Desde os acontecimentos infames no País das Fontes Termais, Yasuke havia sido promovido à patente de Chunin e passado a receber maiores atribuições e responsabilidades dentro da hierarquia militar da Névoa. Há menos de um ano era apenas mais uma criança nas salas de aula da Academia, aprendendo e estudando os princípios básicos de controle de chakra, e agora, de acordo com o pergaminho que jazia em suas mãos, estava responsável por instruir um dos jovens prodígios daquele semestre e avaliar se detinha as habilidades necessárias para se tornar oficialmente um shinobi.

— E como devo proceder caso ele não cumpra os requisitos mínimos? — Indagou ao jonin que acabara de lhe entregar o pergaminho. — Você sabe muito bem como deverá proceder, garoto. Não pegue leve com ele, seja profissional. — Os olhos do superior sequer encontraram os de Yasuke: permaneceram vidrados na pilha de papéis em sua frente, acompanhando os movimentos da mão que empunhava um carimbo. A falta de sensibilidade por parte do homem não era do agrado do jovem artista, — inclusive, achava que aquele era exatamente o maior causador de problemas na humanidade — mas ele limitou-se a assentir com a cabeça e partir dali rumo à Academia. Vamos ver se me dou bem como professor de primeira viagem.

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Seu destino foi o telhado de uma das residências próximas — mais especificadamente, a mais alta —, onde tinha certeza de que muito provavelmente não seria interrompido ou incomodado enquanto obtinha as informações à respeito do jovem prodígio sob o qual estava responsável. Chi estava completando seus dez anos de idade, era detentor de longos cabelos escarlates e de uma personalidade muito animada: descrita por seus professores como talvez um pouco "auto-confiante demais". Suas habilidades excediam todas as três grandes áreas, mas seu talento nato parecia residir na arte dos taijutsus, coincidentemente a maior fraqueza do jovem artista.

O encontro estava marcado para ocorrer na área de treinamento da Academia da Névoa. Yasuke seguiu o caminho perambulando pelos telhados da aldeia e somente cessou seus movimentos quando chegou ao telhado do local, não tardando muito para obter contato visual de seu pseudo-aluno. Chi, ao contrário da grande maioria das crianças, não aguardava sentado pela chegada de seu instrutor, e sim praticava as mais diversas sequências de golpes e técnicas possíveis com o entusiasmo de um cão que acabara de enxergar um osso. Desse jeito ele irá cansar antes mesmo de começar o teste. Devo anotar isso como um ponto negativo em sua avaliação ou seria inapropriado de minha parte?

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Acho melhor não anotar nada por enquanto. O entusiasmo para com o treinamento, mesmo que pudesse acarretar em uma desvantagem em um combate real, não deveria ser tratado como um ponto negativo, ainda mais para uma criança prestes a se graduar e com muito o que aprender. Yasuke respirou profundamente e saltitou de cima do telhado até que seus pés tocassem o solo ao lado de onde Chi executava seus golpes mirabolantes. — Há quanto tempo está treinando, garoto? — Perguntou ao pequeno, notando as gotas de suor que escorriam pelo seu rosto. — Haha, acho que já devem fazer umas duas horas? Não sei direito, tio. — Ele não parou seus movimentos para responder a pergunta ou sequer fazer contato visual para com o chunin — que acabara de se sentir levemente ultrajado ao ser chamado de "tio".

— Bom, vou lhe dar dez minutos para descansar e beber uma água, e então vamos dar início a sua avaliação final, que tal? — Ao ouvir, Chi cessou seu treinamento incansável e ficou visivelmente nervoso por alguns segundos, como se os pregos de sua cabeça tivessem acabado de serem martelados. — Não precisarei de descanso, sensei! Podemos começar agora. — O sorriso englobou todo o seu rosto repleto de suor. Yasuke se sentiu melhor ao ser chamado de sensei, mas ainda não se sentia merecedor do título.

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— Um ninja deve dar tudo de si para cumprir a missão, mas também deve estar perfeitamente ciente de suas limitações. — Disse ao jovem Chi, posicionando-se despretensiosamente logo a sua frente, a cerca de quinze metros de distância. — Você está sendo avaliado desde o momento em que repousei meus olhos sobre você. Você tem dez minutos para conseguir me atingir com um golpe. — Seu corpo relaxou e simplesmente aguardou pelo primeiro movimento do jovem garoto prodígio que não tardou a ocorrer: assim que deu o sinal, o estudante correu em disparada numa tentativa falha de desferir um chute com a ponta do pé.

Yasuke não pretendia revidar de maneira alguma, apenas se defender. Os golpes vieram de diversos ângulos diferentes: chutes altos, rasteiras e socos, todos arquitetados e pensados de uma maneira bastante engenhosa, dignas de alguém apto para se tornar um ninja. O batalhão militar da Névoa, no entanto, não era composto somente por habilidades físicas: conforme mais golpes eram esquivados pelo jovem artista, mais Chi se frustrava e errava movimentos básicos até chegar ao ponto em que tropeçou nos próprios passos. — Os dez minutos acabaram, garoto. Sinto muito. — Ele não gostava de ser duro com os outros, mas as vezes a dor era o melhor professor.

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