Os primeiros feixes de luz atravessavam as brechas da janela entreaberta, ordenada desta maneira noite após noite pela ocupante do aposento, de forma a garantir um ambiente mais arejado para o seu repouso.

　As ansiadas brisas naturais da escuridade desértica acalentaram-na durante seus sonhos por múltiplas vezes desde sua terna infância, conquanto não amenizavam o fervor de seus pensamentos.

　Permeando descanso, seus cílios longos insistiriam em manter-se cerrados, privando intencionalmente sua visão para que a dormência se aproximasse com celeridade, porém o esforço físico falharia ante o seu espirito tormentoso.

　Dando-se por vencidas, as írises chocolate vagueariam pelas paredes de estuque de seu pequeno domínio, enquanto lampejos das batalhas vivenciadas reapareciam em sua mente. Eu poderia ter feito diferente, remoeriam os ecos introspectivos.

　Em algum momento após constatar a chegada do alvorecer, a Nara se livrou dos lençóis alvos que zelavam seu corpo e pôs de pé.

　Sua natureza preguiçosa não a ajudou naquela ocasião, contribuindo para o seu desconforto físico derivado da noite mal dormida. Entretanto, seu instinto a fazia mover seus pés – estes que pareciam tão pesados – em cada passada pelo quarto, enquanto se aprontava para o dia.

　Ele lhe orientava a remediar-se daquele torturante veneno, antes que esse se apossasse de sua alma, o pesar.

　Não posso esperar que uma voz sobrenatural chegue e me livre da derrota toda vez que eu estiver deprê. Ela ponderou, sendo franca consigo. Se a vontade não vier, eu vou assim mesmo, buscar essa safada na marra!

　A seda alva de seu vestido flutuaria pelo ar, conforme a kunoichi se movimentasse pelos céus de seu vilarejo, bailando entre os telhados até o endereço pretendido.

　Kuromi percorreu sua visão castanha pela localidade a que se destinara, atenuando as recordações lamuriosa e elucidando-se do cronograma pretendido para aquela data.

Ela se encontrava no Campo de Treinamentos de Sunagakure.
　Para estimular a retomada de seu contento, o mesmo se encontrava vazio, permitindo que ela se concentrasse em sua preparação, sem que houvesse distrações.

　Seus delicados dedos tateariam pelo joelho da perna esquerda, procurando o fecho de sua Bolsa de Armas. Encontrando-o, ela retiraria um pergaminho robusto do compartimento portátil.

　Depois, ela o empunharia e sua mirada chocolate iria de encontro ao símbolo que bem conhecia; o emblema dos Nara.

　A garota então cuidadosamente desamarraria o laço que o mantinha, e o abriria, sustentando entre suas mãos enluvadas.

　O documento continha as instruções necessárias que a possibilitariam aprender novas habilidades, estas que haviam sido formuladas pelos membros antepassados de sua família.

　Movendo seus dedos de forma coordenada, concentrava-se na energia espiritual para que esta fluísse pelo seu corpo. Cada selo era cuidadosamente tecido, visando replicar os indicados pelos inscritos no pergaminho.

　A penumbra sobre seus pês reagiu ao seu comando, e menina se deleitou, estava tão naturalmente alinhada a sua manipuladora quanto o brasido ao deserto.

　– Bom dia, meu encostinho. – Cumprimentou seu reflexo obscurecido sob o chão de areia.

Conquanto, o treino não se mostraria fácil.
　Kuromi já era apta a dividir sua sombra em diminutos tentáculos – que a apararam muito bem em diversas missões que tramitara no passado, restringindo movimentos de adversários e auxiliando ofensivas de seus aliados.

Todavia, ela não estava satisfeita.
　A Genin sabia que precisava se fortalecer e assim, deveria se versar em artes ninja mais poderosas, do que as que já detinha conhecimento.

　Seu foco era dar seguimento ao treinamento que iniciara junto ao pai. Queria honrar a linhagem que descendia e planeava realizar essa intenção, mestrando as técnicas mais valiosas elaboradas pelo Clã Nara.

　A frustração se manifestou num suspiro, ante o primeiro empecilho surgido, este era a resposta de seu organismo.

　Pelo novo jutsu permitir uma projeção maior da silhueta umbrosa, um gasto maior de Chakra seria exigido em consequência. O esforço requerido se acentuaria conforme sua insistência e se manifestaria em sua respiração, que começava a se acelerar.

　Recusando-se em fraquejar ante a complicação, Kuromi insistiria em executar o jutsu.

　O reflexo escurecido aos seus pés se agitaria e então se fracionaria. A garota projetaria sua sombra, superando o alcançado pelo Kageyose. Em seguida, inúmeras formas abstratas se ergueriam a sua frente.

　Mas, embora se alongassem e ganhassem a forma delgada, teimariam em afiar-se e ampliar-se como o desejado.

　– Droga, isso vai ser um saco. – Resmungaria a Miss Preguiça, já se lamuriando em saber que teria que dedicar um bom tempo de seu esforço para lapidar a manipulação.

　Buscando a polidez faltante, ela se instigava a continuar, empregando mais da flama azulada em si.

　A Genin de fios cor-de-rosa se dividia entre a projeção que induzia e os inscritos no pergaminho.

　– Uma das técnicas mais sigilosas do clã Nara. Embebendo a própria sombra com seu Chakra, o usuário devera segmenta-la e imbuir substancia a materialização. – Ela repetiria os dizeres do pergaminho, para melhor assimilar. A partir daquele momento, a kunoichi poderia usá-la de modo ofensivo, e não apenas como uma técnica de captura ou mimetização.

　Com um pouco mais de capricho, Kuromi obteve sucesso em praticar o Kagenui.

　Não obstante, visando certifica-se de que compreendera a técnica, a Nara se concentraria às várias agulhas afiadas conjuradas, feitas de sua penumbra e regeria cada um delas, em conjunto e separadamente.

　Ela maquinaria por um cenário de perigo em que o jutsu poderia lhe ser útil e então, o colocaria em ação.

　Imaginou a acometida de um antagonista contra si e comandou suas linhas obscuras a escudá-la. Estas responderiam a sua manipuladora e, de acordo com a velocidade que o ninjutsu da kunoichi podia atingir, interceptariam o inimigo invisível.

　Um dos Jutsus mais notáveis da minha linhagem. Kuromi pensou, enquanto a silhueta obscura se distorcia em várias, findando a hipotética ameaça.

　Considerando saber encaixá-la em seus movimentos de batalha, a kunoichi se atentaria a guardar o tempo levado para conjurar a técnica como também, contabilizar a agilidade de suas linhas sombrias.

　Esse jutsu segue os mesmo princípios em que os membros de meu clã se consagraram, apoiar o poderio aliado. Entretanto, sendo generosa com o meu investimento de chakra... Ela curvaria os seus lábios-cereja em um sorriso.  Posso transformá-la em uma habilidade mais agressiva contra um oponente.

　Analisando sua realização, os orbes chocolate cintilariam.
　– Mas é claro! Se um dos laços penumbres se agarrar a um infeliz que cogitar em se meter comigo, posso aproveitar a ligação e transitar desta técnica para o Kagemane! Coisa de gênio, mesmo. – Ela brincaria orgulhosa ao constatar o aprimoramento que obtivera naquela manhã opaca, domando as suas próprias trevas ao expandir seu controle sobre as técnicas sombrias legadas por seus antecessores.

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