Pela primeira vez em anos, a paz parecia prevalecer por todo o mundo. Obviamente todas as nações avançavam e focalizavam totalmente na proteção contra o inesperado, mas não mais existia ameaças iminentes como a estranha lua avermelhada que por muito tempo preocupou a todos. Todos pareciam satisfeitos com a quietude total, mas não Kaginimaru. A vida somente cumprindo suas obrigações como Tsuchikage era um verdadeiro tédio, os poucos momentos que se dedicava para o próprio treinamento não eram suficientes, estava em um patamar tão elevado no quesito físico que precisava de muito mais tempo e esforço se quisesse continuar evoluindo — isso se ainda fosse humanamente possível. Por conta desta indisponibilidade, a dedicação majoritária do seu tempo livre estava somente focada na evolução da sua conexão com a Besta de cinco caudas que agora convivia consigo. Isso aumentava ainda mais a monotonia, pois se tratava de um processo totalmente desconhecido e que dependia de longas viagens, além de também necessitar entrar em acordo com o ser e se mostrar digno de sua colaboração.

Foi durante uma dessas viagens em seu tempo livre que sua vida voltou a ter mais ação. Em um local deserto, próximo das fronteiras do País da Terra, fora surpreendido com um soco repentino desferido por um dos dois homens que saía de trás de uma pedra. Em momentos como este, nunca portava suas vestes de Tsuchikage, pois não se sentia digno delas ao estar deixando o vilarejo na mão de sua amada para buscar fortalecimento próprio, embora grande parte dessa vontade fosse em prol de Iwagakure. Foi por conta disso que muito provavelmente não fora reconhecido. — Você quer mais um pouco?! Hm?! Passa a carteira, vacilão! — O agressor dizia enquanto o Hanma apenas piscava seus olhos, tentando entender o que se passava. O golpe sequer havia sido suficiente para machucá-lo, mas estar em maior quantidade parecia dar coragem aos dois indivíduos. — Irmãozinho... Fura esse! — Seu companheiro dizia. De imediato, o assaltante principal sacava uma Kunai de sua bolsa de armas e se preparava para a ação.

Embora Kagi estivesse cada vez mais pacífico para que pudesse entrar em acordo com Gobi, sentia a necessidade de agir! Pois caso deixasse aquela dupla impune, talvez eles acabariam encontrando viajantes indefesos — ao contrário do Tsuchikage. Além do mais, se simplesmente entregasse todo o dinheiro que levava consigo, teria grandes problemas para se explicar em casa. Foi então que todo o Chakra foi exposto para ambos, esbanjando a suprema superioridade que possuía perante aos dois ladrões comuns. Nem mesmo possuía intenções assassinas, mas somente seu chakra elevado se mostrava suficiente para atordoar ambos. Quando estava pronto para lançar sua primeira ofensiva, uma terceira voz o parou. — Meu garoto... Você não deve importunar os fracos! E vocês, deveriam me agradecer! Se eu tivesse chego aqui um segundo mais tarde vocês teriam ossos quebrados, contusões cerebrais, órgãos rompidos, dentes fraturados e até mesmo cegueira... teria sido uma coisa horrível de se ver! Agora, saiam daqui! — A voz rouca e já de idade acabava com toda a cena e parecia convencer a todos daquilo. Kaginimaru sorria em rever aquele senhor. — Já faz algum tempo! — Dizia muito animado — Você parece bem! — O mesmo respondia, tão animado quanto.

Mais tarde, o ladrão que o golpeou descreveu a situação da seguinte forma: A Kunai que eu tinha em minhas mãos... encolheu! Virou algo tão inútil que mais parecia um pequeno enfeite de chaveiro. — O trauma em seu semblante durante a descrição era completamente evidente, muito provavelmente aqueles dois nunca mais tentariam roubar por estas bandas.


Em um café próximo do ocorrido, tanto Kaginimaru quanto seu conhecido estavam reunidos para colocarem os assuntos em dia. — Está se aproximando. A maior da terra, a mais poderosa da história, a incrível e última luta entre pai e filho. — O idoso dizia, retirando seus óculos e o limpando com um guardanapo que estava posto na mesa. — É só uma briga. Entre pai e filho. — Kagi o respondia depois de um longo gole em seu café, mantendo uma seriedade jamais antes vista pelo outroh omem. — Vingança pela sua mãe! O momento para isso é agora! — O mesmo respondia, colocando seus óculos de volta ao rosto. De imediato as memórias do jovem retornavam para o dia do ocorrido, quando perdeu sua própria mãe. Aquele singelo homem tratava-se do assistente pessoal dela e a conhecia muito mais do que o próprio garoto, que praticamente acabava sendo obrigado pela própria progenitora a treinar para superar o seu pai, nada além disso. — Senhor Kuriyagawa... Já fazem muitos anos. Muitas vezes, muitas, muitas vezes, eu me questionei. O meu pai que eu desprezo, será que realmente eu odeio ele tanto assim? Em outras palavras, Senhor Kuriyagawa, o meu pai, Yujiro Hanma, merece a minha vingança pela morte da minha mãe, Emi Akezawa? — Pela primeira vez, o Hachidaime Tsuchikage externalizava estes pensamentos para alguém. O homem de idade não fazia a mínima ideia do que levaria o jovem a pensar o que estava dizendo e isso ficava claro em seu olhar.  — A minha mãe não era uma mãe comum. Entre o sonho e a realidade, eu presenciei a minha mãe sendo abraçada até a morte pelo meu pai, Yujiro. A minha mãe abraçou ele também, e ela chorou. — Relembrar toda a cena não mais doía como boa parte da sua infância e juventude. Foram necessários alguns anos, mas o jovem finalmente conseguiu compreender os sentimentos dela. — Aquelas lágrimas... me pergunto o motivo. — Kuriyagawa inocentemente proferia, o que mudava imediatamente o semblante do ruivo. — Não brinca comigo... Ela se sentiu correspondida. Os desejos da minha mãe, como mulher, se realizaram naquela hora! — Respondia diretamente. Nesta hora, o ex-assistente de Emi Akezawa não conseguia conter as lágrimas. — Espera! você acha isso aceitável?! A sua mãe se realizou como mulher, isso com certeza é verdade. Mas foi apenas a vida da sua mãe que se realizou, e não a sua vida, Kagi. O importante nisso tudo é a sua vida, tem que ser a sua vida, Kagi, isso é importante... Você só tem essa vida para viver e deveria se importar mais. Viver para satisfazer a sua mãe, viver para satisfazer o senhor Yujiro... sua mãe pode elogiá-lo por ter se saído bem, o Senhor Yujiro pode elogiá-lo e dizer que você tem o sangue Hanma, mas isso tudo ta errado. Kaginimaru, responda a si mesmo para onde quer que sua vida vá. — Depois do discurso realista, o silêncio pairou para a dupla. Ambos se encontravam extremamente pensativos e não mais conseguiam se comunicar entre si, apenas bebiam do próprio café, encarando um ao outro.

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