— Konichiwa! — Saudei os presentes ao adentrar na ampla sala. O gabinete do Kage era tão familiar quanto a sala da minha própria casa; eu tinha que ir lá várias vezes por semana, para atender as demandas de missões da vila. E havia muito trabalho para gennins. Geralmente, acabávamos ficando com as tarefas mais simplórias, como auxiliar pessoas, achar coisas e consertar outras. Às vezes, eu gostava daquela simplicidade. Às vezes, eu morria de tédio. E, às vezes, apesar de simples, era um trabalho tão pesado que eu só queria morrer, mesmo.

Me dirigi até a mesa de missões. Com um aceno rápido, cumprimentei o chunnin que trabalhava naquele dia; ele, por sua vez, me estendeu um pergaminho, cujo selo, um grande "C", demonstrava sua dificuldade. Missões rank C eram as mais complexas, o que me excitava. Enquanto lia o que deveria fazer, ouvi a voz do mais velho. "Essa você não irá realizar sozinha. Ela é um pouco mais urgente do que você está acostumada. Ali, ele irá com você." A figura apontou o indicador para um ponto em minhas costas.

Me virei, encontrando Naga entrando a sala. Provavelmente, estava ali pelo mesmo motivo que eu, o que não era nenhuma coincidência. Aguardei até que ele se juntasse à mesa, e lhe estendi o papel, balançando-o em frente ao seu rosto. — Trabalho para nós dois. Isso não é ótimo? — Eu particularmente gostava de trabalho em equipe; as chances de me esforçar menos eram maiores. — Vamos lá! Ao trabalho! — Comentei, girando sobre os calcanhares para caminhar até a saída.

Entreguei o pergaminho para Naga, para que ele pudesse ler o enunciado. Entrementes, segui na direção do portão principal da vila, para que pudéssemos acessar os arredores. — Não acho que tenha sido um animal. É necessário penetrar profundamente nas florestas ao redor para encontrar criaturas realmente perigosas. O barulho da vila afasta a maioria das bestas. — Raciocinei em voz alta, para que meu parceiro também ouvisse. Eu continuava caminhando, sem nunca olhar para trás, sabendo que Naga estava ali; sua presença era quase tangível, eu literalmente conseguia senti-lo.

— Mas, eu também não acho que tenha sido algum forasteiro. Geralmente, quando esse tipo de gente aparece, é sempre cercado de muito burburinho e, a única menção que tivemos de estranhos nos últimos dias foi essa, de um assustando as crianças. — Eu tinha um modus operandi quando se tratava de missões; gostava de eliminar as situações mais absurdas e trabalhar com o que era mais palpável. E, para mim, o que era mais palpável naquele momento... — Acho que, na verdade, foram brincar de ninja por aí e acabaram se perdendo. Aslan já se perdeu assim, uma vez, mas, em vez de pagar por uma missão, o pessoal do orfanato botou todo mundo atrás dele. — Deu os ombros.

Não era como se tivesse batido o martelo da verdade, entretanto. Assim que alcançamos os terrenos dos arredores, passei a focar minha atenção nos detalhes. — Vamos ver se conseguimos rastrear algo. —

— Mais interessante para você, que iria lutar sozinho. — Brinquei. Eu sei que Naga adoraria que fosse algum bicho ou alguma pessoa mal intencionada; isso daria à ele a chance dele demonstrar suas habilidades e, ele era extremamente narcisista quando se tratava desse ponto. Mas, se realmente fosse alguma dessas duas opções, nos daria muito mais trabalho, o que ia contra ao que eu pregava — quanto mais rápido, melhor!

Abri um sorriso pequeno ao pensar em Aslan; ele era, de fato, muito problemático. Todo o trabalho que eu não dava — por ser preguiçosa —, meu irmão dava o dobro. Talvez fosse uma maneira do universo manter o equilíbrio. — Sim, sim, não acho que divisão seja a melhor opção, já que não temos cem por cento de certeza. — Eu tinha cerca de oitenta por cento de certeza que não havia nada demais naquela história, mas, não seria eu a responsável por desanimar Naga.

Eu procurava por algum rastro, mas foi o rapaz que encontrou o primeiro. Um pedaço de tecido, que eu peguei para olhar de perto. Era um tecido fino com uma cor lilás desbotada. — Pode ser de uma das crianças. Um estrangeiro utilizaria roupas mais grossas para viajar. — Raciocinei. Em seguida, encarei a direção que Naga apontava. — E esses rastros… Bom, acho que ou um animou às assustou, ou se perderam brincando. Nenhum adulto mal intencionado deixaria tanta bagunça para trás. —

Comecei a correr, seguindo os passos e galhos quebrados. Agora que a possibilidade de haver alguma outra pessoa relacionada ao sumiço era de praticamente zero, tomei a liberdade para chamá-las.— Oe? Viemos buscar vocês! —

Crianças, ainda que com potencial para serem shinobis, são apenas crianças. Portanto, não foi necessário ir muito longe para encontrarmos o ponto em que os menores estavam. Vozes finas e oscilantes responderam aos meus chamados; o som, que vinha de cima, fez com que eu e Naga olhássemos para as árvores, buscando encontrar os menores ali. E, de fato, ali estavam; três figuras pequenas e aparentemente assustadas, segurando o tronco como se a vida deles dependesse de sua força.

— Está tudo bem. —  Me juntei ao coro de Naga, tentando acalma-los. — Vocês conseguem descer sozinhos? — Desviei meus olhos para meu companheiro, que parecia ligeiramente perdido em relação ao tratamento que deveria dar aos pequenos. Eu também não me considerava a melhor pessoa para lidar com crianças. — Tente dizer alguma coisa que os façam pensar que estão seguros… — Aconselhei. Naga, entretanto, realmente provou que não era muito bom cuidador, me fazendo esbugalhar os olhos. — Assim não! — Ralhei, ouvindo-o falar sobre a katana.

As crianças, entretanto, pareceram gostar de saber que ele tinha uma arma letal em mãos, desceram das árvores mais rápido do que eu poderia imaginar e, se juntaram às pernas do meu parceiro. Foi uma cena fofa e, devido a visível falta de experiência de Naga com crianças, engraçado também. — Estão todos bem? Alguém está machucado? Conseguem caminhar de volta? — Após minhas perguntas, todos responderam que sim, estavam bem, não estavam machucados e que conseguiam caminhar. Ainda explicaram que estavam brincando quando se perderam e, com medo de um porco-selvagem, se esconderam nas árvores.

Dei um pescotapa nos três.

Eu definitivamente não teria filhos.

— Sabiam o quão perigoso é brincar na floresta? O porco poderia ter comido vocês! Agora, andando. Seus pais estão esperando por vocês no gabinete do Kage. —