Eram estranhas as circustâncias, estar em baixo de um teto, não o teto sujo e mal acabado da casa da minha mãe, ou o teto cinza e sem vida da prisão. Era um teto que tentava transparecer conforto, segurança. Nunca tive nenhuma das duas coisas, e a sensação não me caía bem, como uma peça que não se encaixava no lugar, como se depois e tanto tempo a ordem tivesse perdido seu lugar na minha vida.

Aquele teto havia sido me dado pela vila da folha, mas não de graça. Como forma de pagar pela minha moradia e liberdade eu deveria realizar um grande trabalho no futuro, não sabia o que era ou quando seria, a única coisa que me fora dita é que eu não estava pronto. Para ficar pronto eu deveria realizar uma série de missões, treinar com afinco, e me desenvolver como shinobi. Esse processo se dava início hoje com a chegada de uma carta do quartel general. Não era nada demais: Um mercador havia tido sua carroça quebrada e precisava de alguém que lhe ajudasse a concertar o veículo para que continuasse seu trabalho.

Na carta haviam duas localizaões, uma marcenaria onde eu deveria buscar o pedaço de madeira (já comprada pela vila), e o outro onde se encontrava o mercador.

Minha casa era no segundo andar de um apartamento. A janela aberta dava uma sensação de liberdade que sinceramente, nunca havia visto na vida. Por um segundo, me correu a ideia de pular da mesma, sentindo a liberdade de me locomover como quisesse, mas um sentimento estava embrenhando no fundo da minha alma.

"A normalidade nunca fez parte da minha vida, gostaria de saber como é."

Coloquei meus sapatos, joguei minha capa azul por cima dos ombros, e saí pela porta como mais um simples cidadão da cidade, a sensação me era estranha.

Sempre vivi nas periferias da vila, de modo que as paisagens as quais estava habituado eram muito diferentes. As construções eram regulares e limpas, ao menos a maioria, e possuía muito menos becos do que o lugar de onde eu vinha. As pessoas não falavam por entre os ombros com medo de serem escutadas ou olhavam com desconfiança para os lados. Me senti um alienígena naquele ambiente, por mais que reconhecesse que esse era provavelmente um modo mais feliz de se viver.

Quando me dei conta, havia chegado na mercearia indicada, um senhor barbudo e com as mãos trêmulas me observava por trás de um balcão com um sorriso no rosto. Encontrei naquilo um pedaço de casa. As estruturas podem ser diferentes, o dia-a-dia também, mas o sorriso daqueles que passaram por uma vida inteira sempre continua o mesmo.

Nosso encontro foi breve, expliquei que estava lá em nome da vila e o senhor prontamente me entregou o item, desejando-me um bom dia.

Era mais pesado do que imaginei que seria, de modo que caminhar tanto até chegar lá se mostrou ser realmente um desafio. Pensei sobre o que haviam me dito, e como aquilo tudo era uma preparação para um tempo futuro. Em um primeiro momento achei que aquela seria uma tarefa boba, e questionava até que ponto aquela seria uma medida para me fortalecer. Contudo, o suor que se acomulava em meu corpo, e o peso que minha respiração adquiria me mostravam que eu estava muito abaixo do nível que até eu mesmo subestimava.

"Ninjas não fazem nada sem um objetivo" foi o que pensei.

Não que eu estivesse impressionado, inspirado, ou nada assim. Sendo sincero, minhas aspirações nunca foram me tornar um ninja. Minhas aspirações eram ser feliz, feliz do meu próprio jeito, mas desde que matara acidentalmente aquela pessoa inocente no ano passado, essa ferida coçava incessantemente em meu subconsciente, enquanto eu lutava para esconder a dor causada pelo questionamento que me vinha sempre que pensava no luto que causei a uma família:

"Será que eu mereço ser feliz?"

Minha consciência me dizia que não, mas independente de ser feliz ou não como shinobi, nessa altura do campeonato aquilo não era uma escolha. Eu deveria me tornar mais forte. Foi essa a minha resolução, obtida enquanto observava o mercador também idoso, porém ser barba, que se encontrava na minha frente olhando a roda quebrada da carroça. Eu havia chegado.

Cumprimeintei-o educadamente e coloquei o pedaço de madeira no chão. O mercador tinha algumas ferramentas em cima da carroça que pegou rapidamente, antes mesmo que eu dissesse para não se incomodar e deixar que eu mesmo as buscasse. Sua aparência debilitada e frágil, faria qualquer um pensar no porquê uma pessoa dessa idade ainda estaria castigando seu corpo ao trabalhar. Bom, algumas pessoas simplesmente não tem escolha.

Com as ferramentas que o mercador me deu, fiz meu melhor trabalho em remendar a roda quebrada. Enquanto o fazia, entendi o seu chamado para ninjas da vila. A tarefa exigia uma força bruta considerável em vários pontos, seria muito para aquele senhor aguentar.

Sinceramente, minha força bruta também não era lá essas coisas, mas ainda possuía autoestima estima o suficiente para me considerar mais forte que aquele senhor.

Quando tudo estava feito, o senhor me agradeceu com um aperto de mão mais energético do que eu esperava e subiu na carroça, dando a ordem para que seus burros começassem a andar.

Se não fosse pela vida agitada da cidade, eu estaria sozinho agora, mas a solidão era afastada por dezenas de pessoas sem rosto que cruzavam o local. E nesse momento percebi que não queria ser como elas, queria ter um rosto, queria ter um nome. Será que eu merecia ser feliz? O caminho que eu agora trilhava me mostraria a resposta em algum momento, pois eu seria um grande shinobi, ou morreria tentando.