grande sorriso.

— Kekeke, talvez — Minha missão ali não era dar lições de moral, tampouco enfiar caráter nesses filhos da putinha ingratos. Ao que parecia, segundo a descrição do pergaminho enviado pelo quartel, eu deveria dar uma demonstração shinobi para aquela turma e ensiná-los um pouco sobre o valor de ser um ninja — Você pode dar uma olhadinha debaixo da sua mesa, por gentileza?

Direcionei a indagação à mesma criança que havia me questionado anteriormente. Debaixo de sua mesa, uma infestação de kikaichuu descansava, amontoados e grudados na parte inferior da tábua que normalmente ela usava para escrever. Não era muito agradável aos olhos pra quem não estava acostumado, confesso.

Com um grito agudo e um salto a criança fez com que as outras também começassem a rir novamente. Só aquilo não bastaria, claro, ou eu seria só mais um cara fazendo bullying.  

— Esses são meus kikaichuu, insetos que vivem em simbiose com o meu corpo e em troca lutam ao meu lado e cumprem missões arriscadas.

Tudo bem, a última parte era só um blefe.

— O que vocês prefeririam em um campo de batalha: Um encantador de insetos ou… um piadista?  

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Atendendo os protestos incessantes da criança que gritava “tira, tira, tira!” no que se relacionava aos insetos debaixo de sua mesa, levantei a destra e fiz um movimento chamando-os para voarem ao meu redor. No momento em que os besouros alçaram voo pela sala e o zumbido de suas asas tocou a audição das outras crianças, elas também pareciam um pouco mais impressionadas. Escutei o típico “uaaau” e abri outro largo sorriso.

— Vocês ainda são apenas sementes daquilo que um dia se tornará a Folha. Sementes. O primeiro estágio, mas entendam que neste mundo encontraremos pessoas diferentes. Pessoas que usam nariz de palhaço ou máscaras de Tengu. Alguns vão adestrar cachorros gigantes, outros lutarão com os punhos. Vocês escolherão se serão melhores em investigar, caçar ou planejar estratégias. As diferenças não importam! — A última frase soou incisiva. Sei que pra um garoto de doze anos, uma idade não muito longe daquelas que ali se postavam em minha frente, era estranho que eu falasse com aquela propriedade sobre o mundo ninja… Ou quem sabe eu já havia ensaiado aquele discurso mil vezes em frente ao espelho e gostaria de tê-lo dito para os meus próprios companheiros de sala que nunca foram muito gentis — Sabe, crianças, a coisa mais importante sobre ser um ninja é dar valor aos seus companheiros de vila e de profissão. Vocês dependerão uns dos outros. Devem se apoiar, cuidar e serem cada vez mais fortes para que nenhum amigo seu morra em seus braços. Ser ninja não é brincadeira. Alguns de seus superiores não tolerarão qualquer tipo de gracinha, pois já viram os engraçadinhos morrerem, despreparados, num campo de batalha.

Fiz com que o zumbido parasse. Os kikaichuu descansavam novamente sob a minha carne e a sala permanecia calada enquanto me ouvia. Caminhei até a porta e, antes de alcançar a maçaneta, olhei com uma seriedade quase teatral para a sala de aula.

— Me chamem de Treze! Em alguns anos encontrarei vocês lutando ao meu lado no campo de batalha. Prefiro que quem esteja protegendo minha retaguarda tenha passado mais tempo treinando do que caçoando dos colegas — Finalmente, abandonei o tom sério e sorri com os olhos — Kekeke Vejo vocês por aí!  

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