Estava tão desnorteado que sequer notara o quão invasivo viera a ser. Quando notou, estava defronte com a silhueta da Pandora. Não podia deixar de notar suas curvas e como eram ainda melhores sem roupas. A situação de imediato resultava em um sangramento nasal incontrolável.  — Ah, eu pensei que... — Tentava se explicar, mas não existia explicação alguma em sua mente. Não conseguia saber o motivo de ter se aproximado tanto e muito menos acharia uma desculpa para tal.

Recuou sem sequer fechar a porta, contrariando o que ela havia solicitado, e sentou-se na cama, ofegante e ao mesmo tempo desnorteado. Dedicou o tempo de espera a limpar seu próprio sangue e tentar transmitir a imagem de que estava calmo. O foco foi tanto que acabou esquecendo do que havia jogado na cama, que neste momento estava bem ao seu lado. Quando ouviu que a queda d'água cessava, o coração acelerava como nunca; tentava imaginar a forma com que morreria com sua chegada, pois era de conhecimento claro que a havia deixado nervosa. Mas do contrário de qualquer coisa que havia imaginado, a forma com que sua alma chegava próxima de sair de seu corpo era diante da presença de tamanha beldade úmida e apenas de toalha. Novamente, sequer conseguia se concentrar no que era dito, o tempo parecia estar em câmera lenta, o que automaticamente fazia com que cada movimento dela fosse notado, desde abertura da gaveta até possíveis inclinações para alcançar a toalha que seria emprestada.

Tinha dificuldades em se levantar e até mesmo em andar. Seus instintos o faziam caminhar com a cintura virada para o lado oposto ao qual a morena estava, também usava das mãos, de maneira disfarçada, rente às coxas, escondendo acontecimentos involuntários. Seu rosto estava completamente corado, e passava por ela com passos acelerados, pegando a toalha e indo ao banho o mais rápido possível. Ao contrário da Heinstein, fecharia a porta do banheiro, respirando aliviado.

A roupa era descartada ali mesmo, e então iniciava o seu banho. Com as primeiras gotas d'água caindo sobre seu corpo e entrando em contato com a sua pele, Kaginimaru se lembrava do quão ferido estava. Sentia ardências por diversas partes de seu corpo, dado às diversas explosões que acabara sendo vítima anteriormente durante a invasão. — Arghh... — Deixava escapar um gemido involuntário audível por qualquer um que estivesse nas imediações. Por um momento pensava em pedir tratamento para a kunoichi médica de plantão, mas a ideia logo era excluída após relembrar-se do quão exausta ela parecia estar, estava fora de cogitação.

Pouco tempo se passou e o garoto se preparava para sair do banheiro. Volteava a toalha em sua cintura e então partia com suas calças rasgada, queimada e suja em uma das mãos. — Será que você tem alguma roup-... — Sua intenção era pedir uma calça emprestada para Pandora, mas quando viu o quão deslumbrante a mesma estava com sua nova roupa, tudo acontecia novamente; corava de imediato, sentia os mesmos formigamentos e não conseguia falar mais nada. Estava completamente travado.

Considerações:

Estarrecido por conta de não ter roupas limpas para vestir, Kaginimaru sentou-se onde fora indicado. Pensava que seria agora a hora de sua morte, o momento onde Pandora o cortaria por conta de seus abusos acidentais — talvez não tão acidentais assim. De imediato, sentia seu corpo sendo empurrado contra a cama, estava acontecendo. Não restou-lhe tempo para reagir, quando notou já estava bem abaixo dela, sentindo todo aquele suave peso contra seu abdômen. Os batimentos cardíacos, como de costume nesta noite, estavam imparáveis, se antes o que dominava o garoto eram confusões e vergonha, agora a adrenalina imperava.

Sentia um enorme prazer em ser curado daquela forma — Pudera! com um atendimento exclusivo destes, qualquer Shinobi faria questão de se ferir o tempo inteiro. A água que antes dominava seu corpo, agora já o dividia com o suor da tensão, não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo, que estava tão próximo de quem tanto gostava e diante de um momento tão íntimo com este, por vezes cogitou a possibilidade de ser um sonho, mas era impossível, se sentia tão vivo como nunca, como jamais havia sentido em nenhuma outra ocasião. Das palavras que ouvia, se animava com tudo, mas a parte em que fora chamado de molenga, isto não concordava! — Mesmo com a citação das exceções.

Kagi sorria levemente.

A provocação final feita por ela foi o estopim; com as mãos adjacentes, buscaria segurar ambos os pulsos da garota, a pressão da força viria a ser considerável, mas nada que a machucasse. Exercendo força com o abdômen e todo o tronco, levantaria e rotacionaria parte do corpo de modo que ela se deitasse no lugar em que antes o Tokujo estava, literalmente trocando de posição, porem sem estar sentado sobre ela. — Melhor falarmos assim — Sussurraria, curvando seu tronco para se aproximar do rosto da mesma, de forma que garantisse que ela fosse ouvir. Finalmente estava colocando em prática o que havia aprendido com o cara da pizza, estava nervoso e com um gigantesco misto de sentimentos, mas partia para arriscar tudo, partia para se sentir ainda mais vivo, estava sedento e eufórico como nunca.

Considerações:

Tanto quanto Pandora, Kaginimaru também sofria para se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse a união de seus corpos. O problema não se resumia somente a isso, mas o autocontrole que sentia necessitar transpassar... travava uma verdadeira batalha em seu interior para se segurar e conseguir compreender o que a morena queria dizer neste momento tão íntimo e inesperado da dupla. Por mais que tivessem pouca idade, por mais que a vivência de mundo de cada um dos dois fossem extremamente diferentes, no fim estes estavam firmando o que um sentia pelo outro.

Tornando a situação ainda mais inusitada, a aproximação do abraço forçado intensificava ainda mais a tensão. A garota poderia facilmente ouvir os batimentos cardíacos em sinfonia com a ofegância de Kaginimaru. Tudo o que era dito zurzia forte no interior do rapaz, não imaginava como sua solitária dupla se sentia, mas o desabafo da mesma demonstrava como se esforçava em expressar seus sentimentos. Um extremo ângulo invisível que, agora, tornava-se mais que visível — era palpável. Kaginimaru por um momento refletia que nunca havia parado para pensar o motivo dela ter iniciado um ataque, mas não buscou finalizá-lo. A verdade era que não considerava pesos negativos nas escolhas de suas ações; se fosse da vontade da mesma, caso julgasse o melhor e ideal a ser feito, que assim seria. Não contestaria mesmo que colocasse sua própria vida em risco — embora ainda fosse lutar em resistência, pois não era nenhum suicida. Kagi sempre fora um ser que acreditava veemente que; Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, este homem não está pronto para viver. — e já havia definido a muito tempo o seu motivo.

No momento em que o recuo era permitido, o garoto hesitou. As sensações, os sentimentos... queria continuar ali pelo resto de sua vida, mas compreendia que não existiam motivos para a pressa perante o desconhecido, não ainda. — Eu é quem te devo desculpas, fui duro demais com minhas palavras naquele dia... — Disse ainda próximo de seu rosto enquanto acariciava aquela mão alva e deleitante. Antes que saísse de perto, usurparia um rápido, mas profundo, selinho. O primeiro de sua vida. — Estarei esperando você voltar! — Concluiu logo em seguida, levantando-se. Partia então rumo à janela e saltaria sem pensar duas vezes. Mantendo sempre uma das mãos segurando a toalha em sua cintura. Na verdade, sequer havia notado que estava somente de toalha em meio ao vilarejo, mas teria de partir — não podia deixar ser visto por Felicia naquela ocasião.

Considerações: