破滅

Hametsu

Da sombra dos gargalos, a garoa esfriava minha pele no breu da noite. Meu peito abrasado pelo puxar do fumo, que se acendia com o menor estimulo do chakra tórrido que corria pelas veias. A antiga bodega era o lar dos postergados, o palco do turbilhão de conceitos que alimentava a raiva. Um frequentador estável, a aparência juvenil ignorada pelos demais, o puxar da cadeira rangia feito uma porta de dobradiças podres, alertava os bêbados inquietos. — O Ruivo chegou, leve o mesmo de sempre para ele, vai... — O proprietário do boteco ordenava seus funcionários a levarem os petiscos, a garrafa de saque e o fumo solto até a mesa onde me sentei. — Como está sua noite, Benimaru? — Pude sentir a dignidade daquele homem deixando seu corpo ao ser forçado a me cumprimentar, mas era estranhamente recompensador. — Tudo bem, por enquanto. Obrigado, pode ir... — Agradeci com cordialidade o servidor da bebida. Retirei o atual fumo dos meus lábios e apaguei na madeira escura e marcada da mesa, levando o cigarro especial, puxando o ar com delicadeza, deixando minhas veias aquecidas elevarem a temperatura do papel, causarem a ignição da erva e trazer o prazer amadeirado para os aromas que tomavam minhas papilas gustativas. Apreciando ambos os sabores juntos, o saque levemente adocicado contrastava com o peso do cigarro, levantando a harmonia perfeita para o momento reservado. Do bolso preenchido por armas, minha destra aproveitou a brecha do instante e buscou o cabo da lamina de arremessos, trazendo-a para a mesa. Devagar, a aresta da faca tocou a madeira, traçando e concebendo a imagem de uma coruja, com suas asas abertas e olhos fixados no desejo imbuído no traçado, o símbolo do saber estampado em minhas visões. Bastou alguns minutos da minha estadia no recinto, os passos pesados do convidado se aproximavam da mesa até que se sentasse a minha frente. Os curiosos observavam com atenção o homem que compartilhava a mesa com o Demônio Ruivo, o jovem garoto que deixava clara a sua raiva e desprezo pelos ninjas. — E então? Temos um plano? — Indaguei tragando do fumo. — Plano? Garoto, você é mesmo pirado. Você acha que eu vou tirar um plano do cu? Destruir a... — Interrompeu para mudar seu tom de voz, abaixando o corpo e ficando ainda mais próximo dos meus ouvidos. — Destruir a Aldeia da Folha não é algo que vão comprar facilmente... mercenários são ruins... mas não são burros. — Sussurrou, mostrando o medo de tais palavras. — Então, você foi inútil mais uma vez... que desperdício de tempo. Não precisamos de pressa para concluir o plano, tenho todo o tempo do mundo e não vou ligar de fazê-lo daqui alguns anos. Começar na Folha sequer é uma prioridade, afinal a praga ninja já se espalhou por muitos lugares. — Levei o copo até a boca, bebericando do saque. Com a arma em mãos, sinalizei para que meu copo fosse abastecido mais uma vez. — Benimaru... o que você planeja se falhar? Isso pode ser um suicídio completo. Tsc... vocês jovens são impulsivos demais. — Comentou o participante da reunião, que trajava um manto e uma longa barba esbranquiçada. — Se eu falhar ou morrer? Se eu morrer durante o plano, ao menos minha mensagem terá sido espalhada e outros iguais a mim irão aparecer e continuar o que comecei, a derrota é impossível, meu caro Geb. — Terminei o fumo deixando a fumaça aquecida bater sobre o rosto do mais velho. O riso solto tomou conta, afinal, para ele minhas ideias jovens eram engraçadas, mas por algum motivo ele as comprava. — E você pensou em um nome para o seu plano? — Sorri, levantando a mão para o servidor do bar. — Toque aquela com o violino... — Me privei de responder naquele momento, aguardando que a sinfonia dramatúrgica tocasse para deleitar meus tímpanos com a graça da música. Somente assim poderia deixar que o título da ideologia fosse posto a mesa. — Hatsume. Iremos ruir esses ninjas até não sobrar uma fagulha dessa praga. Mas o nome não é realmente importante, mas faz parte da marca que iremos deixar. — Terminei a bebida de arroz, deixando o copo de lado apagando o cigarro dentro do mesmo, ignorando as tradições e etiquetas. — Pelo menos tem um bom gosto para nomes, estava esperando algo como Destruidor, Arauto, esses clichês que vocês jovens apreciam tanto. Ei, me traga um pouco de bebida também, estou com a boca seca! — Geb levantou sua mão. A presença da sua voz era forte e causava arrepios nos outros clientes da bodega, sendo atendido em tempo recorde no local. — Tem o dom para assustar alguns bêbados, Geb. Mas vamos para o que realmente interessa... quando poderei me reunir com seu contato de fora? Você fala tanto que ele aceitará nossos planos mas fala tão pouco de quando ou quem ele é... não está inventando historias para me agradar, né? — As ranhuras terminavam o símbolo da coruja, o homem era servido e imediatamente virava todo o liquido em sua garganta, mantendo a expressão seria mesmo com o incomodo quente do álcool em seu corpo. — Que falta de delicadeza, Geb. A bebida não vai fugir, pode beber com mais calma. — Brinquei. O mais velho se levantou da mesa, deixando algumas moedas, uma a uma até o preço cobrir os nossos gastos juntos. —  Não é educado mas pelo menos pagou a conta, gostei. — Acompanhei o mais velho ao me levantar e sinalizar para o proprietário que já estava de saída. A música dramatúrgica aos poucos perdia volume até pausar, largavam os instrumentos com a nossa deixa final. A garoa ainda banhava o chão. — Irei te alertar quando houver alguma novidade, garoto. Por hora, tente não se envolver em nada suspeito, se não vai acabar morto antes mesmo de espalhar essa... como era o nome? Ha... Hametsu... tsc... crianças... — O grisalho saiu de cena, atravessando a esquina e sumindo. Restava muitos degraus para a ascensão da ruína ninja. A pressa, aquela que é inimiga da perfeição, estava longe de ser algo pensado, a paciência era a primeira e única aliada possível nessa jornada, a única aliada possível para dar origem a ruína.

Considerações:

Bolsa Ninja:

Usados:

Testes:

HP: 180/180 | CH: 180/180 | | SA: 180/180 ST: 04/04