O dia estava quase acabando - literalmente, quase dando meia noite. Nas ruas, podia se ouvir de qualquer lugar da Folha as comemorações, festas, reuniões, pessoas conversando, gente nas ruas, fogos estourando no céu como prelúdio para a grande comemoração da virada, entre tantos outros sons. A alegria parecia realmente estar no ar, visto que aquela época do ano quase todos paravam tudo que estavam fazendo para festejarem e comemorarem. Quase como se o mundo parasse para que eles pudessem brindar um momento utópico, que no dia seguinte seria completamente esquecido. Bom, ao menos para quem tem com quem comemorar e se alegrar, isso poderia ser algo bom. Mas, para Squall, era apenas mais um dia. Diferente de todos aqueles que podiam ser vistos e ouvidos nas ruas, o rapaz não tinha ninguém; nem família, nem amigos, e recentemente, nem seu mestre mais. A solidão servia para ver aquela época como era; apenas outro dia na vida de um Shinobi. E foi por esse exato motivo que ele voluntariamente se ofereceu para o serviço militar naquele dia, mais especificamente à meia noite do dia, sabendo que era um momento em que ninguém iria querer estar lá, então poderia realizar o serviço ode guarda sozinho, como gostava de fazer.

Passou pelas turbulentas ruas caminhando sozinho, com seu olhar baixo e as mãos nos bolsos. A correria e gritaria em volta eram realmente incômodas, mas o Uchiha optava por ignorá-las. Sua mente divagava em seu mundo interior, como de costume, enquanto mantinha-se no trajeto, acelerando o passo para não perder o horário do serviço. Ao longo da avenida, finalmente avistou a entrada para a guarita de vigia, acoplada ao muro da Folha. Subiu as escadas calmamente, agora mais distante da euforia e alto barulho das pessoas no Centro da Vila. Ao pisar na plataforma de entrada para a sala onde ficaria pelo resto da noite, colocou sua mão sob a maçaneta da porta, e assim que a girou, um som lhe trouxe um leve choque de realidade.

"Não estou sozinho" - Pensou, parando antes de abrir a porta, suspirando.

Adentrou o local em seguida, ouvindo tudo que o outro havia dito antes mesmo do Uchiha entrar no local. Correu o olho pela parede até avistar o papel pendurado no mural, e constatou; não iria prestar o serviço sozinho. Deixou um breve momento de silêncio após as falas do outro, e então respondeu, com seu olhar neutro de sempre.

- Squall.

Informações:

Assim que a maçaneta virou e a porta se abriu, o rapaz ouviu o outro imitando ele em sua brincadeira, e logo em seguida caindo em uma alta e forte gargalhada, que chegou à ecoar dentro da sala da guarda. Certamente a esperança de que poderia ficar sozinho ali havia ficado do lado de fora da porta e indo embora. O rapaz suspirou, e, como costuma fazer, deixou o outro falar enquanto ficava em silêncio. Deixou ele prosseguir enquanto misturava uma apresentação própria com mais brincadeiras. Enquanto isso, o Uchiha apenas olhava em volta, procurando se acomodar, sabendo que a noite seria longa. Assim que a primeira pergunta veio, o rapaz apenas suspirou, se recostando na parede atrás de si, de braços cruzados e olhos fechados, deixando um breve silêncio antes de responder.

- ...sim. - Foi curto e objetivo, não se dando ao trabalho de perguntar o mesmo, visto que o tal Treze mesmo havia se identificado como um ninja recém formado, um Genin.

Um som alto de estouro chamou a atenção do rapaz, mesmo que brevemente, do lado de fora da guarita. Ele voltou seu olhar apenas por um momento para lá, e logo abaixou seu rosto novamente, com seu semblante fechado habitual, na mesma postura na parede de antes. Mais uma vez, o outro ninja se entregou às palavras, contando uma história dobre o motivo de estar ali, e tagarelando sobre coisas da vida. Enquanto ele falava, como de costume, o Uchiha se perdia em seu mundo interno.

"Injusto? A vida é injusta. Não existe justiça nesse mundo. Só o que se pode fazer é aceitar o que vem. Você mesmo disse. Somos ninja. Ninjas não reclamam das circunstâncias. Aceitam, engolem, e seguem em frente" - Ponderou mentalmente.

O rapaz continuou falando mais algumas coisas, e tudo que Squall fazia era falar consigo mesmo em seu isolamento interno.

"...ele com certeza gosta de falar" - Pensou novamente.

Foi quando a última pergunta veio que o rapaz se obrigou a deixar o silêncio e finalmente se manifestar.

- Achar que estaria estaria sozinho - Disse, olhando mais uma vez para fora.

Informações:

O outro rapaz parecia realmente motivado pela data festiva. Comentou algumas vezes que gostaria de estar lá embaixo, aproveitando. E parecia achar que isso era generalizado, visto que disse achar que estaria sozinho também. O mais velho ouviu atentamente a próxima declaração do parceiro de guarda, que falou sobre ninguém passar aquele momento sozinho.

Era quase engraçado com os dois podiam ter visões tão diferentes sobre um assunto tão banal. O comentário sobre guardar coisas demais, no entanto, era bastante preciso. Embora não expressasse, por dentro o rapaz se viu obrigado à reagir. Embora não fosse o melhor estilo de vida, era o jeito que ele havia encontrado de viver e se manter seguro. Levantado-se de seu escoro, o rapaz foi até a janela, pensando em tudo que o outro havia dito sobre ele. Deixou um momentâneo e confortável silêncio seguir antes de responder.

-Talvez - Disse, apoiando-se sobre os braços e olhando para o céu.

De repente, uma sequência de estouros coloridos rompeu em todo o céu visível, cobrindo todo o horizonte em cores, fazendo daquele o único som audível por vários minutos. O outro Genin se debruçou na janela, aproveitando a vista privilegiada dali, claramente apreciando o momento. O Uchiha, embora não fosse grande fã, observou as celebrações e festejos dali, em silêncio, com seu olhar sério de sempre. No canto de sua boca, quase foi perceptível um leve sorriso. Quase.

O dedo apontado do outro lhe chamou a atenção de volta à realidade, mudando seu semblante junto. Um dia, provavelmente estariam lutando juntos para defender aquele lugar, não só talvez. Ergueu seu rosto, deixando o vento balançar seu cabelo sobre o seu rosto, lembrando dos seus próprios motivos para ter começado a caminhada Shinobi. O restante da declaração do mais novo, entretanto, lhe devolveu o olhar sério de antes. Era um dia como qualquer outro para ele, mas para os outros não talvez, uma vez só, não faria mal ser recíproco com esse tipo de coisa.

- Feliz ano novo - Disse apenas, se virando e deixando a janela, encontrando um canto para se acomodar - Vai, eu fico aqui e relato que fizemos a guarda - Indicou para o outro ir para suas tão desejadas comemorações que certamente ainda durariam a noite inteira.

Enquanto falava, pegava ainda no ar a maçã oferecida pelo outro, agradecendo apenas com um aceno de cabeça. Alguns costumes não mudam nunca.

Informações: