Morte. Ela não tem nenhuma piedade sobre as pessoas. Quando ela escolhe alguém, esse alguém morre, e é levado do mundo dos vivos. Então, tudo o que acontece é, os humanos devem lidar com o que aconteceu, com o luto, a mágoa, e se os humanos não forem fortes o suficiente para isso, acabou. Toda determinação, toda vontade vai para o ralo, e tudo o que sobra é apenas a vida em um limbo. Se mergulha direto, de cabeça na escuridão, e aí já era. Aquela pessoa não sai mais dessa ausência de luz nunca mais. Aqueles que são mais fortes de espírito dão um jeito de superar isso, mas aqueles que não tem essa capacidade, elas despencam para o infinito, e aí, tudo vai por água abaixo. A vida daquela pessoa está destruída.

Bisuke Zanko estava morrendo, mas mesmo assim, continuou sorrindo e sendo brincalhão, mesmo que estivesse sob uma tosse frequente, que mais tarde evoluiu para uma tosse crônica de sangue. Mas mesmo com Reo notando que não estava bem, o Jonnin professor de Academia sempre estivera com seu jeito de sempre. Ia dar aula como sempre todos os dias, e durante sua hora vaga, ele ensinava Reo em como se aperfeiçoar ainda mais, torná-lo em um garoto confiante. Mais firme, mais capaz de acreditar em si mesmo, ainda que seja alguém essencialmente humilde sobre si próprio e suas habilidades. Era um homem de bom coração acima de tudo, e estava dando o melhor sobre seu mentorando. Não foi atoa que constituíram uma relação de mestre e aprendiz.

[...]

— Vamos lá, Reonashi. Observe bem e tente sempre acompanhar, resistindo o máximo possível sobre seu enjôo, correto? Aqui. — O mais velho lançou uma kunai ultra rápida com seus punhos velozes, de modo que o Senju tentou acompanhar, mas, obviamente, ele não conseguiu e viu apenas o vulto. Tentando forçar a vista, aquilo lhe causou vertigem e ele tentou cerrar os dentes para não vomitar, algo que ele conseguiu por um tempo, mas em seguida, precisou se inclinar para frente para que pudesse colocar as estranhas para fora, até mesmo ficou de joelhos enquanto o líquido pastoso saia para fora. — Eita. Você começou com o pé esquerdo, calma, calma. — O homem inclinou seu tronco, batendo na costa do Chunnin. — Vamos de novo. — Falou bem calmo o loiro.

Assim, sacou duas kunais entre os dedos e lançou novamente para o alto em uma velocidade que Reo acompanharia com muita dificuldade. E ao tentar, a vertigem consumiu o Senju novamente, de modo que ele sentiu seu mundo rodar e girar como um redemoinho. Cerrando os dentes com força, o moreno tentava não vomitar, enquanto isso, sua boca enchia-se de vômito, suas bochechas começavam a ficar inchadas, mas então, após um tempo resistindo, o menor se inclinou para frente segurando sua própria barriga e vomitou para fora outra vez. E assim foram as inúmeras tentativas de Reo tentar resistir mais fortemente ao sentimento de enjôo que provinha de transportes em geral e claro, ao observar as armas, o garoto passava mal pela vertigem que a velocidade causava. Não foram poucas vezes em que o shinobi júnior vomitou, mas ao fim do dia, já havia conseguido se tornar melhor. Vomitando menos e ficando ainda mais resistente para com o seu enjôo. Se continuasse praticando, o garoto iria conseguir superar esse defeito. Era só não desistir, e o Senju tinha uma certa determinação que o ajudava em muitos casos.

[...]

Memórias como essas ficariam marcadas na mente do garoto. Apesar de ser um cara estranho, muita coisa, Reo aprendeu com Bisuke, de modo que seria eternamente grato pelas coisas que passou. Foi com o mesmo que também aprendeu excelentes habilidades, como seu Senjutsu, o seu Kanchi e até mesmo seu Mokuton, foi graças ao incrível conhecimento do Jonnin acerca de várias coisas, assim como também o seu conhecimento de mundo, as conversas que tinham um com o outro. Esse laço não era algo que se encontrava em qualquer lugar. Não era nada que fosse visto tão frequentemente, assim por dizer, então, memórias, memórias são o que fazemos para nós mesmos. E agora, esse vazio, essa memória permitiam com que o buraco no peito do garoto Senju pudesse ser preenchido, mas mesmo assim, ainda parecia como se tivesse um buraco ali.

Reo visitou Bisuke nos momentos de piora, permanecendo ao seu lado, e até mesmo, no seu último suspiro. E durante o período em que esteve acamado, fraco, e fragilizado, o homem nunca deixou seu lado alegre e brincalhão de lado, sempre fazendo piadas e afins mesmo que estivesse ali naquela situação. No fim, ele partiu com um sorriso no rosto. De início, o Senju conseguiu lidar com o luto e a tristeza com um sorriso no rosto. Mas nunca é fácil, sempre há um peso a mais, algo que vai ficando mais pesado sobre a costa do indivíduo, como se fosse segurar um grande objeto que provavelmente esmagaria essa pessoa se ela deixasse cair. Mas até mesmo para Reo, há limites, há parâmetros que ele mesmo não consegue suportar, ou superar.

Na lápide de Bisuke Zanko, Reo ficou parado em frente a ele após a cerimônia. Todos foram embora, e somente o Senju ficou. O céu estava tão escuro, nem parecia que estava de dia, e parecia que iria cair uma grande tempestade sobre a Aldeia nesse dia, mas não importava, não importava o que viesse, afinal, nada poderia se comparar a dor do luto. Então, começou a chover. Tudo começou a ser molhado, inclusive o garoto sozinho que ali estava. Com os fios negros deixando as goticulas de água caírem sobre o chão molhado, o Shinobi se permitiu ficar de joelhos, estendendo a mão sobre a lápide do falecido.

A expressão de incredulidade era notória, e brilho sinistro devido a raiva e a culpa também era evidente. Mas, nem mesmo Reo aguentou, seu rosto desabou. Assim, lágrimas junto com a chuva proeminente, preencheram as bochechas claras do moreno, que agora com uma expressão de dor, chorava, ainda que não soluçasse. Era munido de um possível cerrar de dentes.

— Eu vou honrar o seu legado!

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O passado de um homem pode dizer muito sobre ele, mais do que se imagina. Às vezes o passado serve para moldar alguém. Quando não, serve apenas para dar um pequeno empurrão em alguém ou algo. São várias coisas que acontecem quando se tem um passado, são como um premeditar do presente e do futuro onde determina o que vai acontecer, qual caminho deverá ser tomado por aquela pessoa que está ali, seguindo aquela linha reta. No fim, não há como saber, tudo depende das circunstâncias, dos fatores que devem acontecer quando alguém está ali, sendo submetida ao passado que logo se tornará presente, em uma progressão contínua.

Foi o caso de Senju Reo. Sua vontade de libertinagem e tudo o que for referente a liberdade veio do seu passado, onde um garoto que foi suprimido de sua própria vontade esteve o tempo todo sufocado de sua própria visão de mundo, de sua própria liberdade, é claro que iria ansiar por isso no futuro, afinal, é o que o garoto mais quer, como qualquer pessoa que está presa ou sendo sufocada: respirar. A prática desgastante e abusiva dos pais do garoto Senju causaram sérios problemas para o pequeno, que atualmente teria a visão que tem, considerando a si mesmo como um Idealista.

[...]

— Mãe! Pai! Cheguei! Eu tirei nota dez em Ninjutsu! Tirei dez em Controle de Chakra e Cooperação também! Olhem! Eu estou muito bem, dizem que sou qualificado para ser um Usuário da Linha da frente de Ninjutsu! — Falou um pequeno Reonashi, dando passos apressados até a mesa que parecia um pouco grande para o seu tamanho. Assim que conseguiu subir na mesa, o garoto colocou sua mochilinha sobre a mesma, tirando alguns papéis perfeitamente dobrados, colocando ali também. — Vejam, fiquem a vontade para olharem, eu fui muito bem, não fui? — Perguntou o garoto, colocando as mãos na cintura.

— Oh, Isini, Reo disse que foi muito bem na Academia, venha ver as notas deles! — Gritou um homem sorridente, com a barba rala e óculos. Tinha os mesmos olhos azuis que o filho, era o pai da família Senju, Senju Isshin. Isigi, a mulher da família, tinha olhos vermelhos e fios loiros, uma pele mais escura que a do marido, assim que ela pôde sair da louça, foi até a mesa, ajustando as mãos molhadas no avental. Assim, ambos viram as grandes notas altas que o filho estava tendo, bem como o seu desempenho.

— Você não fez nada do que sua obrigação, Reonashi, estamos contentes com o seu desempenho, continue assim! É apenas o seu dever. — Falou o homem, com um sorriso. — Nós, Senjus, devemos sempre ser perfeitos, não importa o que aconteça, não importa que obstáculo esteja na frente dos nossos olhos. Se for perfeito, você nunca falhará, é por isso que nós não admitimos erros, devemos ser sempre certeiros e nunca errar! — Falou a mulher, com um sorriso no rosto. — Ah… — O garoto pareceu murchar um pouco com aquilo. — Tá bom. — Falou, totalmente decepcionado, já que ele não tinha o que esperava ouvir.

— Tenho outras notas aqui também… — Falou o garoto, retirando mais alguns papéis, e colocando na mesa. — Os testes de Taijutsu, Força e Genjutsu eu fui mais ou menos, assim como o de Destreza. — Falou o garoto, erguendo as mãos para juntar ambas, entrelaçadas pelos dedos em direção ao peito. — Por mais que eu tente, nunca vou conseguir ser tão bom assim, eu já tentei de tudo, tentei treinar com todas as coisas disponíveis, mas eu não consigo melhorar nisso, mas em contrapartida, sou muito bom nas outras coisas, o professor disse! — Argumentou o garoto, com os olhos azuis determinados.

— Você é uma decepção! — Falou o pai de família, com veias saltando em sua testa. — Assim, você vai ferir o orgulho do nosso Clã! Não ouviu a sua mãe?! Devemos ser perfeitos! Me use como uma inspiração, Reonashi! Eu nunca falhei em toda a minha vida, sempre fiz as coisas perfeitas, quando meu pai pedia, era tudo nota máxima! Nenhuma nota baixa! O que custa pra você, com sangue Senju em suas veias, tentar fazer o mesmo que eu?! — O homem falava em um tom que não parecia o de um homem normal, ele estava bravo.

— Escute seu pai! Eu sou Senju também, e sempre me esforcei o máximo para conseguir a média total em meus testes da academia! Então tipo, se você puder ser perfeito como nós, use a gente como sua inspiração, meu filho. Você deve ser perfeito, tudo bem que há outras pessoas, mas não importa! Você será o filho perfeito, o Senju perfeito, não importa o que! — Falou a mulher. Ambos estavam muito irritados, mas sequer poderiam fazer algo a respeito, afinal, todo ser humano que se preze tem suas próprias limitações e não dá pra ser homem tudo que quiser. Não mesmo.

— A partir de amanhã, você vai fazer um treinamento intensivo, vai treinar até seu corpo pedir pra parar, eu quero ver você perfeito, vamos superar todas essas suas falhas, e aí você poderá ficar bem, como nós queremos, não queremos um filho falho, não queremos uma falha, queremos um ninja perfeito! — Falou o homem, se levantando brutalmente da mesa e então, apontou o seu dedo indicador para o seu filho, que estava com lágrimas nos olhos. — Eu não quero mais que você falhe, se continuar assim, você não é meu filho! Quando estiver pronto, vá jantar e depois estudar, quando der a hora da noite, vá dormir como um bom menino. — Falou o homem, que deu as costas e sumiu no corredor.

Reonashi chorou a noite toda. Um choro sentido, com o travesseiro para abafar os sons. Os olhos azuis cheios de lágrimas, sujos, manchados pelas coisas que ouviu. Ele estava não querendo aceitar a realidade desde sempre até que a viu, demente e cruel. Seus pais só aceitavam a perfeição de seu ser, mas sequer se importavam com ele, não se importavam com o que pensava, com o que sentia, se estava bem ou se não estava. Era uma família sombria.

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