Quando Pandora e sua seguidora estavam se aproximando, Kaginimaru já se encontrava dissociando da realidade. Apenas conseguia sorrir, pois a dor era tamanha que seu corpo não aguentava mais. Além das queimaduras fortes e profundas e do derretimento consistente de algumas partes, o Hachidaime Tsuchikage ainda estava totalmente dilacerado por dentro por conta dos esforços extremos com a abertura e liberação de tantos portões de chakra. O sermão dado possuía consistência, mas no fundo a jovem Heinstein devia saber que desistir não fazia parte do vocabulário de seu marido, e jamais faria. Ele apenas continuava sorrindo.

A dor de não ter lutado até o fim machucava muito mais do que o ardor que sua alma sentia em detrimento de todos os ferimentos recebidos. Estava muito mais machucado agora ao fim do que no instante em que lutavam, e isto não era questão de ego, mas sim de lealdade. Seus desejos internos envolviam sempre ficar mais forte ao ponto de ser invencível, tudo isto para proteger a própria família e a vila de qualquer mínimo perigo existente neste mundo. Um pensamento quase que egoísta e que beirava ao ego, mas estes eram os seus instintos masculinos falando mais alto.  

No momento da realização do Ninjutsu curativo, durante o toque, sentia como se sua alma fosse embora do corpo. Esbugalhava ambos os olhos inconscientemente, demonstrando parte da extrema dor que o movimento causava, mas logo as sensações foram lugar ao alívio de sentir a restituição das diversas partes de seu corpo, como se rapidamente estivessem crescendo de volta em um processo acelerado e insano de recuperação. Aos poucos retornava para a realidade e começava a respirar de maneira uniforme, recuperando até mesmo o fôlego que já fazia alguns minutos que estava sem. — Quer dizer então que você me mataria se eu morresse? — Ele comentava quanto aos dizeres da esposa no momento anterior, rindo de como a frase soava estranha e contraditória, embora entendesse bem o significado e a intenção dela em dizer aquilo. — Sabe, talvez eu prefira morrer do que perder a vida. — Concluía de forma séria e convicta. Em sua mente, existia um grande sentido nestes dizeres que talvez acabasse não ficando claro para Pandora, pois parecia uma simples frase idiota.

Considerações:

Quando se deu conta, não estava mais sentindo dor alguma por todo seu corpo. O processo de regeneração diante da técnica utilizada por Pandora se demonstrava absurdo, reforçando o quão excepcional sua esposa era na arte deste tipo de Ninjutsu — algo que Kaginimaru tinha plena noção, mas graças ao uso do Yang, seu potencial parecia estar muito acima se comparado com a última vez que havia sido seu paciente. Não somente suas técnicas de Iryōninjutsu, mas também todo tipo de vertente do Ninjutsu puro. Sua Kekkei Genkai de lava parecia queimar e derreter muito mais do que a última vez, seus projéteis estavam mais rápidos e possuíam alcances incomparáveis, além da capacidade de invocar seres extraordinários. Definitivamente a Heinstein havia evoluído muito mais do que o jovem Tsuchikage durante os anos que se passaram.

Sempre sorria quando a mesma o chamava de idiota, pois inconscientemente já havia notado que esta era sua mais pura e direta forma de demonstrar afeto, mesmo sendo naturalmente fria. A sequência do assunto trazia de volta para a memória tudo o que havia pensado durante o confronto e suas motivações; havia realmente sido extremamente inconsequente de receber propositalmente uma técnica que sabia ser sua fraqueza natural, ainda por cima enquanto outras partes de seu corpo estavam derretendo por conta da Kekkei Genkai em momento anteriores que não estavam nos planos do Hanma de ser atingido, mas tudo fazia parte do seu plano para tirar conclusões de suas próprias capacidades físicas. — Eu precisava testar minha nova técnica defensiva! Se ela funcionasse minimamente contra você, significaria que funcionaria totalmente contra qualquer outra pessoa neste mundo inteiro. — Relatava, bocejando um pouco devido ao cansaço e o sono desregulado por causas desconhecidas.

Quando a conversa entre as duas chamaram a atenção do Tsuchikage, ele também se relembrava de não ter plena noção do que Cammy era. — Você precisa me explicar melhor o que essa loirinha aí é... — Proferia com certo grau de curiosidade, afinal, ainda se perguntava como uma clone poderia estar durando tanto e sem estar próxima de sua "invocadora", que em tese deveria possuir a mesma aparência da loira. Além disso, mesmo arremessando-a para longe, ela simplesmente não havia sumido durante o contato do agarramento, algo que clone básico algum resistiria.

Considerações:

A explicação de Pandora acertava em cheio parte das intenções do Tsuchikage, mas não eram todas. Quando ele demonstrava interesse em aguentar seus inimigos, estes poderiam ir muito além do imaginado, desde seu próprio pai até pessoas que ainda nem mesmo haviam nascido; desejava cobrir todas as gamas de prazos possíveis, desde os mais curtos até os mais longos, não focalizando somente em um, embora seu anseio pelo imediato fosse tremendo ao ponto de quase se suicidar para visualizar o potencial da própria técnica. Sabia que as dores eram momentâneas, mas havia cometido um erro grave em não considerar que as dores do Youton cessavam apenas com a morte.  

A verdade era que este se tratava do maior princípio para alguém extremamente evoluído no Taijutsu. A intensidade cada vez tendia a castigar mais, mas nunca permitia que abatesse seu ego — esta era a principal característica para a grande maioria desta arte acabar desistindo, simplesmente não resistiam. Quanto mais se treina, mais difícil o progresso fica e somente quem luta sabe quanto cada avanço significa. Que fosse meio por cento, cada por cento, para o Hachidaime, era valor. Acima de tudo, queria a certeza de que era mais que no dia anterior. Uma rotina dolorosa, mas que alimentava sua autoestima ao ponto de se sentir capaz de realizar atos como o anteriormente feito.

Quanto a explicação sobre a clone, prestava atenção ao máximo sobre tudo e ficava incrédulo. Não sabia que um feito como estes seria possível, mas o potencial incrível de sua parceira fazia parecer que a criação fosse fácil e simples. Sabia que não era! E talvez este fosse o grande motivo para a dupla dar tão certo dentro e fora dos campos de batalha — Nós juntos somos a combinação perfeita mesmo... — Comentava ao ar, também se levantando. O dizer repentino talvez não fizesse muito sentido sendo observado logo de primeira, mas se tornava evidente em seu sorriso que estava orgulhoso da parceira. Kaginimaru também se levantava e então partia juntamente dela para casa, pois a cota do dia estava mais do que batida e já começava a sentir saudades de casa.

Considerações: