“O Vilarejo é só a alguns quilômetros daqui, Gen...” – Foram as palavras que a infeliz irresistível que carrega meu filho usou. Ultimamente eu não tenho conseguido dizer não para aquele perfuminho descarado que a melhor coroa de Konoha usa. A gente se aproximou demais nessas últimas semanas, eu e a Senhorita Shinobu, desde que ela me contou que estava carregando um filho meu. Já te contei que ela é casada? Pois é... Agora imagine a situação. Não que não valha a pena, a propósito, o pai tá comendo bem, mas porra é foda. Eu pensei em suspeitar dessa paternidade por algum tempo, mas não faria sentido uma mentira sobre isso da parte dela. Shinobu sabe que não pode largar o marido para constituir família comigo, ela sabe da minha vida como Shinobi e com certeza será mais seguro para a criança que ela cresça com um papai mais presente. Que não arrisque a vida diariamente em nome de missões que sequer concorda. Eu quero que ele vire um jovem de negócios, imagine aí? Herdar o dinheiro do maridão da Shinobu e tocar a empresa do cara, hein?! Se distanciar dessa vida inconstante e arriscada que nós que portamos essa Bandana tingida de sangue possuímos. Porra, seria um sonho.

O acordo entre a gente era simples, eu acompanharia o crescimento do boneco de longe. Um amigo da família, quem sabe. Algo que seria abordado quando a criança nascesse. Até lá, eu estaria por ela, do lado dela, dando o suporte que o marido que trabalha o dia todo não consegue dar. Ser amante é tenso. Ser amante pai biológico do filho em gestação é tenso PRA CARALHO.

E foi daí que a ideia veio. Um vilarejo minúsculo nos arredores de Konoha era conhecido por cultivar um chá específico que as grávidas da Vila culturalmente adoravam. Aparentemente um gole daquela porra segurava a dor de cólicas pelo dia inteiro. Imaginei como seria a sensação se a erva fosse fumada, mas preferi não dar a ideia para ela, afinal, meu filho tava ali dentro daquela barriga crescente.

Saí cedo me esgueirando por entre as árvores e a floresta. “10 km dos muros...” - Foi o que ouvi e eu já deveria estar chegando ao meu destino. Segundo as descrições de Shinobu, Vilarejo ainda era um termo errado para se referir ao conjunto de casas na beira de um trecho do rio nos arredores da vila da folha. Era quase como um bairro familiar de umas sete casas de madeira simples que o aguardava. Um local feito sob medida para se propagar a tradição de cultivo daquele chá, fórmula guardada a sete chaves por membros da família há muitos anos. Sete chaves, sete casas, o Treze ia endoidar com essa coincidência numérica.

E então os 10Km viraram 15, depois 20 e eu já estava puto. Foi aí que o cheiro de queimado chegou e acima das árvores a fumaça escura se propagou. De imediato, senti meu corpo enrijecer como se antecipasse os riscos e reduzi o ritmo dos passos, tomando uma abordagem mais furtiva. Meus sentidos se afiaram e eu me aproximei por alguns minutos daquela forma.

Foi quando meus olhos se depararam com o cenário que gelei. Um pequeno conjunto de casas de madeira. Sete no total. Em chamas, queimando por completo, a beira de um rio que ignorava a tragédia e seguia o seu fluxo calmo. Saquei uma Kunai enquanto me aproximava e buscava a presença dos causadores daquilo. Meus olhos se depararam com a placa de madeira encravada, semi-presa, indicando o nome do local: “Paraíso do Chá – O Tesouro Cultural do País do Fogo”. Paraíso... Paraíso...

Adentrei aquele local e os corpos começaram a se mostrar diante de mim. Caídos, alguns queimados, alguns esquartejados. Não existia cheiro de sangue, o fluxo da água e o incêndio pareciam contê-lo. Era a guerra. A guerra que até aquele momento era apenas uma informação abstrata para mim. A guerra que se revelava diante dos meus olhos. Batendo na porta de Konoha. Tão perto. Como uma pintura trágica. Fechei os punhos enquanto processava aquilo, olhei para os céus procurando encontrar forças e propósito. Meu filho não poderia viver essa vida. Não poderia chegar num mundo como esse.

Voltei reflexivo para a Vila, até mesmo um tanto disperso. A sorte me rondou naquele momento e me protegeu, já que se eu tivesse sofrido qualquer emboscada, seria uma vítima fácil. Um abate rápido. Os muros da vila se revelaram diante dos meus olhos e eu voltei para a realidade. Sentia falta da facilidade do passado recente.

Acionei o primeiro guarda no muro da vila e fui recepcionado de acordo ao meu novo patamar ninja. Ainda estava me acostumando com aquele respeito, mas enfim... Isso não vem ao caso. O guarda repassou a informação para um pássaro mensageiro que a levou para a central militar de onde as devidas tratativas seriam tomadas. Provavelmente um interrogatório no fim do dia, alguns esclarecimentos. Rotina...

Segui sem muita demora à morada de Shinobu e me aproximei da porta de entrada dela, inconscientemente, completamente esquecido do combinado. Bati na porta e quando fui recepcionado, a mulher me puxou para dentro da sala com um olhar furioso. – Que porra é essa Gen?! Eu já falei que é pra usar a varanda! – As palavras chegavam aos meus ouvidos, mas eu não conseguia sequer dar atenção a elas. – O que foi, aconteceu alguma coisa? – Ela questionou, já com um tom mais caloroso. Como se tivesse percebido algo em mim.
- Não consegui o chá... Tem alguma coisa a mais que eu possa fazer? – Questionei.
- Não conseguiu? Por quê? –
- Eles tiveram um problema na produção... Vão ficar um tempo sem conseguir fornecer... – Menti.
- Ahhh... Tudo bem então... Você não vai me falar o que aconteceu? –
- Nada, acho que é sono... – Menti novamente enquanto me dirigia para a porta de saída.
- Gen? –
- Oi... –
- Varanda... –

Dei um beijo na testa de Shinobu e subi para o segundo andar , parei no meio do caminho e olhei para trás, meus olhos fitaram os dela e depois a morada de meu filho ainda em gestação. Dei um sorriso amarelo e parti em seguida. Pela varanda. Como havíamos combinado.  

Considerações:

Jutsus utilizados:

Bolsa de Armas: