Do lado de fora da Academia Ninja da Folha, apenas um completo breu. Já era tarde da noite e praticamente ninguém passava por ali naquele horário. Os estudantes já estavam todos em casa descansando, e os instrutores ainda demorariam horas para chegar no local de trabalho. E no interior do prédio, o cenário se repetia. Os corredores escuros e vazios da Academia nem sequer pareciam os mesmos durante a manhã, quando estavam lotados de crianças correndo e conversando a respeito dos mais diversos assuntos, como um pequeno estudante havia de fazer naqueles tempos.

Ainda assim, algo chamaria a atenção de quem quer que fosse se aventurar por ali naquele horário. Próximo do campo aberto de aprendizado, ao lado de um parquinho de areia onde as crianças costumavam brincar durante o dia, uma pequena figura sombreada se movimentava pelo meio das árvores e dos arbustos. Mesmo com baixa visibilidade, quem se aproximasse notaria que o aspecto se movia com certa intensidade, e, além disso, perceberia também que sua respiração seguia o ritmo de seu corpo, tão ofegante como deveria.

Algo que poderia não ser tão fácil de se ensinar, mas claramente necessário de se aprender, é que no mundo dominado por ninjas exemplares e literalmente feras entre os homens, nem todos nasceram para se tornarem um Shinobi. No fim das contas, a realidade pode não ser aquilo que desejamos, mas algo que não somos capazes de evitar.  

Considerações:

A cada passo que desse para dentro da pequena floresta, Iroha ouviria ainda mais mexidas sendo feitas por entre os arbustos. Claro que, dentre todas as possibilidades, a mais óbvia — aquela pela qual procurava — no fim, era a que encontraria. Ainda assim, subitamente, os barulhos cessariam.

No interior da mata, em uma pequena clareira, um garoto repousava em silêncio. Agachado sobre a grama, com o corpo retraído por cima dos joelhos, Iroha sequer poderia olhar com clareza a feição do menino que não emitia som algum, além é claro da sua forte respiração, ofegante o suficiente para dar a entender, a qualquer um que o olhasse mais de perto, que o garoto já não possuía mais energias nem mesmo para se manter de pé.  

E tudo isso ia um pouco mais além. Se chegasse próxima o suficiente, a recente Ninja da Folha veria ainda que os punhos do garoto estavam ralados, machucados. O sangue escorria pela pele fina do garoto como um riacho desvia das árvores em uma floresta. O que não chamava atenção, porém, era a sua expressão vazia. Claro, ainda era difícil ver bem o seu rosto, mas o pequeno rapaz parecia tão sereno quanto qualquer outra criança estaria em um dia comum, com a placidez que apenas uma verdadeira realização poderia causar em um garoto daquela idade.

— Quem está aí? — Ele questionaria e voltaria o rosto na direção de Iroha, assim que fosse capaz de ouvi-la se aproximar através dos sons de seus passos no chão. — Olha, eu já desisti, tá bom? Você tava certo quando disse que eu nunca ia ser um ninja de verdade.

Considerações: