I'M FEELING THE FLOW - I

Pesadelo! Aquela pele acinzentada, seu pai transformado e sanguinário. Se tratava da madrugada em que tudo aconteceu. Satoshi removeu a roupa de cama, permitindo que as cobertas caíssem ao chão ligeiramente. Se encontrava em seu quarto, como poderia ser diferente? Se justamente lá havia dormido naquele longo dia em que havia ocorrido justamente a sua graduação como Gennin. Teve êxito, mas não era como se seguir a vida shinobi fosse como um sonho ou um objetivo, na verdade, apenas ingressou na academia e estudou para formar-se, com boas notas principalmente em Taijutsu, como um agradecimento pela aldeia que havia o acolhido e dado não somente moradia, como cidadania. Claro, tudo isso contando apenas como mais um número em sua tropa militar. Um Peão.

Uma vez de pé, o garoto vestia apenas o seu pijama, que contava apenas com uma camisa simples junto de uma bermuda de tecido fino da mesma cor preta básica. Demorou alguns segundos para perceber como a sua respiração estava acelerada, tal qual seu batimento cardíaco, mas nada que o fizesse ficar nervoso por ora. Consequentemente, o suor parecia escorrer pelo seu corpo, tudo bem, precisava manter a calma naquele instante. Quem sabe melhorasse se abrisse a janela? Justamente isto que o rapaz faria, e a brisa logo tomou conta do quarto por inteiro. Como era boa aquela sensação, lembrou-se de imediato da época em que viveu por bastante tempo a sós, fora da civilização. Tudo era tão calmo, sem tanta complicação, apenas os esforços para a sua própria sobrevivência. Inevitavelmente as lembranças do passado o arrastavam mais para trás, e com isto alguma tristeza reduzia a felicidade momentânea do rapaz ao pó. Não conseguiria dormir, de maneira alguma, com tantos pensamentos em sua cabeça, sobre a sua recente graduação ao rank gennin, sobre o seu passado e o que seria referente ao seu futuro. Precisava levantar e sair da sua pequena casa.

Antes de deixar o seu quarto, o garoto apenas amarrou sua bandana recém ganha em seu braço esquerdo, para que pudesse ser identificado como um membro militar da aldeia caso fosse barrado por algum guarda em vigia durante sua ronda, ou algo tipo, pegando por fim a sua pochete de ferramentas com algumas kunais e hikaridamas dentro, não que imaginasse ser necessário utiliza-las, mas sempre preferia garantir do que remediar. Acreditava não estar infringindo regras, mas se tivesse apenas obedeceria as ordens dadas pelos seus superiores. Uma vez estando preparado como imaginou, deixou seu quarto pela janela do quarto mesmo, saltando em direção a rua em que poderia se dirigir caminhando até o campo de treino mais próximo. Evitou correr ou fazer movimentos bruscos, acreditando que a melhor maneira de passar despercebido seria caminhar normalmente até o local onde iniciaria seu treinamento.

Uma vez no dito campo de treinamento comumente utilizado pelos membros do corpo militar da aldeia, o jovem observou o céu estrelado. A noite estava realmente bela, não poderia deixar tal céu passar batido. Sem muito enrolar, sentiu a brisa novamente alcançar o seu corpo. Apenas o leve vento, com o cheiro natural das folhas e do orvalho que surgia na madrugada era o suficiente para alterar algo em si, ainda que o mesmo não soubesse definir do que se tratava. Acreditava que o melhor a ser feito no momento seria uma meditação, de modo que pudesse sentir melhor o que havia dentro de si, gostaria de conhecer mais a si e ao seu próprio chakra. Sentou-se ao solo com as pernas cruzadas em formato de borboleta. As mãos se uniram na frente da sua barriga, com as posicionadas, uma palma em contato com a superfície da oposta. Satoshi tentou controlar melhor a sua respiração e sentir tudo ao seu redor, desde o cheiro do orvalho, passando pela brisa e ao que poderia ser sentido com relação aos seus sentimentos internos, precisava conhecer mais sobre si próprio e era justamente isto que se esforçava para alcançar naquele instante.

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I'M FEELING THE FLOW - II

Um dos principais detalhes que Satoshi conseguia sentir naquele instante era o cheiro característico que a brisa vinda do oceano tinha. Sua memória remetia as ondas e ao mar, sem quase nenhuma objeção ao fato de que cresceu tão envolto naquele tipo de bioma muito simbólico do país da água. É sabido que um indivíduo sempre se sente muito conectado às origens da sua nação, região, território e afins. Seus pais não eram pescadores, como se era de se imaginar da classe menos privilegiada de tal nação, mas sim agricultores humildes. Entretanto, o que havia aprendido com a sua família era impagável.

Por mais estranho que pudesse parecer, lembrar-se dos seus falecidos pais era deveras reconfortante, sem ser de imediato arrastado para a noite de terror em que ocorreu a tragédia fatídica. O rapaz se sentiu acolhido naquele mesmo instante, como se ambos o abraçassem de uma maneira protetora. Com os olhos fechados, a respiração concentrada e a meditação em estabilidade, parecia ter alcançado um bom nível de desenvoltura com a sua própria existência, guiado pelos espíritos tanto do seu pai, quanto da sua amada mãe, ainda que fossem apenas uma criação da sua mente fértil. Estar ali era bom, em uma realidade na qual se pudesse escolher nunca deixaria para trás.

Bastou alguns segundos naquele seu espaço pessoal de comunhão para que a ideia de estar sendo abraçado e bem tratado pelos seus pais fosse trocada por uma percepção muito mais sensata. Percebia enfim onde se encontrava, no meio da natureza, do campo aberto da clareira, cercado pelas árvores e apenas em uma união já consigo próprio, mas que dava indícios de que poderia ser elevada, ou melhor falando, expandida. Nunca havia sentido com exatidão aquela sequência de sensações diferenciadas, mas de uma coisa tinha absoluta certeza; sua maior vontade era aceitá-la para que pudesse a entender melhor.

Lógico, não havia como seus pais estarem consigo, o abraçando. Todavia, aquele momento seria bastante relevante em termos pessoais, ou mesmo de linhagem. Era justamente a liberdade natural, o contato com a natureza e a união de si mesmo com o ambiente que o aproximava mais dos seus pais, da sua família. Estava sozinho na maior parte do tempo, mas meditando dessa forma, finalmente enxergou o que poderia ter como melhor afinidade, aliança e companhia. Exatamente, não estava sozinho uma vez que podia sentir em si o clima, a aura ambiente e tudo nos mínimos detalhes. Desde o coaxar dos sapos próximos da área, pequenos roedores que passavam correndo, provavelmente por terem hábitos noturnos. Satoshi inspirava profundamente, como se mesmo pela narina pudesse sentir tudo à sua volta. A tranquilidade era destacável, talvez nunca antes tivesse percebido o quão em comum tinha com a vida selvagem, e o quão bem ele se encaixava dentro dela.

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I'M FEELING THE FLOW

E o que de ruim poderia ocorrer? Era uma frase bastante presente na vida do jovem Satoshi. Desde a disputa com a perda dos seus entes queridos, passando pela sua vivência isolado em uma floresta, até o momento de agora. Parecia que todas as coisas o levavam para um momento da vida ruim, ou que nada que ele tentasse teria um resultado positivo e isto era realmente desgastante. Entretanto, mesmo com todos os acontecimentos, perdas e motivos para desistir dos seus objetivos, Satoshi nunca praguejou, baixou a cabeça ou se lamentou. Apenas continuava em frente, da melhor maneira que considerasse a situação.

Obviamente tomou um grande susto não somente quando sentiu a presença brotar ao seu lado, como também falar com uma voz bastante ameaçadora. Quem poderia ser? Não conhecia aquela voz, o que denunciava ser um desconhecido e principalmente sem boas intenções. Não poderia vacilar, não mais do que já havia vacilado ao decidir meditar durante a madrugada, por mais que acreditasse estar bem protegido dentro do território de uma das cinco grandes aldeias ninja. Embora o homem houvesse chegado muito próximo, bem como entregue sua voz em uma distância muito próxima, Satoshi não sentiu sequer nenhum dedo do mesmo encostando em seu corpo, o que indicava que ao menos ainda não estava atado de alguma forma.

Acreditando ter entendido esta informação sobre a situação, o rapaz abriu seus olhos de imediato, mesmo interrompendo a meditação, visto que priorizava a sua integridade física do que naquele momento. Logo tentou saltar lateralmente, em velocidade máxima, visando a direção oposta à voz que havia se pronunciado, com o mero intuito de manter uma distância relativamente segura entre si e o seu incômodo. -- Me desculpe, mas os meus pais me ensinaram a não conversar com estranhos. - Findou as suas palavras ao levar sua mão direita para dentro da bolsa de ferramentas ninjas, de onde sacou uma das kunais que tinha disponível.

Segurou a kunai posicionada horizontalmente pelo cabo com a sua mão dominante, a destra.-- E pensar que eu quase saí de casa sem minha bolsa de ferramentas. - Com aquele ato, apenas priorizou se colocar em uma posição mais defensiva, visto que não tinha intenção alguma de atacar aquela pessoa, nem mesmo combatê-la, por agora. -- Tudo bem, vamos conversar sim. A pauta vai ser como se aproximar educadamente de uma pessoa. - Satoshi parecia falar normalmente, ainda que se tratasse de um leve sarcasmo. Apenas usaria o tempo da resposta para tentar analisar uma forma de fugir dali e voltar o mais depressa possível para uma área mais segura. Parte do seu pensamento, no entanto, ainda estava bastante intrigado com o fluxo da natureza, aceitando recebê-lo como se estivesse pronto para ser abençoado de alguma maneira. Era como se seu ser ainda tentasse se conectar com a natureza.

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I’M FEELING THE FLOW!

Decerto os primeiros instantes do encontro foram de pura tensão. Todavia, claramente o estranho não estava interessado em iniciar uma carga de ataque, ao menos não por ora. Possivelmente acreditasse que Satoshi tinha mais valor vivo do que morto, mas por quanto tempo poderia considerar isto como uma verdade? Ao menos poderia prestar um pouco de atenção na aparência do homem, certamente nunca antes tinha o visto, já que não poderia buscar em sua memória qualquer coisa que tivesse relação com o sujeito. Tudo o que estava acontecendo naquele momento era no mínimo estranho, o que começava a deixá-lo irritado gradualmente, mas por qual motivo?

Tudo estremeceu com a resposta do estranho, suas palavras não condiziam com a verdade, não do modo em que a memória do rapaz havia se acostumado. Entretanto, antes que pudesse o chamar de mentiroso, acabou se tocando que aquele homem possuía uma informação que Satoshi nunca antes chegou contar para ninguém, nem mesmo qualquer um dos seus amigos que construiu durante os anos que passou em Kirigakure. -- Como você sabe disso? Quem te contou sobre aquela noite?! - A fúria parecia correr por meio do seu sangue, fazendo com que o fluxo de suas veias se sobressaísse de modo visível em sua pele. Estava tão chocado que sequer havia percebido que o homem acabou sua frase citando o seu nome.

Aquelas informações serviram como uma viagem no tempo, que levou a péssima memória do rapaz para anos no passado, mais especificamente para a madrugada em que a tragédia ocorreu. A cena inteira surgiu na sua frente, primeiro com seu pai assassinando a sua mãe e em seguida tirando a sua própria vida, transformado em uma criatura de cor morta, sem sentimentos, exceto fúria. A lembrança servia exatamente igual para Satoshi, o enchendo com um ódio puro, não do homem que estava em sua frente, mas do seu falecido pai.

O que antes era um momento seu e único com relação a natureza parecia dar lugar a uma crise de emoções nada boas sobre o seu passado, com a presença de um homem cujo o menino não fazia ideia de quem se tratava, mas que parecia conhecê-lo ainda mais do que o próprio Satoshi conhecia. Tanto o homem, quanto o garoto pareciam preferiram ficar calados um encarando o outro, quando de repente um roedor acabava por subir escalando em seu aparente domador, ou amigo. Não poderia expressar uma feição além de dúvida e esquisita ao assistir a cena, isto devido ao fato de que o pequeno parecia estar se comunicando com o homem, de uma forma que inclusive o rapaz conseguia entender de maneira moderada.

Não poderia negar, ainda que não tivesse compreendido exatamente o que o esquilo queria dizer, conseguia perceber que o controle estava prestes a ser perdido por conta de muita energia acumulada, mas qual energia? Sentia seu coração se acelerar a cada respiração, suas mãos tremerem como se um pico de adrenalina estivesse prestes a tomar o seu controle … Perder o controle! Estaria o animal se referindo ao estado em que se encontrava naquele momento? Não poderia ser, então o homem não se tratava exatamente de um inimigo. -- Não sei quem é você, mas gostaria muito de saber! … Você se deu o trabalho de encontrar um Genin recém formado na academia ninja durante a madrugada, então acredito que deseja algo. - Era o que fazia mais sentido, não acreditava que alguém fosse um bom samaritano que estaria na hora exata, no dia exato apenas para ajudar. -- Se eu ainda não cheguei no estágio da loucura, acredito ter ouvido seu esquilo sugerindo que me ajudasse … Porque eu nunca senti um Flow tão poderoso como o que estou sentindo agora! - Finalizou suas palavras com uma gargalhada alta ao fechar ambos punhos tentando parar a sua raiva, aparentemente sem resultado.

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I’M FEELING THE FLOW!

Se estivesse em sua sã consciência, o rapaz provavelmente tomaria mais uma vez o tom de sarcasmo para que pudesse tirá-lo do sério com mais uma das suas brincadeiras imaturas, mas não era o caso, infelizmente. Ao invés da postura na maior parte do tempo positiva que costumava ter, Satoshi caía de joelhos ao chão, sentindo uma dor de cabeça que não poderia ser definida de uma maneira diferente de excruciante. Honestamente, nunca confiou em um homem tão estranho, mas qual escolha tinha senão tentar descobrir o que o tal realmente queria? Quanto a si mesmo, perdido, não parecia ter alguma saída para o que estava prestes a ocorrer.

Tudo o que conseguia sentir no momento era justamente a energia abundante tomando o seu corpo por inteiro. Tanto era que já estava prestes a perder o controle sobre seus atos, assim como o esquilo havia alertado instantes atrás. Não tinha certeza se vir até o local teria sido uma boa ideia. Nem pensar, essa escolha na verdade foi péssima. Estava sendo possuído por uma energia transbordante cuja não conhecia veridicamente, apenas tendo uma breve noção de que estava ligada ao meio natural que havia aparentemente absorvido desde o momento em que chegou.

Sem mencionar o fato de estar frente ao homem responsável pela destruição da sua família, que deveria estar pensando em dar o mesmo destino para o jovem descontrolado. Ainda que não fosse a vontade do rapaz entrar em um conflito dentro da sua aldeia, para que não acabasse criando nenhum problema que cairia mal para si futuramente, seu livre arbítrio dava lugar para um ódio puro e inconformado e isto não se tratava mais de uma questão de escolha. Seu corpo começava a se levantar, não mais se encontrando de joelhos. Satoshi parecia não comandar mais o seu sistema nervoso, ao invés disto, um grito de poder liberado indicava que a transformação finalmente havia iniciado.

O primeiro sinal foi ocular, íris ocular ganhando uma coloração amarelada, com a esclerótica invertendo a sua coloração, de branco para preto. Uma primeira mudança clara, ainda que o olho em si permanecesse o mesmo, apenas transparecia a insanidade do adolescente. Sua pele se tonalizava da cor cinza, mas muito mais escura do que o seu cabelo, que se arrepiava para cima. Seu corpo também parecia aumentar vários centímetros, além de que seus músculos claramente se estufavam revelando um aumento substancial na força do afetado. Sua feição monstruosa desejava sangue, e só havia uma possível vítima no local naquela altura da madrugada.

Agressivo e sem controle sobre as suas ações, Satoshi não demorou para usufruir das capacidades da sua Kekkei Genkai. Desejando destruir seu alvo o mais rápido que pudesse, deixou que se formassem em suas costas protuberâncias cilíndricas, cada qual com um buraco com vinte centímetros de diâmetro cada um, que serviriam como propulsores para velocidade em investida direta. Sendo justamente isto que o monstro optou por fazer logo em seguida, partindo em direção ao homem que tanto fez mal para a sua família, com o impulso insaciável, com a kunai que segurava em mãos até o momento de maneira defensiva, agora sendo usada como objeto de perfuração numa tentativa de fazer com que esta atingisse o pescoço do seu inimigo.

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