Sentia a areia quente sob meus pés e a brisa fresca do deserto passando pelo meu rosto, carregando grãos que arranhavam minhas bochechas. Acabava sendo um pouco difícil seguir por um caminho diferente das trilhas preparadas pelos membros de Sunagakure, precisando caminhar na areia solta e por dunas para me afastar da civilização em que estava antes. — Ao menos assim não vou precisar passar o dia limpando a casa. — Dizia num suspiro, já me acostumando com o local desolador no qual me encontrava. Ainda assim, a energia natural dali era abundante.

O calor que emanava do astro-rei me fazia sentir algo diferente do que a simples irritação pelo couro cabeludo ardido, ou pelo suor que teimava em escorrer pela minha testa. Hoje parecia que meus cabelos dourados fossem capazes de absorvê-los como as folhas das árvores, drenando para si a energia necessária para sobreviver.

Precisava subir um pequeno monte de areia para chegar próximo de uma parede de rochas que se estendia até perder de vista no horizonte. Olhar para cima, em direção ao seu topo, era uma tarefa árdua pela necessidade de encarar o sol de frente. Com os olhos quase fechados e a mão cobrindo parcialmente a luz, acabava por determinar meu destino para o treinamento que almejava. — Só espero que os pergaminhos que li sobre isso não sejam lorota… Me sentiria um idiota se não funcionasse. — Dizia em tom de resmungo.

Histórico:

Desde que precisei realizar diversos treinamentos de subir paredes com apenas uma das mãos, pela falta de minhas próteses, confesso que comecei a me acostumar com os treinamentos de escalada. Eu não era o sujeito mais forte para erguer o meu peso, mas não estava participando de uma corrida. Apenas precisei manter o ritmo, firmar as mãos e os pés em lugares seguros e em pouco tempo saberia que estaria no topo. — Mas esse daí é um dos grandes, viu… Parecia menor de longe. — Olhava para baixo e notava que, dali, já seria uma queda fatal. E mesmo assim, parecia estar longe do meu destino.

Acabava desistindo e imbuia meus pés com chakra para facilitar o resto do percurso. Era estranho aquela técnica, pois apesar de sentir a gravidade me puxando o tempo todo para a direção convencional, meus pés pareciam saber exatamente para onde precisavam ser puxados, evitando um acidente de grandes proporções. Precisando agora andar na vertical, era como se estivesse numa caminhada em direção ao Sol escaldante, que parecia ficar mais intenso com a minha aproximação.

Era muito provável que nenhum outro shinobi tivesse conseguido ver o topo daquele rochedo. Além de estar completamente fora das rotas de viagens, sua extensão era demais para qualquer um considerar que era uma boa ideia se arriscar tanto por uma vista privilegiada. Por falar nela, que vista incrível era! Conseguia ver com perfeição Sunagakure, que se escondia entre algumas montanhas no horizonte. Qualquer inimigo que visualizasse aquilo já poderia dar meia volta, sabendo que as defesas do vilarejo eram praticamente impenetráveis.

Histórico:

Chegando ao topo do grande rochedo, parava por uns instantes em contemplação do vasto deserto à minha frente, assim como de meu vilarejo no horizonte, cercado pelas majestosas montanhas. Uma profunda respiração era feita e sentia a energia natural do sol banhando minha pele e penetrando em cada célula do meu corpo de uma maneira única.

Sentindo-me conectado com a energia do lugar, me sentava em posição de meditação, com as pernas cruzadas e as mãos apoiadas em meu colo. Nunca havia sido muito bom com essa parte dos treinamentos, apesar de meus professores sempre frisaram a importância do autoconhecimento para saber melhor de suas próprias capacidades. Meu velho também era bom nisso, podendo facilmente ficar dias numa mesma posição no quintal de casa.

Realizava um mantra em minha própria cabeça, repetindo alguns termos e trechos que achei interessante em meus estudos da arte Sábia. ~ Não é um poder que os Senjus possuem e nem se trata sobre apenas “manipular a natureza”. Isso é a energia que reside em todas as coisas. A balança que nos une e equilibra todo o universo em uma só coisa. ~ Havia adentrado um estado de concentração tamanha que mal notava o surgimento de árvores ao meu redor, que se alimentavam de meu chakra e, juntamente a mim, sentiam e se nutriam da natureza que as rodeava.

Histórico:

Seria vaidade acreditar que aquilo tudo era algo exclusivo de meu clã ou do povo que havia realizado pactos com animais. A natureza se encontra em todo lugar, seja na vida ou na escassez dela. Tudo o que precisava aprender era um meio de interpretá-la e deixá-la fluir através de mim. Seria como… Abrir uma barragem para um rio ser capaz de fluir.

Estava num ponto completamente novo, quando algo em meu interior quebrava por completo meu espírito, concentração e foco. Uma risada grave, bestial, que tornaria o mais bravo dos shinobis uma simples criança se protegendo com seu cobertor. — Ghyahahahaha! Patético, simplesmente patético. — O ser em meu interior estava inquieto, talvez pela estranha forma de chakra que havia acabado de tentar compartilhar espaço com ele dentro de mim. — Acho melhor você ficar de boa aí, guaxinim idiota. — Dizia olhando para baixo, na direção de meu peitoral esquerdo, onde um selo, gravado em minha carne como em um bovino, havia sido feito pelo Shinigami Branco para selar tal demônio. — O que você disse?! Quer que eu destrua esse seu frágil corpo e toda a vila que você tanto ama?! — Ele gritava, fazendo com que meu corpo tremesse em reflexo de sua fúria.

O demônio estava persistente na tarefa em me atormentar. As olheiras ao redor dos olhos deixavam claro que estava surtindo efeito suas ameaças, apesar de eu tentar bater de frente com ele a todo instante. Inicialmente, confesso que o pavor tomava conta de mim o tempo todo, a ponto de precisar dormir fora do vilarejo nos primeiros dias, apenas para evitar uma surpresa desagradável. Entretanto, aos poucos passei a confiar mais no selo que o Kazekage havia feito, apesar de ainda me sentir uma bomba relógio com uma contagem onde eu não podia enxergar.

Histórico:

Dali, no topo daquela cadeia de rochedos, ainda sentia minha respiração ofegante se misturando com o silêncio profundo que envolvia o lugar. Era como se o próprio deserto segurasse a respiração, aguardando o desenrolar dos eventos. Ainda maravilhado com a grandiosidade da paisagem, tentava abafar o ser que habitava em mim e ainda rugia no menor sinal de descanso. A escassez de vida ali era palpável, quase tangível. As poucas plantas ressequidas, sendo algumas criadas por mim, lutavam para sobreviver, lançando sombras fugazes sobre a terra árida e estéril.

Com um sussurro suave, a besta novamente despertava em minha mente. Sua presença sinistra emergia dos recônditos sombrios. Ele se regozijava em meu sofrimento, alimentando-se das dúvidas que surgiam em minha cabeça. Suas palavras ecoavam como ventos cortantes, tentando minar minha determinação. — Você acha que pode controlar a energia deste lugar, fraco humano? Você mal pode controlar a mim mesmo! — Sua voz rugiu em meus ouvidos, um desafio implacável.

Eu cerrei os punhos, lutando para bloquear as vozes sombrias que me cercavam. Cada palavra dele era um teste para minha resiliência, um obstáculo para minha busca. Eu sabia que não seria um treinamento fácil, mas estava disposto a enfrentar as adversidades. Abraçar o silêncio que permeava o deserto ajudava, de certa forma, a retomar a conexão anteriormente quebrada.

Histórico:

Ajoelhado em uma rocha mais lisa, desgastada pelo tempo e pelo vento, fechei os olhos e me permiti sentir novamente. Eu estendi minhas mãos para o céu, como ramos estendidos em busca de chuva. A areia fina e quente sob meus joelhos era uma recordação constante das dificuldades que encontraria, tentando me arrastar de volta para a realidade dos sentidos físicos, num constante esforço de me fazer quebrar a concentração para onde estava me dirigindo. Mas eu estava determinado a encontrar o equilíbrio, a transcender minhas limitações e canalizar a energia daquele lugar inóspito.

Enquanto eu me concentrava, buscando a harmonia com a energia escassa da natureza no lugar, a voz da besta se insinuava novamente. — Você não passa de um tolo sonhador! Este deserto é a prova da futilidade de suas esperanças!

Minha mente vacilou por um momento, mas eu me recusei a desistir. Eu respirei fundo e permiti que a tranquilidade tomasse conta de mim mais uma vez. Em meu interior, encontrava-se uma força profunda, uma centelha de conexão com o mundo ao meu redor. Era um fluir sutil, uma energia suave que se entrelaçava com cada grão de areia. A estranheza começava a tomar conta no momento em que sentia um acúmulo de uma energia completamente nova, logo acima de meu ventre.

Histórico:

Enquanto minha essência se fundia com a energia do deserto, senti-me parte de algo maior. Era como se meu espírito dançasse entre as dunas, acariciado pelos ventos quentes que sopravam com uma suavidade imponente. A cada inspiração, a cada expiração, eu absorvia a sabedoria e a paciência daquele ambiente implacável.
— Entregue o controle a mim, garoto. Será a coisa mais inteligente que você terá feito em vida! — Ele rugia mais uma vez. — Te mostrarei poderes além de sua compreensão! O que busca é NADA comparado ao poder do Senhor do Deserto! — Se vangloriando, o demônio buscava seus meios de assumir o controle da situação.

Eu sorria, sentindo a força de minha determinação crescer, na medida em que sentia a energia passando de meu ventre para meu peito, seguindo para minha cabeça e se espalhando para os demais cantos do corpo. — Não busco te superar, guaxinim. Você é parte de mim, mas não é quem eu sou. — Sabia que aquele tipo de resposta o enfurecia, apesar da ausência de uma resposta direta. Notando minha constante esquiva de suas provocações, o mesmo parecia se acalmar no interior de minha alma, numa área sombria no qual ainda temia em conhecer.

Histórico:

Engana-se acreditar que toda a dominação daquela antiga arte teria sido dominada numa única tarde ensolarada no País do Vento. Os dias se estenderam em uma dança lenta de aprendizado e superação. Cada alvorecer era um convite para que eu mergulhasse mais profundamente em minha jornada de autoconhecimento. O deserto, agora, parecia menos árido e mais vivo, como se os segredos da natureza se revelassem diante dos meus olhos. Por vezes, a quantidade exagerada de energia absorvida fazia meu corpo transmutar, quase perdendo sua estrutura, exigindo um longo tempo de repouso antes de prosseguir com outras tentativas.

O demônio em mim, impaciente, continuava a sussurrar suas provocações em minha mente. Ele tentava minar minha concentração, mas eu não cedia. Minha determinação se fortalecia a cada obstáculo enfrentado. Eu me tornava um escultor da minha própria essência, moldando minha energia com sabedoria e disciplina.

Enquanto a escassez de vida se estendia pela vastidão do deserto, eu encontrava a abundância dentro de mim. Nas profundezas do meu ser, uma chama ardente se acendia, irradiando uma energia vital que se misturava com o ar seco e quente que me envolvia. Meus passos se tornaram mais firmes, minha mente mais clara. Eu estava pronto para o próximo passo em minha jornada.

Histórico:

Em um dia em que o sol alcançou o zênite, ergui minhas mãos e concentrei toda minha energia na conexão com a natureza. Senti o pulsar da terra sob meus pés, a respiração das árvores distantes criadas por mim e a essência do vento acariciando minha pele. E então, em um instante de revelação, a energia natural fluía em meu ser, preenchendo cada célula com um poder renovado.

A voz da besta de cauda uivou em protesto, notando a masterização da técnica sábia. — Apenas adia o inevitável, tola criança. Não importa o que você faça, eu sempre estarei aqui, à espreita, pronto para tomar o controle!

Mas eu sabia que a conquista do Modo Sábio era mais do que um mero domínio físico. Era uma união de corpo e espírito, uma transcendência de minhas próprias limitações. A energia natural pulsava em mim, concedendo-me uma clareza sem precedentes, fortalecendo não apenas minha força física, mas também minha determinação.

Enquanto meu corpo se banhava na luminosidade da conquista, a criatura rugiu de impotência mais uma vez. Seus sussurros agora eram apenas ecos distantes, afogados pela ressonância da minha própria essência. Eu havia encontrado um equilíbrio interno que ele não podia perturbar.

Histórico:

Uma sensação única tomava conta de mim na medida em que me erguia de meu ponto de repouso, onde passei tantas e tantas horas imóvel, apenas absorvendo energias invisíveis aos meus olhos. Agora sentia que havia me tornado um canal para a natureza, um guerreiro transcendente que podia mergulhar em batalhas com uma perspicácia afiada e um coração calmo. Observava meus braços e notava que cada movimento era uma manifestação da harmonia entre o mundo ao meu redor e a força que ardia dentro de mim. O toque do sol deixava de ser apenas calor, mas sim uma bomba de energia que me atingia a todo momento.

Enquanto a brisa do deserto acariciava meu rosto, eu me erguia como um ser renovado, inexistindo fadiga que pudesse me parar agora. Meu treinamento me transformara em um guardião dos segredos do deserto, um defensor da vida que se escondia nas areias implacáveis. Saltava do topo do rochedo com uma certeza absoluta de algo que não havia tido confirmação e, sentindo a gravidade me arrastando para o encontro certo com o solo arenoso, apenas fechei os olhos no momento do impacto final.

Uma grande nuvem de areia se erguia, mas sentia o corpo completamente intacto na medida em que me erguia da área de impacto. Observava mais uma vez meus membros, o metálico e o de carne, sabendo que dentro de mim havia uma força indomável, nutrida pela essência do deserto. Mas, agora, sentia ser capaz de enfrentá-lo de forma apropriada, não precisando mais me esconder por pavor da incerteza.

Histórico: