Estava revigorado. Mesmo perdendo boa parte da noite de sono, apenas o consumo do veneno lhe dava energias suficiente para lutar uma guerra sozinho. Não sabia muito sobre o que poderia esperar da reunião, mas tinha certeza que sua parceira Pandora estava completamente certa, afinal, a separação estava até mesmo exposta no convite que Iwagakure havia recebido. — Eu não vou deixar a situação se complicar. — Dizia de maneira curta e convicta, crédulo de que seria capaz de resolver qualquer tipo de possível problema antes mesmo que estes surgissem, afinal, tratava-se de uma reunião de paz... que mal ocorreria? Já havia presenciado o uso de invocações de ofídios por parte da sua amada em diversas outras ocasiões, mas a entonação e a ênfase que se dava sobre pretender trazer a maior delas deixava claro que seria algo jamais antes visto. "Sempre evoluindo, não é mesmo?" — Refletia consigo mesmo enquanto a olhava diretamente, com um sorriso no rosto que provavelmente ela não entenderia seus motivos. Embora esperasse que não fosse necessário colocá-lo em prática, absorvia muito bem o plano e não se esqueceria com facilidade.

Tudo parecia tranquilo demais, era a primeira vez que Kaginimaru viajava por estas regiões e sentia como se estivesse em casa. Não pelo fato de gostar do lugar ou mesmo parecer com a região em que vivia, mas sim por se sentir bem estando na companhia do que lhe era mais importante na vida. Um misto de diversos sentimentos que ainda lhe causava a sensação de borboletas no estômago, igualmente como das primeiras vezes. Como sempre.  

Não compreendia os motivos, mas também reduzia a velocidade de seus passos em conjunto com a dupla. Seu físico acostumado com o extremismo não tinha problema algum em ceder algumas vezes perante as oportunidades de ser forçado; poderia sem problemas viajar correndo até kumogakure e ainda por cima carregando sua Kunoichi, mas o momento de paz pedia por tranquilidade. — O último dragão? — Perguntava de maneira retórica, pausando brevemente para refletir um pouco. — Talvez, sem nada para proteger, tenha preferido a morte... — Concluiu com base na informação sobre procurarem proteger o que lhes eram mais importante. Por pura inocência, ou provavelmente por se tratar de seus ideais, considerava que o mais importante para eles fossem os seus semelhantes, sua própria família.

Considerações:

As interpretações para as ações perante a lenda do último dragão eram impossíveis de se enumerar.  No início, Kaginimaru se perguntava o motivo do tal ter feito isso sendo o último de sua espécie, mas logo percebia que o foco de todo o conto parecia ser centrado apenas no ato de sacrifício e proteção mor. Egoísmo? Solidão? Gentileza? No fim das contas era impossível de saber o que se passava nas motivações, restando apenas respeitar qualquer uma que fosse e simplesmente admirar o ato. Por um momento o jovem Hanma se perguntava se algum dia também seria um último dragão, afinal possuía características semelhantes, mas a resposta era um completo segredo.

A conclusão de Pandora para com a história o fazia sorrir, ao ponto de até mesmo gargalhar por um breve momento. O riso não perdurava por conta do que vinha em sequência; a aproximação em conjunto do sussurro inédito deixava o Tsuchikage completamente surpreso. Mesmo que de certa forma já soubesse, nunca esperou que fosse ouvir tais palavras advindas dela. Encontrava-se boquiaberto e seu coração batia mais forte, não sabia o que responder, chegando até mesmo a lacrimejar, mas lutando para impedir os avanços das lágrimas e tentando ao máximo disfarçar para que sua companheira não percebesse. Demonstrações como aquelas praticamente eram inéditas em sua vida, receber uma repentinamente o abalava de verdade — embora fosse de maneira extremamente positiva.

Retornaria o caminho em silêncio, aparentemente reflexivo, mas seu verdadeiro foco estava em sentir a intensidade que o próprio coração transpassava. — Talvez nada neste mundo aconteça por acaso... tudo acontece por alguma razão, e o destino lentamente se forma... — Diria enquanto contemplava as estrelas. — O Destino nos uniu, Pandora-chan! — Continuaria, desta vez a encarando diretamente. Manter-se-ia em silêncio por alguns poucos segundos enquanto relembrava do parecer final da Heinstein sobre o conto do último dragão; Evitar o perigo não é tão seguro quanto expor-se a ele. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada. — Concluía expondo a forma com que pensava enquanto espreguiçava-se. Ao fim, aproveitaria que seus braços estariam para o alto e passaria o que estava adjacente para Pandora por cima dos ombros dela, aproximando-se  ainda mais nesta noite fria.

Considerações:

Divertia-se com a reação da parceira perante sua opinião quanto aos riscos da vida. Ambos possuíam conhecimento prévio sobre a opinião um do outro quanto assuntos deste grau e jamais conseguiriam mudar o modo com que pensavam, talvez fosse este o principal motivo de serem tão bem entrosados — juntos, se completavam. Pandora ainda não sabia sobre o fato de que o ápice da técnica assinatura de seu companheiro consistia em um grande sacrifício, como o do dragão, mas mesmo assim tinha a plenitude de saber que o jovem não hesitaria em usar tudo o que tinha quando apenas lhe restasse a própria vida.

Estranhava em ouvir a dominadora de lava falar sobre a falta que fazia uma técnica para aumentar a temperatura do ambiente, pois para ele, tudo que se baseasse no calor era igualmente quente e mais do que o suficiente para isso. — É, né! A sua seria perfeita para isso se não derretesse tudo que se aproxima.  — A respondia, sorrindo e concluindo que o Youton não era adequado simplesmente por ser quente demais. O frio não lhe incomodava tanto pois passou boa parte da vida acostumado em receber a temperatura natural de onde vivia diretamente no próprio peito, desnudo de camisetas e constantemente lidando com o calor do dia e o frio da noite diariamente.

Ao contrário do Tsuchikage, o incômodo da Pandora perante o clima atual era mais do que visível. No momento em que a mesma passou a observar o mapa, Kaginimaru, com a mão que estava desocupada, passaria o próprio chapéu de líder da vila para a cabeça dela, buscando assim amenizar qualquer desconforto momentâneo que a mesma sentisse. Não se importava em compartilhar da veste mais importante de Iwagakure com uma aliada, pois além de saber que estava seguro, no fim das contas seria como se ainda permanecesse consigo, servindo também para um propósito muito maior. Finalizaria a pequena troca penteando o próprio cabelo com a mão, desamassando os fios que nesta altura já se encontravam cansados de lidar com o abafamento causado.

Não se interessava muito por mapas, mesmo extremamente ciente de ser algo totalmente necessário, mas admirava sua amada o analisando, grato por tê-la guiando o caminho sem que o jovem precisasse interferir em absolutamente nada. Confiava cegamente nela e sempre tinha certeza que as tarefas na qual Pandora se responsabilizava sempre terminavam com êxito.  

Considerações: