Uma sol leve refletia sobre a superfície clara de um rio. Pedras eram jogadas em direção ao rio, quicando em altas velocidades na superfície da água, algumas indo mais rápidas que as outras, sempre no mesmo padrão. Duas pessoas eram as responsáveis por arremessar as pedras, dois conhecidos que não se falavam a meses a esse ponto. Satori e Kai, um amigo que havia conhecido em uma de suas missões (mesmo que os dois não fossem tão próximos) conversavam enquanto arremessavam as pedras.
- Sabe, eu diria que você é levemente mais forte fisicamente do que da última vez. Talvez seja por que não vi usando nenhuma arma dês daquela vez, mas não esperava você conseguir tacar pedras tão longe assim. - Kai diz com um tom calmo, mais alegre, o que era algo que Satori quase não via em seu semblante 99% das vezes sério.
- Não é tanto força. É mais técnica fazer isso, mesmo que força consiga pular esse passo completamente. Mas no fim, você não conseguiria arremessar essas pedras para o outro lado desse rio sem força. Isso é algo que nem um de nós consegue fazer, mas uma monstruosidade feita puramente de musculosos talvez seja capaz de fazer mesmo sem arremessar a pedra do melhor jeito. Ao mesmo tempo, o contrário pode ser verdade, uma pessoa frágil fisicamente, mas tão precisa em sua técnica que poderia atravessar o rio inteiro, mesmo sendo mais fraca até mesmo que uma pessoa comum. - Satori descrevia sua linha de pensamento, engajado demais até no pequeno passatempo de tacar pedrinhas a esse ponto.
- ... Sabe, eu diria que você mudou. Antes eu diria que você era até levemente muito esperançoso no jeito que aproximava seus conflitos, mesmo que só um pouco. Agora, você está muito mais alinhado com o tipo de pensamento que eu esperaria de alguém como você. Talvez tenha sido uma coisa boa até. - Kai comenta sobre Satori, dessa vez muito mais sério do que feliz, mesmo que não mantendo o tom de frieza que Satori normalmente mantinha o tempo todo que falava de quase qualquer assunto.
- Eu achei que era simplesmente algo necessário. Se eu quisesse ter o mínimo de impacto, especialmente depois de ter sido tão inútil como eu fui quando a vila inteira foi transformada em poeira, eu precisaria levar as coisas mais longe dependendo da situação. Eu não matava ninguém antes... agora, parece que ou eu vou sair morto, ou é meu oponente que vai. Uma mudança... necessária. - Satori falava isso com um tom frio, mas mais cansado do que o normal.
- Sabe, dês do começo da minha vida eu tive que me enfiar em situações que eu mataria alguém sem pensar duas vezes. Foi por isso que eu sempre preferi usar qualquer coisa que estivesse ao meu redor como arma. Na vila em que eu vivia e tinha que proteger quase todo dia, eu não tinha armas boas exatamente. Armas que conseguíamos de qualidade decente normalmente viam dos próprios inimigos, muito por causa de o quão isolada a vila era. No fim, mesmo com toda essa prontidão para matar qualquer um que eu precisasse, eu acabei deixando minha vila queimar até virar cinzas, justo por que eu acabei buscando a morte de meus inimigos até demais... eu gastei tempo indo atrás de um grupo de bandidos que estavam fugindo, e mesmo que no fim eu tivesse conseguido lidar com eles, eu voltei com minhas costas quase rasgadas... e com a vila pegando fogo. Eu poderia ter feito uma diferença? Talvez. Eu era o melhor lutador da vila, afinal. Mas algumas vezes eu penso que não mudaria o resultado... mas não é isso que importa, e sim que só de eu estar lá eu já teria contribuído muito mais.
Satori continua quieto depois de ouvir a história dele toda por uns 15 segundos, apenas contemplando o rio, agora que nenhum dos 2 ainda estava arremessando pedras. Ele volta a falar, eventualmente.
- Mesmo que eu ainda mal tenha feito essa mudança no jeito que eu vou agir daqui em diante, eu já vejo muita gente falando sobre isso. Kor, Lanius, Komiko... até você agora. Sabe, eu não sou uma pessoa completamente diferente de antes, eu ainda tenho os mesmos valores. A única coisa diferente agora... é que eu me cansei a esse ponto de fazer nada. Minha paciência começou a ficar menor e menor... afetando não só meu trabalho, como até mesmo minhas relações, seriamente. Apesar disso, eu não acho isso uma coisa ruim.
- Nem eu. - Kai responde, dando um suspiro logo em seguida. - Sabe, pelo que eu sei você não deve saber tanto de conflitos políticos daqui, mas eu vou te dar um aviso: algo perigoso está acontecendo. Conflitos regionais e tensões entre países estão ficando mais fortes, coisa que eu percebo que fica mais clara ainda quando eu vou trabalhar como guarda de certas caravanas. Normalmente eu consigo lidar com os problemas mesmo quando eu acabo todo fudido depois, mas ainda sim, me surpreende isso. Normalmente eu só pegava trabalhos que eu achava que tinham um grande risco... agora, é como se eles vissem diretamente a mim. - Kai fala tudo isso enquanto ele pega dessa vez um graveto, jogando ele no rio do mesmo jeito que as pedras, só que dessa vez com força o bastante para fazer o graveto chegar até mais longe que as pedras normalmente conseguiriam, o que impressiona Satori.
- Bom arremesso.
- Obrigado. Enfim, foi ótimo falar com você depois de tanto tempo Satori, afinal, parece que você mudou bastante dês de quando eu te conheci. - Kai se levanta. - Apesar disso, eu tenho uma agenda ocupada hoje de noite, então é melhor eu me preparar, a viagem é longa hoje. Espero o melhor para tu, companheiro.
Satori não responde, mas acena tchau para ele, dando um sorriso de leve no canto do rosto. Kai então vai em bora, com um passo levemente apressado. Antes de sair da beira do rio em que estava sentado, Satori reflete um pouco.
- Tensões entre países e conflitos regionais huh? Realmente, toda vez que algo grande acontece é meio gradual, mesmo que dessa vez pareça ter sido mais rápido. No fim, parece que o tempo de reconstrução de Kumogakure vai ser apenas uma calma antes da tempestade... apesar de que, depois do que aconteceu da última vez, eu me pergunto o quão maior um cataclisma tem que ser para se comparar a aquilo.

Considerações:

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