O sol ia nascendo dois dias após aquela missão que acabou com um viés parcialmente desastroso, tocava a minha face, despertava-me de meu sono e me fazia expremer os olhos ao me deparar com aquela claridade. A face de Aka ainda inconsciente diante de mim compunha um cenário incômodo apesar de tudo, me fazia estalar a língua em certa revolta, virando-me de costas para observar o espaço alheio pelo exterior da janela. - Vantagens... Só foi atendida por ser ninja, mas também só está ferida por ser uma... Balbucio em uma reclamação singela sobre o clima que se espalha na vila que pende em uma corda bamba entre a gratidão e o ódio para com os de seu semelhante ofício.

Arfo, penso em revoltar-me, coço minha cabeça inquieta. - Eles estão apenas assustados... Me viro de forma repentina quando lhe escuto e sinto sua mão deslizando por entre meus cachos os puxando para baixo. Algum tempo de silêncio se instaura, não sei bem o que dizer, nem se deveria falar algo para começo, permanecendo apenas fitando seus olhos esverdeados. - Não vai falar nada? Nem um comentário crítico ou coisa assim? Era normal esperar aquilo pelos eventos anteriores, eu mesma me estranhava por não estar apenas criticando sua incompetência em ser golpeada daquela maneira, ou, sobre não ter sido uma boa ideia virar chunin em tempos como aquele. - Não, nada.

Um novo momento incômodo em que nenhuma das duas falavam, ou, talvez nem tão incômodo? - Er... Qual o seu nome mesmo? Pergunto de forma repentina fazendo-a arregalar os olhos. - Que? Hahaha! Ela entrava em um frenesi de gargalhada até que começava a engargar-se com a dor na garganta que ainda estava enfaixada. - O-o Nome oras!? Falo um tanto irritada, apesar de eu ser a errada ali. - Muito bom! Ela dizia com uma voz ainda mista de risada, apesar de um tanto envolta em dor. - Eu estranhava você sempre me chamar de Aka, mas, e pensar que você realmente não sabia meu nome esse tempo todo. Sou Kagayaku Hoshi, mas acho que já passamos da etapa de sobrenomes, Hoshi está bom.

Ela encosta a cabeça no travesseiro após os impulsos para frente para rir, respirando de forma um pouco mais densa. - Eu posso só... Te chamar de Aka mesmo neh? Ela novamente ri um pouco antes de puxar o ar repentinamente fazendo um semblante mais frio. - Você tem que parar de me fazer rir assim sabe... Ela me olha de canto tocando o pescoço com algum esforço, com um certo brilho. - Por que não, como queira. Ela olha pra cima um tanto desanimada. - Eu gostava de toda forma, parecia que era um apelido especial ou coisa assim... Talvez vire um certo?

Eu não sabia bem o que responder, apenas arqueio minha sobrancelha passeando os olhos no lençol aveludado de tons claros. Chego a abrir os lábios ponderando algo para dizer, mas, não consigo escolher palavras, em verdade, parece que apenas tudo me foge a mente por um instante e minha siceridade tão espontânea dá espaço a uma vazio momentâneo. - Você pode encostar sua cabeça aqui no meu ombro um pouquinho? Inclino meu olhar novamente em sua direção, retomando a infeliz forma de falar que tinha me escapado. - Não, isso vai te machucar mais. Ela revira os olhos apertando os lábios um pouco irritada logo antes de colocar sua mão atrás da minha cabeça me puxando para ali.

Normalmente eu recusaria, até repudiaria ou retaliaria, mas, não senti vontade disso, encostando ali. - Está mesmo tudo bem? Consigo notar que ela está um pouco desconfortável, mesmo sua voz para confirmar parece um pouco mais sem fôlego. - Está sim, está bem assim. Não compreendo muito bem o motivo de ela falar aquilo mesmo que não seja verdade, mesmo que na verdade seria bem melhor fisicamente para ela que eu saísse. - Por quê? Questiono tentando me mover o mínimo possível para não ser ainda mais um estorvo. Por que é você? Quase me movia para olhá-la, mas, me contenho para não ferí-la, apenas pensando um instante comigo mesma. Por que sou eu?

Algum tempo se passa naquela situação peculiar antes que eu me levante novamente. Sua mão vai deslizando por meus ombros, perdendo a força, caindo ao meu lado enquanto ela lentamente vai adormecendo. Eu a observo ali parada por um tempo, deslizando de forma curiosa minha mão por seu rosto, as cicatrizes enormes sobre os seus olhos que mal havia dado importância até então. Ela teria certamente perguntado se eu tivesse me machucado, eu por outro lado mal dei a mínima atenção para uma injúria tão evidente. Pensando bem houve uma época em que ela estava com o rosto enfaixado e bastante assustada, lembro que não pude ir para sua casa para um tempo e que depois disso ela evitou me olhar diretamente por um breve período.

Algum tempo se passou, Hoshi, ou bem, Aka como eu a chamava já havia melhorado e estaria me visitando desta vez. Sua presença ali já tinha se tornado mais rotineira ao longo daqueles seis meses, como uma figura bastante próxima e sua presença já não era nem interrompida mais por meus pais seguindo direto até os fundos onde eu jogava algum tempo fora. Ela ia logo se aplumando, sacando a espada me levando a estreitar os olhos curiosa sobre o seu propósito. - Então, o que é isso? Seus fios rubros balançavam ao vento enaltecendo seu apelido naquele momento.


Ela fazia um biquinho desfazendo a pose ao voltar a espada à sua bainha. - Nada, só mostrando que já estou bem. E eu achando que estava preocupada. Ela resmungando sentando ao meu lado para observar as árvores balançando comigo ali, mas, um pouco mais agitada que eu balançando os pés para frente e para trás. - E então, o que estamos fazendo? Olhando árvores? Eu sorrio observando seu tédio evidente, enquanto eu ia aproveitando a brisa e a pacificidade quase exclusiva daquele ambiente com a vila tão agitada, ignorando a segunda pergunta para responder o primeiro assunto enquanto recosto lenta e carinhosamente minha cabeça por seu ombro. - Talvez eu estivesse um pouco.

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