As trevas emergiram do topo das montanhas, suas garras se estendiam por além das montanhas e florestas até alcançar os últimos lampejos de luz solar, inundando a imensidão dos céus com um descarnado vermelho rubro. Takane odiava o clima nauseabundo daquela hora, pois a fazia se lembrar dos dias de glória em que sua alma se entregava para os campos de batalha pelo seu mestre.

“Acalme-se. Nada de bom vem de lembranças do passado” Pensou.

O ambiente foi inundado pelo ar adocicado dos incensos e canela queimada. Ela posicionou a xícara com delicadeza, odiava o som de porcelana se arrastando e considerava aquilo uma heresia e uma afronta a qualquer festa do chá ou encontro em que era convidada.

— Tenshi-sama… eu imploro me ajude…—

Disse o homem baixinho e de bochechas rechonchudas.


“Ajudar… humanos são sempre estranhos… Me repudia imaginar que devo respirar o mesmo ar, eu só quero que esse monte de lixo saia do meu templo“ Pensou.

— Minha esposa faleceu e eu não sei viver sem ela— Murmurou o homem.

Ela fitou com os olhos púrpuras, não conseguia compreender o luto, os sentimentos que as pessoas tendiam a ter quando alguém que era importante era retirada de suas vidas. Esse era um sentimento humano, e aquele ser de asas não conseguia compreender coisas das quais ela não havia sido programada para entender.

“Então se enforque na primeira árvore que encontrar… isso ao menos melhoraria meu humor”

— Meus pêsames… pode me contar um pouco sobre ela?—

— Ela morreu na guerra… —

“Como a maioria das pessoas de kumo… e incrível que você não se matou…”

— Todas as coisas tem seu tempo, nada é imutável… muito menos a nossa existência…—

— O que quer dizer? Que isso deveria ter acontecido, que eu tenho que aceitar—

— Não… nunca diria isso… mas que ter seu tempo de luto é importante… mas não deixar-se levar por ela… afinal não era isso que sua esposa desejava… — A sacerdotisa pos a mão sobre a cabeça do homem.— Enquanto a chama das lembranças estiver viva dentro do seu coração, então ela tambem estara.—

O homem sorriu e se despediu.
Aquele dia havia sido mais exaustivo do que o anjo da luz imaginou, as pessoas de kumogakure sofriam de um mal maior do que qualquer ferida gangrenada, era um ferimento na alma que ela teria certeza que exploraria.

— Fazer o que não é? Humanos são apegados ao que ela chama de presente e passado…— Murmurou enquanto olhava pelos degraus da escadaria do templo.