破滅

Hametsu

Dentro dos becos mais úmidos da Aldeia Oculta da Folha, a bodega de Sirus se tornou um dos lugares mais acolhedores para se estar. Preenchido pelos piores seres que habitavam as muralhas da Folha, desde bêbados sem rumo em suas vidas, ladrões, assassinos de aluguel e eu, um odiador da estripe ninja. Contudo, mesmo dotado de tais seres, o botequim era ‘’bem’’ cuidado, ali dentro se mantinha o respeito pelos demais e suas profissões não era citada em conversas. Entrei como mais um dia comum, puxando o fumo do meu bolso e o acendendo com a mera vontade do meu chakra fervente, sentando em uma das mesas vazias próximas das paredes de madeira. O antigo prédio era também a moradia do dono, que vez ou outra subia as escadas atrás do balcão para buscar algo em sua casa. — Bom dia, Sirus. Como estamos hoje? Alguma novidade daquele velho bêbado? — Deixei um riso descontraído sair, fazendo referência a Geb, um dos aliados nos meus objetivos. — Nenhuma, por enquanto. Mas chegaram algumas reclamações da vizinhança. Aqui... alguns garotos do orfanato andaram pixando as casas com... bom... o desenho não é muito agradável. — Sirus me estendia o pergaminho com as explicações, os endereços de cada arte. — Hahahahaa, eu não acredito. Devem ser aqueles garotos mesmo, eu deveria é deixar ali para essa vila maldita ficar manchada... mas eu não seria um bom vizinho se fizesse isso... afinal eu sou muito bondoso. — Guardei o pergaminho, me levantando e indo até a porta. — Deixe um maço reservado, Sirus. Eu vou voltar logo. — Sai da bodega, cruzando a esquina até o primeiro desenho.

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O fumo já estava pela metade em meus lábios, o fluxo da nicotina estava me deixando aliviado e pouco me importava com o clima do dia, que beirava os doze graus célsius. O primeiro ponto desenhado pela trupe do orfanato era a poucos minutos da bodega, e o desenho já poderia ser visto a alguns metros de distância. O muro de concreto de umas das casas estava marcado com o corpo volumoso do membro masculino, detalhado conforme a imaginação aflorada das crianças mandava. — Olha só, eles fizeram até alguns pelos. Que crianças bem criativas. — Parei frente a obra de arte peniana, observando os detalhes para tentar reconhecer alguma possível marca registrada do artista. Puxei o pergaminho, olhando o novo endereço. Marquei bem o órgão desenhado na parede, partindo para o próximo. A poucos minutos daquele local, conforme eu estava saindo do bairro e me aproximando do centro, chegava na próxima parede pixada. Este desenho tinha todas as linhas diferentes do primeiro, que era apontado para a esquerda, justamente o lado que segui para atravessar o bairro. Este novo estava, como os populares dizem, mole, broxado, apontado para baixo e levemente para a direita, onde havia uma escada que, por toda a coincidência, era o caminho mais rápido até a terceira obra. Estranhamente, a envergadura peniana estava apontada para o caminho que levaria ao próximo.

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Segui a escadaria apontada pela glande mal desenhada, descendo e cruzando um beco até um prédio recentemente abandonado, por isso não haviam tantas marcas de abandono e a estrutura ainda se mantinha firme e segura para que possa ser utilizada pelos necessitados. O terceiro e último desenho notado pelas autoridades era o mais intrigante e, se seguisse os padrões de envergadura, estaria apontado para o novo destino. O corpo peniano era, dessa vez, mais avantajado que todos os outros, tinha os melhores traços e detalhes que beiravam quase a perfeição dos livros de anatomia humana. Veias, pelos, pele, escroto e.... asas? O pênis era adornado por um par de asas e uma aureola em sua ponta, ser curvaturas em sua construção, apontado unicamente para cima, como uma seta. — Então é ali que queriam que eu fosse? — Deixei a bituca cair no chão, suspirando enquanto entediado. Se os padrões fossem verdadeiros, meu novo destino era subir o prédio abandonado e ali encontraria outro desenho, ou se não encontraria de fato os artistas. Com o chakra concentrado na sola das minhas sandálias, meus passos agora subiam as paredes da construção, observando na janela de cada andar se haviam indícios da presença dos artistas ou de alguma nova obra. Cada passo me aproximava mais do último andar, e assim o fiz, observando um novo desenho nos feixes de luz que adentravam as janelas daquele andar. A janela quebrada foi perfeita para invadir o prédio, atento ao local. — Então alguém conseguiu notar... — A voz infantil ecoava entre as pilastras que sustentavam o andar.

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Hametsu

A coragem das crianças era algo realmente a se admirar, tanto pelos atos de desenharem os órgãos em meios públicos, ainda mais por deixarem rastros de seus planos e localidade, desejando que alguém os encontrasse. – Devo admitir que você são corajosos e burros ao mesmo tempo. Estão carentes de atenção para quererem ser encontrados assim? É uma pena que fizeram um dos desenhos bem na minha vizinhança... eu não posso deixar passar como os outros, afinal que tipo de bom samaritano eu seria? – Caminhei pelo local mal iluminado, observando todos os cantos possíveis para se esconder, assim como movimentos de sombras e outros indicadores. Com alguns passos desajeitados, a primeira criança surgiu pelas costas, mas sua falta de coordenação demonstrava o despreparo. Bastou me virar, movendo as costas da mão em seu rosto frágil para derrubá-lo. Sorri com sua audácia, caminhando ao garoto que caia no chão, o forçando a abrir os braços com meus pés em suas mãos. Sacando uma kunai, apenas levantei meu pé direito, abaixando o corpo e fincando a lâmina na palma direita do garoto. – Hmmm, você deve ser o que fez o desenho no meu bairro... aquela falta de senso artístico faz sentido vendo esses movimentos burros que fez agora... está doendo? Onde estão os outros? – Berrava e esperneava enquanto sua mão sangrava lentamente, remexendo a kunai para tortura-lo e retirar respostas

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Os gritos de dor daquela pobre criança atraiam o segundo artista, que tentou aproveitar de uma falsa sensação de oportunidade. Não consegui obter respostas, mas a criança ao menos não iria a lugar algum com um ferimento de tal porte em sua mão. Os passos apressados logo atrás do meu campo de visão indicavam a aproximação de mais um artista, me virei, apoiando o peso no corpo do menor jogado ao chão, parcialmente em sua canela, que tremia com a força dos meus pés sobre os músculos e ossos frágeis. Seus movimentos eram mais rápidos que o primeiro, mas mesmo assim eram desordenados e faltavam com técnica, representando bem os traços do segundo desenho encontrado nos muros. – Kanashibari! – Meu chakra de expandiu pelo terreno, paralisando ambas as crianças no terror da técnica. Com o segundo em minha posse, era questão de tempo para o último do bando dar as caras. Fui em sua direção, carregando uma nova kunai em minhas mãos, dessa vez passando-a pela bochecha do órfão, causando um fino corte, que corria filetes de sangue até a outra extremidade do ferimento. Parando a lâmina em sua orelha, a pressão da minha mão ameaçava cortá-la, prestes a decepar a região. – Vocês podem se entregar de uma vez e ninguém vai sair tão machucado daqui... só um pouquinho machucado talvez... O sadismo em minha voz era prazeroso, aguardando o último membro do trio dar as caras para que todos estejam sobre o meu controle

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– Nós nunca vamos nos entregar para vocês! Vocês se acham por causa do dinheiro que tem... de suas famílias, vocês se acham melhores que todos nós e estão deixando nosso orfanato apodrecer! Não conseguem notar a gente nunca, só quando alguma coisa ruim acontece, não é? Odeio todos vocês. – Mesmo com a lâmina em seu rosto, a segunda criança não demonstrou medo e facilmente se livrava dos bloqueios causados pelo Kanashibari no Jutsu. Revelou suas motivações, que estavam longe de serem ruins. Recuei alguns passos, devolvendo a faca para a bolsa, retirando um cigarro em troca. Acendi o olhando, ele não me atacava e eu não o feria mais. – Que merda, garoto. Não era mais fácil ter escrito isso em algum lugar? Que desgraça, eu teria poupado a mão do seu amigo, pelo menos. –

Eu pude me ver nos olhos daquela criança, eramos esquecidos, abandonados por uma nação que se orgulhava tanto dos feitos, mas sequer tomava o cuidado para se lembrar dos menos favorecidos. Suspirei, meu ódio e crueldade não deveria ser depositado em nada além de ninjas e injustos, minha vilania era guiada e não generalizada. Fui até o garoto com a mao machucada, enquanto o terceiro aparecia correndo. – Pessoal, voltei! Os guardas estão aqui perto vam... quem é esse?! O que aconteceu?? – Indignado, mas não se movia por pedido do outro membro do grupo. Meu cigarro foi usado para queimar o machucado na mão da criança, que segurou o choro. – Pronto... isso deve segurar um tempo. Vai, não foi nada. É o seguinte, vocês vão se entregar para poder levar esse cara no hospital. Sem pixar os muros... eu vou fazer o que precisar para ajudá-los, só parem de fazer merda. – Me levantei e fui até a janela, observando que eles concordaram. Saltei dali até o chão e em poucos segundos as crianças saiam pela porta da frente, se entregavam para um guarda, que me olhou acenando positivamente. Por mais que minha vontade de voltar para casa fosse grande, os segui pelos telhados, garantindo que iriam até o hospital. Assim, pude retornar no fim do dia

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