|野郎







— Isso é muito triste.

— O quê?

— Pensar no fim, entende? Saber que você tá morrendo.

— Mas não estamos todos? — Ela deu um sorriso que eu provavelmente não daria se estivesse na mesma situação — Não fique se achando, Treze. Amanhã você pode cair em um buraco, bater a cabeça e partir dessa pra melhor. Ninguém tá muito seguro nesse mundo, você sabe disso. Na verdade, acho que você vai morrer de um jeito bem idiota, quer apostar?

— Você não vai estar aqui pra saber mesmo — Comecei com uma risada leve, mas a brincadeira acabou me deixando ainda mais desanimado — Sabe, hoje quando imagino a minha morte, acho que vai ser no campo de batalha. Se eu estiver protegendo alguém, não vou me importar. Um grande shinobi um dia me disse: “heróis deixam legados e legados nunca morrem”. Acho que eu sou o legado dele, então seria bom deixar algum também. Só queria ser relevante antes da minha partida, sei lá.

— Onde você estava todos esses anos antes de nascer? Durante milhares de gerações o mundo existiu da mesma forma sem você. Todos tinham seus problemas, preocupações e tristezas. Nada disso importava antes de você estar aqui. Acho que quando morremos, tudo volta pra escuridão e essas questões deixam de importar novamente. Legados e tradições… que se foda tudo isso. Nós precisamos ter sede de viver o agora. É só o que nós temos. O hoje, eu digo. — Quando ela falava assim, nem parecia ter sua idade. Dez, onze, talvez?  

— É... Profundo. Vai ver quando estamos próximos do fim, acabamos entendendo coisas que nunca entenderíamos em outra situação.    

Nós comíamos picolés azuis, deitados na grama sob um céu estrelado de verão. Naquela colina, tudo ficava ainda mais bonito. A garota marcou um "check" em sua lista onde estava escrito "-ver a lua do topo de uma colina silenciosa" e outro em "-sentir um gosto que nunca senti".

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— Me deixa ver?

— Não. É melhor deixar esse para lá.

Em seu caderninho de mão, vários riscos feitos à lápis cortavam singelas frases de desejos que a garota gostaria de cumprir antes de sua morte precoce. Tudo havia sido extremamente divertido de se fazer, pra falar a verdade: Jogamos no fliperama onde acabei conseguindo um cachorro gigante de pelúcia para ela. Entramos escondidos em uma plantação e roubamos uma erva de cheiro engraçado e a fumamos no sopé do monumento dos Hokages - e também ficamos horas rindo sem entender o porquê. Nadamos no rio com placas de “proibido”, tocamos campainhas e saímos correndo. Nós tínhamos doze anos e nunca nos sentimos mais vivos.

Ao que parecia, faltava apenas um deles a ser marcado, embora ela não parecesse tão disposta assim a me mostrar o que era.

Dando de ombros, sentei-me na grama e a brisa fez um carinho gelado em meu rosto. Olhando dali, Konohagakure parecia extremamente calma e quieta àquela hora da noite. Quem sabe os habitantes já tivessem dormido, ou a distância não nos permitia ter uma boa perspectiva do vilarejo. No silêncio da colina, quase pude ouvir o coração da garota batendo acelerado.

— Sabe, eu nem queria realmente ser uma shinobi como foi descrito na missão — Ela também se colocou sentada, encostando seu ombro no meu — Eu nunca tive amigos. Sempre presa em tratamentos, morando no hospital, frágil demais pra frequentar a escola... Acho que eu só queria ter um momento divertido antes de morrer. Obrigado por me dar o melhor dia da minha vida.

— Não fala assim, Iz. Quando eu receber o dinheiro dessa missão, vou te levar pra fazer várias coisas divertidas.

Ela sorriu. Por sorte, decorei aquele sorriso, pois infelizmente, mais tarde, descobri que não havia tempo para outro dia divertido ao lado dela.

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