Saito olhou o cômodo repleto de sangue deixado pelo embate que se deu ali. Parecia a cena deixada após uma chacina, mas apenas dois corpos jaziam no chão. Estavam completamente triturados como se tivessem sido retalhados por lâminas completamente afiadas e em movimentos tão ferozes que mais parecia uma questão pessoal sendo resolvida — Acho que isso é mais do que um simples ataque às defesas da aldeia — Disse o Uchiha enquanto voltava-se para o ANBU que também averiguava a guarita — Eu já vi muitas cenas de se arrepiar os cabelos, mas nada tão odioso quanto isso — Retrucou o mascarado.

Saito encarou o sujeito com certo pesar e estava ponderando acerca do que fariam a seguir quando os olhos avermelhados se fizeram tão úteis quanto nunca anteriormente. O sibilar do aço lançado contra a retaguarda de seu companheiro o acertaria em cheio se não fosse o reflexo do Uchiha que o empurrou e caiu no chão junto do mesmo — Estamos sendo atacados — Como em um movimento automático, Saito tocou no rádio comunicador em seu pescoço enquanto procurava cobertura se abaixando na parede próximo da janela, pela qual olhava rapidamente e de relance na direção da qual havia partido a arma — Ei, você, precisa encontrar os meninos e ajudar eles a se reposicionar — O Uchiha naquele momento apenas tinha interesse em promover a proteção de seus subordinados antes de entrarem de fato naquele duelo.

O ANBU havia sim se descuidado naquele primeiro momento e podia facilmente ter sido acometido com aquele golpe, todavia, estava categoricamente acostumado com aquele tipo de eventual situação e com um único selo desapareceu diante dos olhos do Uchiha. Ao mesmo passo, Saito recebeu uma mensagem do esquadrão da direita, Tsuchi — Time Ho, informe a situação — O líder, Levi, parecia ligeiramente aflito, mas procurava manter o decoro — A situação parece estável. Ainda não identifiquei quantos inimigos e nem a posição precisa, mas tenho uma vaga ideia clara. Ainda não precisamos de socorro — Saito precisava deixar aquela última parte clara, tendo em mente que o combinado fora aquele: o esquadrão da esquerda sempre será auxiliado pelo da direita caso necessário.

Podendo se concentrar no que faria, sua próxima ação estava clara. Suas técnicas de ilusão de uso ocular estavam completamente fora de cogitação, muito embora a percepção proveniente do sharingan ainda fosse útil. Tendo isso em mente realizou as mãos à frente do rosto e realizou um único selo de mão, fazendo uso então de uma de suas técnicas. Genjutsu Shibari. Saito tinha total controle sobre seu próprio chakra para que de nenhum modo aquela ofensiva acometesse os seus companheiros, todavia, qualquer outra pessoa num alcance de trinta e nove metros sofreria com seus efeitos e ficaria paralisado.

Apesar da ofensiva, não tinha como o Uchiha saber exatamente como ele iria proceder sem que se colocasse em risco para de certo modo atestar se de fato suas técnicas de ilusão e controle mental viriam a ser efetivas contra aquele inimigo. Não vendo outra saída, levantou-se lentamente e lançou seu olhar aprimorado pelo sharingan na direção da qual havia partido a faca kunai momentos antes. Deu-se conta, a partir de sua observação, que haviam ao menos dois inimigos nas arvores, ambos paralisados pelo controle que o usuário de genjutsu havia obtido sobre os mesmos.

— Atenção, equipe Ho! — Bradou Saito em busca de reunir seu esquadrão. Como resposta, acompanhados pelo caçador da ANBU, todos os três mais novos se prontificaram em volta do comandante — Na arvore a frente — Seu olhar, acompanhado daquela indulgência, foi direcionado a Feitan e Mello que desapareceram mediante toda a velocidade que utilizaram para se locomover até a arvore, onde renderam os inimigos paralisados. Os adversários eram claramente mais velhos, tendo em torno de cinquenta e sessenta anos, entretanto, demonstravam ser muito bem treinados e versados no uso de armas, a julgar pelas armaduras abastadas de lâminas que carregavam. Os dois aspirantes da policia despuseram os dois inimigos rendidos de joelhos diante do restante do grupo, mantendo-os sobre a ameaça de terem a jugular atravessada por facas kunai que empunhavam tão impacientes.

Saito tinha total controle da situação. O domínio sobre as capacidades físicas dos adversários rendidos foi desfeito e encontrou seu fim tão rapidamente quanto o Uchiha lhes questionaria acerca dos feitos — Quem são vocês? — Indagou o rapaz enquanto abaixou o tecido que cobria a parte inferior de sua face para que encarassem o seu rosto e entendessem a seriedade que suas palavras carregavam — O que é isso? Renovaram de novo as forças da aldeia? — Indagou o da esquerda ironicamente — Nós somos a vingança, garoto — Respondeu o da direita, claramente mais inclinado ao dialogo.

— O que isso quer dizer? Todos os guardas dispostos nos postos avançados fizeram algo contra vocês? — Questionou Saito, mantendo sua postura e tom firma — Nossa vingança é contra a aldeia da folha — Retrucou o mesmo sujeito de outrora — Estamos nos vingando por termos sido usados como armas por tantos anos e agora estarmos a mercê! Descartados como se não tivéssemos entregado tantos de nossos anos à sombra do fogo — Completou. Aquilo encheu Saito de ira e o deixou em silêncio por alguns instantes — Vocês iriam continuar a investida até chegar a aldeia então? — Perguntou, escondendo sua raiva em suas palavras mansas — Sim! Definitivamente — Esbravejou o primeiro sujeito. Saito virou-se e puxou pelo braço o genin que os acompanhava, colocando-o de frente para os dois assassinos veteranos — Esse aqui. Vocês iriam matar esse aqui? — Saito mudava seu tom e agora adotava uma postura agressiva e assustadora — Com certeza os pais dele também, não é? Os amigos? Diga, garoto, quantos amigos você tinha na sua turma? Quinze? Vinte? Todos morreriam pela vingança aqui. Eu iria morrer também? Deixa eu ver, quando vocês tinham vinte anos de carreira eu estava nascendo, isso me torna igualmente culpado, certo? Idiotas! Quando vocês atentam contra a aldeia, vocês não estão ferindo aqueles que os fizeram sentir essa dor, apenas os aldeões que vocês um dia defenderam.

Os dois arregalaram os olhos enquanto encaravam o Uchiha esbravejar e expressar suas palavras — Eu esperava ao menos que fossem enviados por alguém com um plano maior de dominar a aldeia, destronar a sombra do fogo, assassinar o daymio. Mas são simplesmente dois velhos decrépitos com complexo de inferioridade que queriam ser tidos como heróis da aldeia por simplesmente cumprirem com o dever que quiseram assumir por conta própria! Vocês se frustraram com suas próprias ilusões e tiraram a vida de pelo menos doze shinobi da folha que tentavam exercer as suas! — As palavras saiam com tom agressivo e ocasionavam lágrimas nos olhos dos veteranos.

O primeiro e mais ressentido caiu aos prantos e tentou avançar contra o Uchiha. Mello empunhava uma adaga próximo de seu pescoço e ceifou sua vida no mesmo instante. Feitan mantinha o segundo e que vinha se dispondo ao dialogo sobre seu domínio, este deixava apenas as lágrimas singelas rolarem por seu rosto. Claramente arrependido — Já chega, garoto. Você está certo. O que fizemos não tem perdão. Não se preocupe demais, éramos só nós dois agindo por conta própria. Também não temos familiares para chorar em nosso enterro, não tenha remorso em nos matar — Dizia o sujeito, tranquilizando o Uchiha. Saito tateou o comunicador e avisou aos outros esquadrões que podiam retornar ao quartel general — Não vou mata-lo — Disse ao assassino — Feitan, coloque-o sobre custódia e leve-o até a prisão. Ele tem que responder pelos assassinatos. Os demais estão livres. Vamos retornar a aldeia para finalizar tudo. Mello, carregue por favor o corpo do outro.

Saito e o restante dos esquadrões retornaram para a aldeia o mais rápido que puderam. Ao adentrar os portões foram recebidos por grande parte dos aldeões em meio à aplausos. O Uchiha não detinha o ar de glamour e por mais que fosse alvejado por uma sova de fãs, dirigiu-se até Feitan — Eu me encarrego de entrega-lo. Obrigado, Feitan — Saito tocou no ombro do assassino sobre custódio e o conduziu para fora dali. Ambos caminhavam por uma viela nada movimentada enquanto a recepção no portão continuava entre abraços e parabenizações. Abruptamente surgiu dos céus o colosso conhecido como Guts e passou a caminhar com os dois.

— Meus parabéns, Saito. Me disseram que você assumiu o comando lá fora, mesmo que sem falar nada. Graças a isso a missão saiu como deveria e agora a aldeia está segura de novo — O grande montante de músculos seguia falando — Há algum tempo, sem que ninguém no quartel general soubesse, entreguei meu pedido de dispensa e me deram alguns meses para nomear um substituto par ao cargo de chefe de policia. Estou nomeando você — Ambos os três pararam e se encararam — Esse garoto é incrível mesmo, mas não é jovem demais? — Indagou, intrometido o assassino veterano. Foi rapidamente silenciado por Guts — Não é algo que precise aceitar. Mas pode recusar. Só acredito que seria uma ideia tola demais para alguém como você — Completou. Saito pensou por um instante e então respondeu firmemente — Eu aceito o cargo, senhor. Obrigado pela consideração.