Um corte lateral decepou uma de suas pernas, sendo levada pela lança gigantesca do inimigo.

Bom, primeiro de tudo… Oi. Eu nunca tive muita voz aqui. Tudo é sempre sobre o Treze, aquele moleque degraçado e cheio de si. Você não faz ideia do quanto foi difícil criá-lo. Desde a infância com aquele ímpeto odioso e teimosia que me envelheceram dez anos nos cinco que se passaram. Ah, o quanto eu ainda tinha pra falar pra ele? Droga, acho que não vai dar tempo.

Insetos formaram outro pé, dando-lhe apoio e estancando o sangue. O inimigo desferiu outro corte pela lateral e Nobu colocou sua espada na frente como única defesa possível com o curto período de tempo que tinha para se proteger. Com o impacto, a arma se tornou uma centena de pequenos pedaços de metal afiados, restando apenas o cabo e o guarda-mão empunhados por sua destra. Ao olhar para baixo, viu um talho horizontal em sua barriga de onde escorria um líquido viscoso e escuro.

Sabe, eu também fui um bastardo. Talvez por isso me identificasse tanto com o garoto e tenha aceitado ser o seu tutor e cuidar de seu bem estar enquanto ainda não pudesse andar com as próprias pernas, até mesmo como ninja. Eu também galguei meu caminho dentro do clã e já até fui cotado como líder do clã, não fosse minha orientação sexual... E isso me dá tanto asco que sinto vontade de vomitar. Gerar descendentes era realmente algo importante ou aquela era só uma desculpa que o clã usava para mascarar seu preconceito?

Apoiando o machucado com a mão esquerda, o Jounin colocou alguns insetos para fecharem a sua ferida e não deixar que suas vísceras pulassem para o lado de fora do corpo. Ele podia ouvir um “tic-tac” tocando ao fundo de sua cabeça enquanto precisava forçar seus olhos para que se mantivessem abertos e atentos à luta. Sua pele estava pálida graças à perda de sangue, mas ainda assim precisava continuar tentando.

Eu nunca fui um bom pai. Nunca me ensinaram a ser um, nem mesmo o meu. Fui criado para matar, me tornei ANBU aos quinze onde trabalhei até hoje. Usei minha influência no submundo para caçar aqueles que mataram meu marido até o fim. Ah, Kagure, eu sinto tanta saudade… Quem sabe agora nós possamos nos encontrar. Eles te levaram de mim tão cedo… Mas, como você me pediu, eu cuidei do Treze. Ah, Kagure… Me aceite de braços abertos onde estiver.

“Alguém está procurando em lugares errados”, uma voz assassina e perversa soou daquela boca repleta de dentes afiados. “Perguntando sobre os nomes errados. Ah, não… Existem nomes que não devem estar na boca de qualquer um”. A voz assassina continuava a dizer. Seus movimentos com a lança eram rápidos e Nobu estava com pouquíssimo chakra. Antes, já havia enfrentado centenas de marionetes básicas até esse cara chegar… Agora, o homem começava a entender que havia caído numa armadilha, atraído para aquela pista como um cordeiro entrando na boca do lobo. Como pôde ser tão inocente?

Ah, Treze. Fiquei sabendo que você acabou de se tornar Chuunin. Meu peito dói tanto ao pensar que eu não vou poder lhe dar os parabéns… Ah, meu garotinho levado de nariz de palhaço. Espero que use todas as técnicas que eu te ensinei para se proteger desse mundo que é tão mal. Não deixe que te digam o que fazer, isso é uma das coisas que eu mais adoro em você. Algum dia, me vingue. Vingue Kagure, vingue sua própria vida. Me desculpe por ter falhado… Ah, eu sou um péssimo mestre… Não vou deixar nem mesmo uma mensagem decodificada com dicas para vencer esses miseráveis, mas tenho certeza que você vai saber onde procurar.

“Você irritou as pessoas erradas, e agora vai sofrer por causa disso, kufkufkuf”, aquela risada era irritante, mas a velocidade de seus movimentos conseguiam ser ainda piores. O Aburame já havia tentado implantar na pele de seu adversário seus insetos venenosos, mas não havia sinal de que funcionaria: Aquele monstro ainda continuava de pé, não importava o que tentasse. “Hm, pela forma como falavam de você, com respeito, imaginei que você seria um ninja mais difícil de se matar”. Entre as palavras do inimigo, Nobu teceu alguns selos com as mãos, faltava apenas um pra que completasse o ritual e moldasse o chakra com perfeição a ponto de disparar uma técnica de rank S, mas um corte em meia lua fez com que sua mão direita se descolasse do punho e caísse sem movimento no chão.

Tenho certeza que você vai ser um ninja excepcional, garoto. Afinal, você tem tanto do Kagure em você, e ele sim era um herói. Não eu, tão amargo e com fobias sociais. Me perdoe, espero que entenda todas as minhas falhas e que minha intenção era que você crescesse bem, e forte. Afinal, seus inimigos são grandiosos.

— Ele vai entender, meu amor.

— Ah, Kagure — Meus olhos não conseguiam conter as lágrimas que esquentaram o meu rosto de repente — Como você está bonito.

— O quanto você sofreu? Óh, o tempo foi tão cruel contigo... Vem, deite-se aqui — Ele me colocou em seu colo, deitado sobre suas coxas — Agora tudo vai ficar bem.

— Sim, realmente… Sinto que tudo é mais silencioso agora. Aqui é onde você mora?

— Ah, não, meu amor — Ele colocou o indicador em meus lábios — Não fale muito agora. Só pense que vai ficar tudo bem. Segure a minha mão.

— Mas… Kagure, faz tanto frio — Meus lábios agora eram como pedras roxas — Sinto que ainda não deveria. O Treze… Precisa de mim… Ele ainda é um… idiota.

— Aburame Nobu, existem coisas que fogem do que é planejado ou do que queremos — Suas palavras eram duras, mas a voz era tão doce… — Não pense mais nisso, tudo bem?

— E em que devo pensar?

— Me diz… Você se lembra onde foi nosso primeiro beijo?

— É claro, foi… No Samurai Lámen.

Aquilo trouxe um sorriso para o meu rosto, o último que eu daria.

Naqueles corredores escuros,
permaneci deitado com o peito aberto
enquanto o mundo
se tornava
cada vez mais
escuro...

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