|野郎



Eu me sentia triste. Sendo sincero, o resultado da última missão havia, de certa forma, me mudado. Não sabia explicar a sensação que as memórias me traziam, tampouco colocar em palavras. Sabe como é, aquela era minha primeira missão de rank um pouco mais elevado e a experiência foi assustadora. Ainda me lembrava do tilintar da lâmina do inimigo, do corpo de Hayate jogado no chão e da minha falha em tentar salvá-lo. Lembrava-me da minha fuga, da sensação de ter um monstro bufando em meu encalço, sem forças e cambaleante, acreditando que o sucesso da missão dependeria da minha sobrevivência. Hoje, não regozijava o fato de ter conseguido escapar.

Talvez por isso, agora, eu mal conseguia me concentrar nas palavras daquela mulher que me passava todas as informações possíveis sobre o seu marido que, segundo ela, há tempos vinha agindo estranho, fazendo-a desconfiar de sua traição no matrimônio. Ao que parecia, o homem vinha chegando todos os dias muito tarde em casa, cada vez com uma desculpa pior.  Ela perguntou-me algo sobre eu estar prestando atenção e eu precisei arrancar-me de meus pensamentos tão longínquos.

— Ah, sim, claro — Minha feição era desanimada e a fala arrastada — Vou encontrá-lo na saída do trabalho e seguir seus passos. Aviso logo quando obtiver respostas. Não precisa se preocupar com minha descrição.

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O trabalho em questão era simples e não me trazia ânimo, mesmo que eu ainda carregasse certos traumas adquiridos na última missão considerada perigosa. Optei por aceitar a tarefa de hoje para tentar afastar a cabeça do ocorrido e trabalhar um pouco, mas sentia-me sem paciência, duvidando se havia sido uma boa escolha.

Chutando pedras pela vila da Folha, dediquei-me a encontrar o local onde o homem trabalhava. Pelas coordenadas e descrições, não foi difícil reconhecê-lo com as comuns roupas brancas de médico e cicatriz no queixo. Era alto, corpulento e vivia sua meia idade sem muitos cabelos na cabeça. Não sendo belo, o caso poderia muito bem ser apenas uma mulher ciumenta fantasiando sobre os atos pouco libertinos de seu marido.

Entretanto, ao cair da noite, acompanhei seu trajeto após o trabalho e observei seus passos o levarem até um centro comercial levemente duvidoso, com uma pequena portinhola e luzes vermelhas na entrada do ambiente. O segurança do lugar o revistou e deixou que entrasse. Nisso, imaginei que precisaria utilizar de alguma metamorfose corporal para conseguir acesso - afinal, não parecia um lugar adequado para uma criança frequentar, mas tal ato não foi necessário.

Em cima da casa que eu usava de cover para observá-lo também era possível ver algumas janelas dos pisos superiores do comércio. Dentre elas, pela fresta de uma cortina rasgada, o homem nu esfregava sua barriga gelatinosa no corpo de uma bela mulher. Logo, dei as costas para a cena e parti. Já havia reunido informações o suficiente.

— Sim, senhora. Ele se deitava com uma garota mais jovem — Disse, estranhamente frio e apático quanto à situação da mulher — Eram exatamente sete da noite na casa de chá da luz vermelha. Se for rápida, ainda poderá encontrá-lo na saída, eu acho. Sinto muito.

Sentia? Não saberia dizer. Fui embora, afinal nada no desenrolar daquela história era problema meu.

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