O tempo de caminhada era maçante — não que o problema fosse a distância, mas sim o tempo em que percorriam tamanha distância, uma caminhada que poderia muito bem ser acelerada. A vontade que Kaginimaru tinha era de correr com toda sua velocidade até a linha de chegada, mas seria tão antiquado que até mesmo ele tinha noção disso, além do mais, jamais deixaria de acompanhar sua parceira. Este era o primeiro reencontro da dupla e o garoto estava extremamente envergonhado depois de tudo o que havia acontecido, sequer conseguia olhar diretamente aos olhos da mesma, volta e meia, seus olhares se cruzavam e rapidamente eram desviados diante da tensão mútua. Tudo isso até o momento em que fora puxado e induzido a diminuir sua velocidade, estavam praticamente à sós na conversa que se iniciava.

O questionamento era direto. — Eu fiz uma missão, e... — Flashbacks interrompiam seu raciocínio, visualizava que além da missão que havia realizado, sua rotina resumiu-se então em apenas comer e dormir. Corava levemente, não sabia muito bem se deveria falar a verdade e transpassar a ideia de que era um molenga ou mentir para impressionar Pandora. — ...só... — Continuava depois de alguns segundos, sendo realista, mas sem detalhar muito toda a insignificância. No fim das contas, dentre ambas as opções entre a verdade e a mentira, conseguira achar o meio termo. Se sentia um gênio por dentro.

Ele a seguiria por todo o caminho até o momento onde embarcavam, o desabafo da companheira quanto ao cansaço fazia o garoto lembrar de que não havia retribuído a pergunta. — E como foi na sua missão? Sucesso como sempre né?! — expressava a noção do potencial da mesma com um enorme sorriso no rosto enquanto dava leves tapinhas em suas costas, Queria fazer com que a mesma também se sentisse tão a vontade quanto Kaginimaru se sentia ao lado dela, o desconforto por parte da mesma era notável, afinal, sabia mais do que ninguém que Pandora nunca puxava assunto, pelo menos não com qualquer pessoa. A espontaneidade no sorriso do ruivo possuía parte desta ciência, pois era uma verdadeira honra aquele posto, mesmo que ainda fosse confuso sobre o que exatamente se tratava.

Considerações:

O olhar que recebia de volta perante aos golpes transpassava o temor de uma vida encarando a morte; sentia tamanha intenção assassina que seu sorriso se fechava no mesmo instante, recuando a mão para própria cabeça, sem jeito. Caminharia junto dela enquanto ouvia o breve relato da missão. — Você deve estar bem famosa — Comentou quanto aos ninjas que supostamente fugiram. Encararia a marca no meio da testa da Pandora, finalmente compreendendo o motivo dela, pois de inicio acreditava se tratar apenas de maquiagem artística ou coisa do tipo, algo totalmente fora dos padrões dela. — Deve ser algo muito interessante, depois quero ver em ação o que isso faz — Dizia sobre o losango, curioso devido ao fato dela não ter explicado para que servia — mas não se prolongaria quanto a isso.

O pedido do roubo era inusitado, mas uma missão dada por sua amada era sempre missão cumprida. — Nem sabia que você bebia! — Disse um pouco espantado enquanto ela se virava. Quando ouviu falar de zíper, sua mente avoada logo o fez desviar o olhar para baixo, na direção de sua calça, mas compreendia com clareza de qual se tratava quando a mesma tirava o cabelo do caminho, revelando a localização do que devia ser aberto. Com um pouco de dificuldade, assim o fez, descendo lentamente até metade do torso de Pandora. Quando ela se virou, as mesmas sensações que tivera naquele dia, no quarto da garota, retornavam a dominar seu corpo por completo. Notava, inclusive a presença daquela tatuagem desconhecida que jurou não estar ali da última vez, mas não se estenderia. E-Eu vou buscar seu Rum! — Balbuciou com a mão no nariz enquanto se retirava.

Se dirigiu então até a cozinha e lá aproveitou da correria dos funcionários para adentrar como se nada estivesse acontecendo. Passou um tempinho observando até o momento em que ouviu garçons pedirem duas garrafas de Rum para uma mesa e se distraírem com outros pedidos. Aguardou até que elas fossem retiradas da geladeira e postas ao balcão. — Eu vou entregar lá! — Disse com a cara de pau, tomando posse das duas grandes garrafas, uma em cada mão, e retornando então ao quarto de Pandora, levemente preocupado em ser pego diante do roubo.

Logo na porta, adentraria sem bater, caso estivesse destrancada. — Trouxe duas garrafas, gosta desse aqui? — disse enquanto abria e adentrava, ainda antes de vê-la.

Considerações:

Corava de vez quando avistava a obra de arte presente naquela cama. Não esperava que fosse encontrá-la daquela forma; os ombros desnudos entregavam que roupa alguma estava abaixo das cobertas. — V-você... — Tentava manter qualquer que fosse o assunto, mas era como se tivesse esquecido o próprio idioma, as palavras não se formavam e o seu raciocínio não funcionava adequadamente. Ficaria ali, imóvel, como uma estátua, até o instante em que ela o chamava para se aproximar, dizendo também sobre a misteriosa tatuagem que o garoto havia anteriormente notado. Na verdade, seu pensamento ficou por um bom tempo voltado nisto, mas a distração presente de tais curvas afastavam quaisquer pensamentos da mente do rapaz. Daria diretamente uma das garrafas para Pandora, enquanto que, a outra, a colocaria na cômoda ao lado da cama. A observaria, um pouco preocupado com a facilidade em que a Heinstein aparentava ficar alcoolizada. — Você não está bebendo demais? — A questionava, corando ainda mais perante a referência de uma noite anterior daquele casal.

Acreditava cegamente nas palavras dela, mas isto piorava ainda mais a situação. Se ela dizia não fazer ideia de como aquilo havia surgido, ela realmente não fazia ideia de como aquilo havia surgido! Antes mesmo que pudesse retornar ao assunto, a aparição dos seios por completo causavam as mesmas sensações insanas e pervertidas que o Kagi sempre tinha, mas a prioridade da situação era outra. Fechava os olhos, com certa dor no coração, para buscar o foco no verdadeiro problema da noite. — Também gosto de lobos, mas não faz sentido isso... Como você tem uma tatuagem nova e não se lembra dela?! Nem a minha memória é assim. — Brincava em tom extremamente sério, preocupado com a origem daquilo. Ficava um certo tempo refletindo, tentando lembrar se havia visto aquele símbolo da última vez que havia visto o corpo da parceira. Isso! Tinha certeza de que anteriormente a missão, ela ainda não estava com aquilo. — O que aconteceu nessa sua última missão, hein?! — Martelava novamente a questão, buscando respostas sobre aquilo. — Você é a pessoa com a melhor memória que conheço, isso é o que me preocupa ainda mais... Você não se lembrar de algo?! Impossível! — Reforçava, buscando, de certa forma, pressioná-la passivamente a se recordar. Se não fosse instruído a abrir os olhos, os manteria fechados até que o encerramento da conversa por completo.

Considerações: