Quando o som da água e o frio dela me atingiram, eu imediatamente enrijece meu corpo e despertei de um sono profundo. Não sabia onde eu estava ou como eu havia vindo parar ali. Eu só conseguia ver o quarto fracamente iluminada por uma luz que estava acima de mim. Mesmo com isso era quase impossível ver as paredes ou muitos detalhes pois a luz parecia estar ali apenas para que eu fosse destacado.

Meu corpo estava ensopado com a água e eu sentia muito frio. Em partes por que eu estava trajando apenas o meu calção azul de bolinhas rosadas que eu havia colocado para dormir na noite anterior. Imediatamente tentei puxar minhas mãos para tampar a frente, mas era impedido pelas amarras que envolviam minhas mãos.

— Mas que p— — Falei, mas não conclui pois fui interrompido por outra voz.

— Acordei a bela adormecida. — A voz era feminina e vinha de trás de mim. Tentei virar meu pescoço para olhar quem era, mas nem assim fui capaz de vê-la. Um correu pela minha espinha quando senti algo viscoso começar a rodear meu pescoço. — Não olhe pra mim. Quem está interessado em você é o Diabo. — Ela se referiu a cobra. — Eu sou só a interprete.

O som da cobra me dava arrepios e não ajudava o fato de eu estar preso e com ela me rondando. A cobra eu podia ver e sentir seu peso. Ela possuía marcas negras pelo corpo marrom e era extremamente pesada. Eu ainda tentava me livrar daquelas amarras, mas era completamente em vão.

A mulher finalmente me rodeou, entrando no meu campo de visão e me encarou, tentei desviar meu olhar, mas ela tocou meu queixo com seu dedo gélido e sua unha cumprida e afiada, todo pintado em tons ver e vermelho. A encarei novamente. Agora eu conseguia ver seu rosto, a boca rosada e carnuda, seu nariz fina e pequeno, sua pele bem cuidada. Sardinhas cobriam seu rosto e faziam contraste com os cabelos ondulado e ruivos. Mas seu rosto era tenebroso por um motivo: Seu olhos possuíam um X costurado com linhas de tecido mesmo, de uma forma bem mal feita, mas que claramente havia a cegado.

— Ah, maninho, eu só estou aqui para cumprir os desejos do papai. — Disse ela com sua voz sensual. — Você precisa saber o que significa ser a ovelha... — Ela continuou. Em seguida, a moça me assustou mostrando presas e uma expressão de ataque, antes de continuar. — Por que pra mim você parece fraco e inútil. Sua presença nessa família é irrelevante. Até seu irmã é melhor que você.

Pude ver a linha bifurcada dela dessa vez, assim como suas presas pontiagudas, quase como uma personificação de cobra. Diabo rodeava meu corpo, dessa vez meu tórax estava completamente rodeado pelo corpo da cobra que já estava me apertando como se fosse me esmagar. Sua cabeça, no entanto, subia pelas minhas costas até alcançar meu pescoço.

— Diabo... — Ela olhou assustada para a cobra, como se já soubesse o que ela iria fazer. — NÃO! — A moça veio para dar o bote em mim, mas a cobra havia sido bem mais rápida.

Em uma mordida só, pude sentir uma queimação rapidamente se espalhar pelo meu corpo, como se todas as minhas células estivessem sendo afetadas de uma vez, mas não era uma mordida normal ou um veneno mortal, era algo diferente, algo temido por ela, um dom que a cobra havia me ensinado, o verdadeiro poder da ovelha.

— AH! — Soltei um grito com a dor da picada, um grito que não saiu apenas som, mas da minha boca saía o veneno da cobra, um gás ácido que atingia o rosto da mulher e derretia sua pele. Não era ainda o suficiente para mata-la, mas era o suficiente para retardar seu ataque e deixa-la sofrendo em agonia no chão.

De minha boca, o gás não parava de sair, e a cobra não parecia ser afetada por aquele novo poder, visto que aquele gás, ou devo dizer, vapor, começava a me envolver em uma espécie de manto que não me machucava, como se o ph ácido fosse menor em contato comigo e com Diabo. O manto finalmente tomou forma, revelando-se como um manto de ovelha.

— Isso é inadmissível!! Como essa escória pode ser o hospedeiro da ovelha??? — Ela estava assustada e com medo. Enquanto aquele gás, com aparência de lã, derretia as amarras e a cobra me liberasse do seu abraço mortal.

Me levantei da cadeira que agora começava a ruir por falta de estrutura, e andei para a frente com um rosto totalmente pleno e sem nenhum sentimento de culpa, remorso ou raiva, simplesmente com a ideia de que eu tinha um serviço a cumprir. Assim como a mulher que agora possuía a carne de seu rosto exposto. Me aproximei dela, e aproximei minha boca de seu ouvido.

— O lobo, ou a ovelha? — A questionei, que imediatamente suspirou em desistência. Ela não iria lutar contra as vontades do pai, e eu não pretendia deixa-la sair livre.

— A ovelha. — Ela fechou os olhos em paz. Eu, por outro lado, toquei seu rosto ensanguentado, fechei meus olhos e a puxei para um beijo, o ultimo de sua vida. O beijo veio carregado de gás corrosivo que a consumiria de dentro para fora, uma morte rápida, que atingiria primeiro seu cérebro antes de dissolver todo o seu corpo.

Conforme caminhava tranquilamente para a porta, Diabo agia com agilidade, ele envolvia minha perna direita e escalava meu corpo em sincronia. Envolvendo meu tórax até que conseguisse repousar sua cabeça em meu ombro direito. Diabo era meu novo companheiro de jornada, e eu não precisava entender o que ele falava para saber disso, era uma conexão que ia além disso.

Ao sair do local, conseguia identificar a Lua de sangue que pairava no céu, assim como montanhas e muitas árvores, e nenhum caminho demarcado. Encarei a cobra para nos comunicarmos, mas nenhum sinal foi dado.

— Tá, mas onde estamos e pra onde vamos? — Questionei, sem ter a menor ideia de como voltar para vila após ser sequestrado, sendo obrigado a andar pelo local tentando achar algo que me lembrasse um caminho, trajado apenas com meu short de pijama e a cobra que cobria o restante do meu corpo.

Considerações:

Jutsus:

Armas(20/25):