A kunoichi ainda pensava em sua última missão em dupla com o antigo colega de academia e em como ela não tinha condições de motivar aquelas crianças. Tinha certeza absoluta que não teriam conseguido passar por aquilo, não fossem as palavras do inútil usuário de taijutsu. Balançava a cabeça negativamente, ainda deitada em sua cama, com os olhos fixos no quadro em que estavam retratados seus pais com ela, na primeira infância.

Levava as duas mãos ao rosto, tampando-o para que tudo se tornasse escuro. "Não sei porque isso teve que acontecer... Vocês morreram de forma ridícula por achar que poderiam fazer a diferença com algo... Por pensarem assim, me deixaram sozinha. Gostaria de ver o que me diriam agora... Mãe... Pai..." Tudo indicava que a garota ficaria ali por muito tempo, mas não poderia. Tinha obrigações, não como ninja. Desta vez, algo diferente exigia sua atenção.

Era mais um dia e Pandora tinha ficado reclusa em sua casa para ler a grande quantidade de livros deixada pela líder do Culto. A leitura, por ser tão densa, era ligeiramente cansativa para qualquer um e, mesmo se sentindo pessimista, a kunoichi buscava ver aquilo como um verdadeiro desafio à sua racionalidade. Com isso em mente, ainda de pijama, tratou de higiene matinal e foi diretamente para a sala, onde leria tudo que precisava naquele dia extremamente quente de verão.

Efetivamente, ensinamentos no uso da Kekkei Genkai da família da kunoichi eram e seriam úteis à vida dela, certamente. As horas se passavam e sua leitura avançava constantemente, já passando a ter ideias de que poderia terminar aquele livro naquela assentada. Entretanto, sem que esperasse ou quisesse, ouviu as batidas na porta. "Mas que droga, agora que eu consegui um tempo para me focar nesse livro... Quem será? Bom, talvez eu finja que não estou aqui e a pessoa vá embora..." Seus pensamentos foram interrompidos com novas batidas, mas, desta vez, dada a insistência, se levantaria e iria até a porta.

Ao abrir, veria seu parceiro de treinos e de missões, Kaginimaru. Ela o olharia com frieza e não responderia ao cumprimento. Deixaria para responder apenas depois da pergunta feita por ele, ligeiramente incomodada. "Uma conversa séria?!" — Já que já veio até aqui, por que não entraria?  — Abriria espaço para ele entrar, antes de fechar a porta e caminhar novamente na direção da sofá, onde se sentaria. Não falaria nada, deixando seu livro sobre o colo, cobrindo as pernas antes um pouco expostas pelas vestes informais de um dia de folga em casa.

Sentada no sofá, olharia para ele e esperaria que entrasse no assunto, colocando os braços apoiados no livro sobre o colo para repousá-los e para cobrir as informações que pudessem ser observadas por ele nas capas.

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Pandora permaneceria alguns segundos olhando para Kaginimaru que visivelmente estava enrolando para entrar no tal assunto sério que queria tratar com ela naquele dia de folga. Na sequência, ela, meio distante, olharia para o livro e pensaria na resposta a dar para ele. — Isso é apenas um livro comum que estou lendo... Nada que seja relevante. — Surpreendentemente, poderia deixar transparecer algum afeto pelo conteúdo do livro, alisando a capa com sua mão dominante.

Realmente pensou em contar mais sobre a leitura para o garoto, talvez ele se interessasse em se juntar ao Culto a Rao, mas antes deveria consultar a líder daquela sociedade quase secreta que se reuniria em breve nas cavernas sob o vulcão próximo a Iwa. Contar ao garoto antes disso poderia lhes causar problemas, até pelo fato de não conhecer a personalidade de Rei.

Mas aquele pequeno momento de ternura foi rapidamente tomado pela frieza recorrente da kunoichi. A ignorância de seu parceiro em relação aos pais dela explicava muitas condutas dele em relação à opinião da menina sobre as motivações de ser ninja. — Eles estão mortos... — Responderia seca, cruzando os braços, abaixo da linha dos seios, e se encostando no sofá. — Morreram em uma sarjeta qualquer acreditando que estavam lutando por seu caminho ninja estúpido... — Ao contrário do que se podia imaginar, a garota não demonstrava tristeza ou raiva, apenas seu comportamento frio permanecia. Sua resposta já visava antecipar que qualquer outra pergunta relacionada aos seus pais não seria respondida, ao menos não por ora.

"Não acredito que ele veio até aqui hoje para falar sobre meus pais mortos... Ele não seria tão inconveniente a esse ponto. Além disso, isso nem é um assunto sério. O que esse garoto quer de mim a essa hora?" Seus pensamentos começavam a divagar sobre as reais intenções de Kaginimaru em ir até a casa dela, sem convite ou aviso prévio, o que a deixava cada vez mais intrigada e curiosa. — Mas, obviamente, você não veio até aqui para falar de literatura ou de pais mortos. Então... — Finalmente o questionou, esperando que o vácuo das reticências fosse respondido pelo mencionado assunto sério indicado na chegada.

Aguardando a resposta, a jovem ergueria os braços abertos e esticaria um pouco as pernas, se espreguiçando no sofá. Ao sentir o livro escorregando em seu colo, voltaria as pernas ao normal e agiria rápido para segurar o livro sobre o colo. — Opa... quietinho aí! —

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Ela simplesmente ignoraria o pedido de desculpas do garoto em relação ao que ele considerava alguma gafe. Na realidade, ela tinha plena consciência de que ninguém de sua turma sabia do que tinha acontecido com seus pais e, de fato, não se importava com a ignorância dos colegas. Apenas continuou observando as reações estranhas do parceiro, que parecia estar inquieto em determinados momentos.

Voltaria a cruzar os braços, mais uma vez, à altura dos seios, esperando ele entrar no dito assunto importante. Toda aquela enrolação começava a deixá-la ligeiramente incomodada. Odiava ficar curiosa com as coisas e as delongas já a perturbava. "Por que tanta enrolação? Vá direto ao ponto, garoto..." Pensava, pouco tempo antes de o shinobi entrar no assunto: Caminho ninja. A expressão de descontentamento era evidente e transparecia no rosto alvo da garota.

Mantendo-se bastante fria, arquearia a sobrancelha esquerda quando Kaginimaru se levantava entusiasmado. "Novamente exagerando em seus movimentos, não é mesmo..." Aguardaria ele dizer tudo que tinha e ficaria alguns segundos em silêncio, com a expressão um pouco mais fechada que o costume, antes de começar a resposta. Provavelmente, seria a maior resposta elaborada da jovem, mas o assunto o exigia. — Você realmente não entende, não é mesmo? —

Tratava-se, por óbvio, de uma pergunta retórica e Pandora não daria qualquer segundo para o parceiro responder. Fecharia os olhos e respiraria fundo, retomando a fala. — Não existe isso de caminho ninja... Ser ninja é um mero trabalho como qualquer outro... Você deveria parar de agir como uma criança ingênua e tola. Já devia ter crescido um pouco mais para entender como é a vida real... Não viva em contos de fadas ou acabará como meus pais... Mortos... — Levaria a mão esquerda ao rosto cobrindo-o por completo. Aquilo era o maior sinal de irritação que a Senhorita Heinstein poderia apresentar e Kaginimaru já sabia daquela informação de outras experiências.

Ao baixar a mão, voltaria o olhar muito frio para ele. — Aposto que seus pais te ensinaram que você tinha algum valor... Que está aqui por alguma razão. Meus pais me ensinaram outra lição... morrendo na sarjeta, sem motivo algum... — Finalmente, ela se levantaria e se afastaria dele, indo na direção da escada. Ao colocar o pé sobre o primeiro degrau, voltaria a olhar para ele. — Eles me ensinaram que o mundo só faz sentido, se você fizer o sentido... Quando você finalmente parar de pensar como uma criança tola, talvez entenda o que isso realmente significa, Kaginimaru... —

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O clima entre os dois tinha ficado bastante pesado, especialmente depois das respostas de Kaginimaru consideradas mal-educadas pela garota. Entretanto não o responderia por ver, claramente, que só poderia ser uma provocação barata e sem sentido vindo dele.

Cerraria os punhos, observando-o sair da casa. "Esse idiota, quem ele pensa que é para falar assim comigo... Amanhã mesmo irei ao gabinete do Tsuchikage para pedir que eu passe a fazer minhas missões sozinha... Esse idiota maldito..." Pensaria ao subir as escadas com passos exageradamente forte. Ao terminar, olharia para o andar inferior e respiraria fundo, se dirigindo ao seu quarto.

Soltaria o livro no chão e se deitaria na cama, exatamente como estava.   — Isso não vai ficar assim, eu garanto... Ele vai me pagar muito caro... — Dizendo aquilo, fecharia os olhos colocando-se a pensar em tudo que já tinha acontecido desde que ela se formou como uma gennin da Vila da Pedra. Foram muitas situação passadas até o momento que ouviu as palavras agressivas e grosseiras de Kaginimaru. "Obviamente que é um trabalho... Por que razão esse idiota acha que isso tem a ver com projeto de vida... Que vida, shinobis não tem direito a vida ou sentimentos... Isso é algo básico que qualquer estudante, mesmo os mais burros, sabem... Ele é tão idiota que chama de essencial treinar para ficar mais forte que um covarde inútil... Como se isso fosse torná-lo algo verdadeiramente útil... Ao menos tenho plena consciência das coisas e não penso como uma criança que perdeu o brinquedo favorito..."

Sobraria todo o ar de seus pulmões, abrindo os olhos para observar o quadro que retratava ela e seus pais em um momento efêmero de felicidade. "Estão vendo? Se não tivesse morrido pelo bem do povo dessa aldeia idiota, eu não precisaria passar por isso tudo... Vocês dois não se cansam de atrapalhar minha vida mesmo tanto tempo depois de mortos? O que me diriam agora? Que os ninjas precisam ter um caminho a seguir como essência de sua vida e morrer em uma sarjeta sem nenhuma razão séria para isso... Que estupidez, não existe isso de essência de vida... É um trabalho e o restante não interessa..."

Viraria de lado para olhar para a parede. — Mas ele concluiu bem... De fato, ele não é nada para dar pitaco em minha vida... — Não demoraria muito para dormir, haja vista a dor de cabeça que estava naquele momento.

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