Esta seria a primeira noite em anos que passaria em casa sem a presença de Pandora. A Cientista da vila estava em viagem resolvendo assuntos delicados em nome do vilarejo, mesmo sendo algo realizado contra a vontade do Hachidaime Tsuchikage, esta seria sua primeira atividade após o tempo de afastamento obrigatório por conta da gravidez.

Havia sido um dia exaustivo, mas Kaginimaru finalmente chegava em casa. Desde que se tornou um Kage, sua rotina passou a quase sempre seguir da mesma forma; de casa para o gabinete e do gabinete para casa. As exceções ainda existiam nos momentos em que se via obrigado a realizar alguma missão interna em prol da vila ou quando conseguia escapar um pouco do trabalho no gabinete para realizar alguns treinamentos físicos e técnicos, mas eram raras e não mudavam muito a rotina que seguia. Carregava consigo, em seus braços com muito cuidado, Yen, a filha do casal na qual havia ficado com a responsabilidade máxima de cuidar dela.

A primeira tarefa a ser feita foi a de colocá-la em seu berço, por sorte a garotinha já estava dormindo e teria tempo de sobra para exercer seu trabalho como um verdadeiro Dono de Casa multifuncional. Começaria por fazer um lanche da noite, abria a geladeira e procurava pelos melhores e mais fáceis ingredientes que poderia preparar. A seleção se dava quase que instantaneamente, o jovem passava a mão no saco de pães de forma e por um momento refletia se deveria jantar de uma vez, mas um sanduíche parecia ser muito mais fácil e rápido, exatamente o que precisava.

Juntando quatro fatias de pães com todos os ingredientes que julgou combinarem e que podia comer cru, sem a necessidade de cozimento ou coisa parecida, como queijos, embutidos em geral e até um peixe, seu grande sanduíche estava pronto. Quase não coube em sua boca, mas uma mordida direta e com vontade exterminava metade do lanche rápido em questão de segundos. Porém, a dificuldade para engolir por conta do alimento estar particularmente seco o lembrava da necessidade de um acompanhamento líquido. Por sorte, na geladeira havia um refrigerante ainda lacrado, perfeito para a ocasião. O jovem abria a tampa e, com a mão tampando a abertura, o balançava intensamente na intenção de retirar todo o gás da bebida. Ao retirar a mão, o refrigerante jorrava um pouco para fora, como se esperava, e então se demonstrava pronto e perfeito para consumo. Bebia direto da garrafa até secá-la, enquanto comia o sanduíche em conjunto. Ao término, tomaria posse de três bananas como sobremesa do pós-lanche, finalizando enfim a primeira parte da sua refeição noturna.

Agora alimentado, existia uma nova tarefa que necessitava resolver; limpar o refrigerante que acabou caindo no chão da casa. Se deixasse ali e Pandora descobrisse, mesmo que secasse, o Hanma certamente estaria morto, além de saber que a bagunça ficaria ainda pior quando perdesse a liquidez. Com um pano velho em mãos e alguns produtos de limpeza que sequer sabia o nome, mas que gostava do cheiro, o jovem passava a esfregar o chão utilizando as próprias mãos manuseando o pano. O brilho da região limpa era notório, se destacava tanto que o piso ficava muito mais brilhoso do que o restante da casa. — Droga... Vou ter que fazer isso nessa casa inteira... — Comentava consigo mesmo, suspirando e relembrando o quão extensa a casa do casal era.

Com um suspiro, então, continuava a limpeza, terminando a cozinha e indo para a sala, depois para os quartos, para o banheiro e por fim até a dispensa e qualquer outro cômodo que faltasse. Logo no começo, gostava do serviço, sentia seus músculos serem forçados e inclusive lidava com o cansaço do braço quando insistia em esfregar partes mais persistentes. Uma atividade doméstica semelhante a um dia de academia, era como se estivesse no paraíso, pois além de treinar o próprio corpo certamente deixaria a esposa contente. Por sorte, a junção da glicose e a sacarose da refeição anterior o energizava ao ponto de conseguir sem problemas deixar tudo brilhando. Sem perder tempo, agora assumia uma vassoura e focaria em tirar a poeira de locais que não conseguia alcançar naturalmente, como a parte inferior de alguns móveis, colocando tudo em uma sacola velha para jogar fora depois.

Com mais uma tarefa terminada, agora o próximo passo seria levar todo o lixo para fora. Reunia todos os sacos e sacolas da casa e marcharia para descartá-las no local adequado lá fora. Bocejando e com as principais tarefas de casa concluídas, Kaginimaru se espreguiçava intensamente, esticando todos os músculos do corpo e então relaxando, trazendo uma perfeita e única sensação de alívio e descanso. Passaria pelo quarto onde a filha estava para verificar se tudo estava bem e, ao concluir que sim, partiria para a sala da residência, deitando no sofá para um breve descanso.

Olhava para o teto e refletia sobre a mais nova descoberta de que ser um dono de casa realmente dava trabalho  — sorria consigo mesmo, e gradativamente, com o passar do tempo ali deitado, seus olhos lentamente começavam a se fechar. Sabia que não podia dormir ainda, mas brincava com o perigo e aproveitava do relaxamento, quase fechando e levemente abrindo os olhos de volta por diversas vezes. Até o momento em que ambos os olhos se fecharam e sua cabeça levemente inclinou-se para frente, demonstrando que havia alcançado o estado de sono profundo.

Não podia! Seu instinto paterno sabia que ainda precisava alimentar a filha quando a mesma acordasse, portanto, quase que realizando um pulo do sofá, o Hanma despertava desesperado, assustado com a possibilidade de ter dormido demais — embora não houvesse passado nem mesmo um minuto. Retornava ao quarto da Heinstein e mais uma vez verificava sua integridade, feito isso, se dirigia até a cozinha para preparar a mamadeira juntamente com seu jantar. O processo era rápido, havia previamente aprendido observando as atividades de Pandora em momentos passados. Alimentaria a bebê quando a mesma acordasse, a colocaria para dormir de volta, jantaria sozinho observando as estrelas e por fim dormiria no mesmo quarto da filha, visando escutar caso ela acordasse.